domingo, 28 de dezembro de 2014

votos para 2015

Em 2015 erre

erre de novo

erre uma vez mais

troque as coisas de lugar

surpreenda-se com o outro lado da calçada

choque-se com a mesmice

dê um peteleco na normalidade

a cambalhota é sinal da dança
o ser humano foi feito para dançar
até as pedras rolam quando têm oportunidade


sábado, 29 de novembro de 2014

filhos da fantasia

Quando conhecemos as pessoas fantasiamos sobre elas. As pessoas que não vamos com a cara, fantasiamos coisas ruins. As que curtimos, coisas boas. Mas acontece que são fantasias, projeções nossas, nós mesmos travestidos de outras pessoas.
Aos poucos a gente deixa de ver a gente mesmo (nossas projeções e fantasias) para ver finalmente o outro, como ele(ela) é. Por isto as grandes decepções. O outro é mesmo outra pessoa e não a gente. Tem suas próprias prioridades, suas próprias qualidades e defeitos.

É claro que as pessoas também mudam com o tempo (e principalmente com terapias) mas elas só mudam dentro daquilo que elas mesmas são capazes de ser. Uma pessoa que foi hippie na juventude pode virar um grande homem de negócios mas se gostava de arroz integral continuará gostando e se adorava acampar vai continuar tendo preferências por tudo o que a levar ao contato com a natureza. Passa a usar outras roupas, outros códigos de linguagem, mas mantém os gostos- se estes tiverem sido verdadeiros e não pura imitação, modismo.

Ninguém se desapontaria com ninguém se simplesmente visse isto. A gente não vê porque somos filhos das fantasias. Fantasiamos tudo. Então achamos que o tempo é que muda as pessoas ou que elas se revelam com o tempo. O tempo traz rugas isto sim. Mas não faz quem não gosta de peixe passar a gostar. Mudarem invólucros, maneirismos, discursos não é mudar de verdade, é assumir os estilos da época que se vive. É adequar-se aos tempos, onde sempre há modismos e reviravoltas pelas descobertas que só se tornam possíveis com o desenvolvimento das tecnologias.

Mudar da água para o vinho só na senilidade. Ou no surto psiquiátrico.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

modo-menino

no sonho ele via ilhas

e as estrelas ainda dormiam

no sonho ele era um menino

aprendendo a nadar

sua mãe sorria

e tapava os seus olhos

para que continuasse ali

sem sustos

Ps: uma homenagem a Manoel de Barros falecido hoje :(


Modo-Medo

"Ontem eu não devo ter acordado com um pé esquerdo e sim com os dois. Você não imagina o que aconteceu. Uma mulher no metrô cismou que eu estava olhando pro namorado dela, veio pra cima de mim, me bateu, tiveram que vir os seguranças do metrô e eu nem estava olhando na direção deles"- ouvi esta fala enquanto ia para o consultório. Uma moça que vinha atrás de mim, falando no celular narrava sua caótica experiência.

Olhei para ela. Uma moça jovem, sem nenhum traço mais particular, simpática, bonitinha. Não se parecia com uma mulher fatal que provocaria invejas e ciúmes nas demais nem com uma sirigaita que roubaria namorados de outras descaradamente no metrô. Ela percebeu que eu tinha ouvido a conversa (estávamos andando muito próximas) e rapidamente conversamos. No fim ambas tínhamos concluído que as pessoas estão muito estressadas, vendo cabelo em ovo e partindo para o ataque com ou sem motivos reais.

Conforme ontem escrevi rapidamente, a partir do momento que começamos a ter medo ou ansiedade, nosso cérebro deixa de se referenciar pelos pensamentos lógicos para se basear completamente nas emoções. E aí tudo que vemos/lemos/fazemos se torna mais uma evidência de que estamos em perigo- mesmo que pelo contrário, estejamos completamente a salvo. Quando estamos no modo-medo de funcionamento o médico te diz que "seu tumor é benigno" e nós entendemos que " é algo pior que um câncer e vai me matar": automaticamente.

Analisando estes fenômenos por um outro lado, por que todo mundo pára para ver o morto no acidente de trânsito ou ri das vídeo-cassetadas? Porque cada vez que acontece uma desgraça com um semelhante nós nos sentimos extremamente aliviados que a desgraça foi com o outro, não conosco. Por isto ficamos olhando embasbacados pro morto ou rimos feito uns panacas do cara que caiu de cara no chão em vez de na piscina na vídeo cassetada do Faustão (ainda tem isto no programa do Faustão? Ainda tem Faustão? Eu parei há anos de assistir).

