quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Homem das Flores




Wanderley vendia flores na feira. Antes disso, fora pescador, depois estivador, mas contraíra um sério problema na coluna e tivera de parar com este trabalho. Foi quando um amigo convidou-o a trabalhar nas feiras da zona sul, um trabalho relativamente leve para o que ele estava habituado.

Tinha um rosto muito marcado pelo sol de tantos dias em embarcações. Era um homem feio, mas com um porte atlético. Sua principal característica era ser um homem terno como as flores que vendia.

Joana era nova na vizinhança. Passou pela barraca de Wanderley e descobriu na alma do feirante o menino, e ficou encantada com os dotes físicos do homem. A partir dali, tornou-se muito simpática - coisa que habitualmente não costumava ser. Sempre pedia que Wanderley a ajudasse e dava gordas gorjetas. Não havia dia que ela não o requisitasse para algum pequeno serviço, alguma pequena ajuda e sempre tão generosa.

Num dia em que pedira para Wanderley ver uma infiltração na parede de seu quarto, coisa da qual Wanderley deixou logo claro que nada entendia, ela aproximou seu corpo do dele, tanto e tão perto que ele sentiu até o cheiro de mulher que dela emanava.

Alma simples que era Wanderley não pensou. Em cinco minutos estava montado na mulher, espantado, encantado e cheio de tesão. A mulher gozava por todos os poros. Nunca conhecera nenhuma tão solícita nem tão afoita. Avisou-a que precisava ir trabalhar, ela insistiu que ficasse, que o remuneraria por suas horas perdidas.

Wanderley custava a crer em tamanha sorte. Joana era uma mulher na força dos seus quarenta anos, firme, porém opulenta em carnes e gostos. Dela emanava toda sua história, que ele não conhecia, mas pressentia em seu desejo varão. Ao fim de seis horas, Joana estava finalmente saciada e ele, apaixonado.

No dia seguinte, Wanderley, como de hábito, postou-se na portaria de Joana, esperando que sua deusa aparecesse e pedisse que ele lhe carregasse o carrinho do supermercado, ou que lhe fizesse algum dos pequenos favores que ela sempre o requisitava. Ele sentia uma urgência em vê-la, olhar para aqueles olhos que só na véspera reparara serem cada um de uma tonalidade diferente de verde. Queria sentir novamente aquele mel que fácil jorrara de entre suas pernas. Tocar naqueles seios, um tanto murchos, porém com bicos tão arrepiados.

Estranhamente, ela não veio. Não veio no dia seguinte tampouco. Nem no outro depois daquele. Ele passou dias e dias rondando, perguntando por ela para seus porteiros. Ela simplesmente desaparecera.

Cada dia que passava, ficavam mais reais os lábios da mulher. Em vez de sua memória ir desvanecendo, foi ganhando detalhes. Via o sinal das costas, quando a botara de bruços e a cavalgava; Via os pelinhos do buço molhado de saliva. Mas, tirante estas horas em que sonhava acordado, enquanto se passavam os dias, de Joana nem sinal.

Wanderley desesperava. Ao cabo de algumas semanas, tinha emagrecido e passara a beber. Era um homem feio. Agora ele o sabia. Era um homem só. Ele que nunca se dera conta. Era um homem pobre. E isso era tudo.



dedicado a todos os que sabem amar e nunca entendem porquê o amor acaba

2 comentários:

Ane Brasil disse...

Puxa, que texto lindo!
mas tão triste...
minha alma simples gosta de happy end.
E se a gente mudar o final?
E se ele e Joana largarem tudo e forem viver num sítio em Maracangalha? (cultivando flores, é claro)?
Sorte e saúde pra todos!

Anônimo disse...

Minha amiga, esse texto triste é lindo...rs. FOi feito para o momento que estou vivendo. Obrigada.