domingo, 13 de novembro de 2011

Divagações de Domingo


Sim, a vida é surpreendente e se por um lado rola a invasão da Rocinha pela coisa mais pop da atualidade que é o BOP, por outro nascem potrinhos appaloosa em distantes rincões do país, pessoas se enamoram, outras têm filhos, outras adoecem e outras morrem. A vida é algo que flui e vive em gerúndio e paradoxo permanente.

As coisas estão sendo. E as coisas não têm definição exata. Cabe a nós cabermos em nossa razão tamanhas imensidões- que volta e meia não cabem. Volta e meia tem alguém que surta, que se desintegra. E no fim das contas, poucos de nós se arrojam a viver com plenitude e criatividade neste mistério que consiste ser. Ser sendo de verdade é para poucos. A maioria se contenta em repetir rotinas, em fazer julgamentos permanentes sobre si e sobre os outros, em ecoar uma coisa besta chamada opinião e se dar por inteligente porque tem opinião.

Ora, opinião é natural, mas é nada mais que um eco de tudo o que a mídia nos oculta e que os jornais descontextualizam e de acordo com os interesses políticos dos donos dos jornais e seus financiadores publicam. Se há uma coisa que jamais é realmente independente e criativa é a tal da opinião. Quem opina não se compromete com o que diz. Quem opina não pesquisa sobre o que diz. Quem opina não questiona se há evidências ou distorções dos fatos. Quem opina apenas engrossa uma massa eternamente manipulável. Exatamente por não se comprometer, não pesquisar, não problematizar aquilo com o qual se depara.

É fácil confundir democracia com este fato trivial chamado dar opinião. Alguém pode se considerar democrático por permitir a si opiniões que julga independentes e por se julgar capaz de respeitar as opiniões alheias. Acontece que democracia era algo referente a ação política do cidadão na polis. E ação era ação, não era ficar pensando que pensa sobre coisas que ouviu dizer sem ter a menor noção de se aquilo sobre o que pensa pensar realmente se deu como nos contaram que se deu. Ação política era a soma de coisas como atitude, gesto, questionamento, comprometimento, militância, criatividade, ousadia. Ser cidadão era exercer seus direitos e deveres na constituição da polis.

Hoje ninguém é cidadão. E acham que exercer cidadania é dar opinião.

Francamente, reclamar não é ser cidadão. Achar que alguém deve ser responsável e não se sentir responsável por nada não é ser cidadão. Ficar na chorumela achando que o problema são os outros, os políticos são canalhas, todos roubam e são imorais é de uma incrível imoralidade. É imoral reclamar tanto tendo tantas possibilidades de atitude, de ação, de gesto, de tomada de posição. É imoral falar que estamos vivendo uma guerra sem jamais ter posto o pé numa guerra e sabendo o que é realmente viver numa guerra. E, principalmente, é muitíssimo imoral falar de moralidade e não ver quantas vezes se fura a fila, se molha a mão do flanelinha, do despachante e como cada um de nós, por nossa escolha, podemos estar alimentando a máquina onde a corrupção se engendra.

Cada um de nós, na medida das possibilidades e impossibilidades de cada um, é mais ou menos corrupto. Se sendo pequenos e tendo poucas oportunidades de sermos mais corruptos, mesmo assim, enganamos, tripudiamos, nos omitimos e somos corruptos, como é que podemos ter tanta certeza que se estivéssemos em posições de poder não nos corromperíamos ainda mais que estes a quem chamamos de corruptos?

Pessoalmente, evito encher minha boca e falar de moral. E apesar de ser opiniática como toda minha geração FAcebook-compartilhe-o-que-está-pensando, não me levo a sério. Só me levo a sério quando ponho a mão na massa, quando pesquiso, quando me comprometo, quando estou realmente por dentro daquilo sobre o que digo. No restante, sou alegre. O que já é bastante bom.

Bom Domingo.