Aprofundando a conversa, é muito interessante se colocar uma população inteira no modo-medo ou modo-ansiedade. Pessoas levadas por emoções, sem capacidade de avaliar perigos reais ou imaginários, perceber se há evidências concretas que validem ou não suas fantasiam são fáceis de serem manipuladas e levadas a fazer qualquer coisa.
Então, antes de mais nada, nesta quinta feira do ano de 2014, exceto se você estiver sob reais tiroteios, dê uma boa olhada à sua volta. Nas cidades há poucos passarinhos, mas eles ainda cantam. Ouça a algazarra das crianças. Sinta a brisa (se houver) ou sinta o calor. Perca a ilusão de que pode controlar tudo que só te faz ficar mais ansioso ainda. Simplesmente se dê conta de que estar vivo é uma grande benção.

domingo, 12 de outubro de 2014

utilidades

ter olhos para ver
ter coração para sentir
ter pernas para andar
mãos para pegar
uma mente atenta e forte
acreditar na vida antes da morte
ser suficientemente viva
para jamais desistir
sem antes fazer o melhor possível
e amar muito porque é para isto que se tem um coração

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

poesia boa

A poesia é boa quando dá onda
é excelente quando você começa o poema e termina molhado
se ficar bronzeado melhor ainda
a poesia é uma praia
na ilha chamada imaginação

sábado, 6 de setembro de 2014

quase esqueço

Cada dia que de ti me despeço

me despedaço

mas há muito de aço em mim

por isto resisto

e quase me esqueço

que o coração ainda é carne

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

As Boas Pessoas

Sábado estava atrasada. Detesto chegar atrasada, seja no trabalho ou no lazer. Lembro de ter pago o taxi e sair correndo rumo ao meu ponto de encontro. Lembro das coisas que conversei, mas não lembro das coisas que fiz. Tomei um café e comi uma pequena torta. Na hora de pagar percebi que havia perdido minha carteira com todos os cartões e mais um dinheiro. Procurei em todos os lugares. Nada de cartão. Bateu uma adrenalina. Medo, pânico. Fantasias de falência, cataclisma a estibordo.


Quando cheguei em casa, liguei para todos os bancos imediatamente, bloqueei todos os cartões. No domingo, cada vez que passava por um caixa eletrônico meu olho ficava comprido e eu nostálgica. Tinha dinheiro, mas o dinheiro estava no banco, inacessível, tão longe, tão distante, que simplesmente o fato era que eu não tinha um centavo. Lembrei da minha juventude onde este estado de não ter dinheiro era permanente. Como é terrível não ter dinheiro, não poder comprar um chiclete, nada.


Para piorar, era exatamente no fim do mês, todas as contas venceriam nesta semana. Como é que eu iria pagar minhas contas sem cartão? Até o cartão com os números estava na carteira. Não ia dar para pagar nada. Vi meu nome sujo na praça, pessoas mostrando dentes para mim, eu chorando e dizendo “sou inocente, eu quero pagar só não sei como.


Aí para completar, meu filho ficou me falando de várias coisas que ele havia me dito naquela tarde e eu não lembrava de bulhufas. Todo um período em que eu simplesmente pulei, zero de consciência, lapso. Lembrei que na semana anterior havia esquecido meu celular numa banca de jornal. Pensei em todos os diagnósticos deste tipo de lapso da memória. Dois episódios. Horror: devo estar doente, pensei. Frio na barriga. Uma da manhã mandei recado no whatsapp para duas amigas. Será que estou com o Alzheimer?


Comecei a fazer reflexões mais abstratas para me tirar do pânico. Faz algo em torno de dez anos que os cartões de débito e crédito passaram a ser usados amplamente no país. E já não podemos mais viver sem eles. Tão práticos. Melhor só se bastasse a biometria. Fiquei pensando que se fosse só biometria ninguém mais perderia cartões, ninguém mais roubaria cartões. Irritação por viver no tempo que se precisa dos cartões. Queria estar no futuro.


Domingo estas duas amigas me acudiram, me levaram para ver Lucy, me deram amor, carinho e lanchinho. Ambas me falaram de situações em que elas tiveram lapsos feito eu. Sosseguei finalmente.


A semana começaria aborrecidíssima mesmo assim. Segunda feira amanheci no banco, fui falar com minha gerente, ela nada poderia fazer, me orientou para ir nos serviços de atendimento e no caixa para pegar dinheiro e pagar as contas. Obedeci, fazer o quê. Horas e horas na fila esperando para ser atendida. Levei o livro do Cortázar para ficar um pouco surreal meio à realidade inóspita. O que mais me faz falta hoje em dia é tempo e eu ali, horas e horas numa fila chata de banco.


A gente se acostuma com tudo. Pelo menos não tive de ir numa delegacia porque minha carteira de identidade não estava junto dos cartões. Ponto para mim por ter um tiquinho de juízo. A semana foi passando veloz.


Um certo mau humor permanente porque detesto perder dinheiro. Costumo ganhar, gastar, perder nunca. Mas tudo ok. A semana seguiu.


Hoje, quinta feira, fui correr, fazer aula e quando voltei haviam muitas ligações registradas no celular. Liguei para os números, era uma agência do meu banco. Ainda sem saber quem havia ligado, imaginando que poderia ser um paciente que trabalha no banco, deixei recado.


Daqui a pouco, liga um funcionário desta agência, um rapaz, voz de jovem mesmo. “A senhora perdeu sua carteira?”, respondi que sim. Ele então me disse “sua carteira foi encontrada está com a moça da banca de jornal”. Falei “que sorte”. Ele: “a senhora não imagina quanto, pois não apenas sua carteira com os cartões foi devolvida como tem dinheiro dentro, muita sorte mesmo”.


Rumei para o banco imediatamente. O jovem que me atendeu muito simpático, me levou até a banca de jornal onde estava esta senhora. Ela me contou que um homem viu a carteira no chão, levou para sua banca. Ela por sua vez, percebeu que havia cartões do meu banco, conhecia este rapaz que trabalhava nele, foi a ele avisar do acontecido. Ele por sua vez checou no sistema, descobriu meu telefone e pronto, lá eu tinha minha carteira com 200 reais e todos os meus cartões do jeito como os perdi.

Foram três pessoas honestas. O homem anônimo que encontrou a carteira no chão. A senhora da banca de jornal. O moço do banco. Qualquer um deles poderia ter levado um troco, poderia ter mentido que já havia encontrado assim. Mas não. Agiram com toda a honestidade.

Acho que faltam notícias como esta no jornal. Devem existir várias pessoas honestas por aí afora. Pessoas que fazem o bem, não importa a quem, pessoas de bom coração.


Somos diariamente bombardeados por um monte de más notícias. Por que não existem repórteres fuçando as boas notícias? A quem interessa o medo, a desconfiança, o ódio?


O que sei é que passar por algo assim como o que passei hoje me encheu de alegria. E esperança. Sim, há boas pessoas no mundo. Estou entre elas. Posso ficar tranquila.


Estou com um sorriso no rosto. Gostaria de espalhar alegrias na cidade tão cinza, tão triste. Obrigada a você, pessoa que não me conhece, mas sempre me respeitou. Amor é isto também: solidariedade. Obrigada por existir. Desejo-lhe toda a felicidade do mundo.

o melhor da arte é chamado de poesia, mas os pobres poetas perdem seus dentes

Quando alguém quer elogiar muito à uma foto diz que o fotógrafo é um "poeta". O mesmo se for uma linda pintura, uma incrível coreografia etc. Todas as artes se apropriam do termo poesia quando querem dizer que algo é muito bom. Curiosamente, os poetas propriamente costumam ter nos seus saraus só outros poetas. Editoras recusam livros de poesia porque não vendem. Sarau cheio é sarau que rolam aqueles poetas estilo Maite Proença e Fulano de Tal ilustre que as pessoas vão porque querem estar entre gente famosa.


Os poetas de verdade costumam ser meio exóticos, muitos são duros de marré de si se só forem poetas.


Esta coisa de sarau cheio ou evento artístico cheio no mundo das artes é mais pelo desejo das pessoas de estarem entre os famosos e o pipocar dos flashes. A real é que sem subsídios do governo, a maioria das peças, filmes, exposições não estariam em cartaz porque não tem público que banque a existência de nada disto. Há filmes, peças, exposições etc fabulosos com quase zero de público. Entretanto....Todo mundo quer ser artista!


Na verdade, pouquíssimos querem de fato ser artistas porque o que a maioria deseja é ser artista famoso. Querem o glamour de aparecer no jornal. Mas artista só fica famoso ou quando realmente é ótimo ou quando é parente de alguém importante. Conclusão: o mundo é pitoresco.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Brincando de brincar

Tem dias que acordo flor
outros que acordo abelha
outros que não acordo nada
me estico no sonho
e como uma mariola
nada mais saboroso do que mariola
olhando nuvem e passarinho de bom humor
Estou me exercitando para acordar baleia
quero muito jogar água em todo mundo
a melhor poesia sempre foi a brincadeira de criança

domingo, 24 de agosto de 2014

A Natureza e Eu

Max Jacob respondendo a um convite para passar o fim de semana no campo, entre estupefato e apavorado:"O campo? Este lugar onde os frangos passeiam crus?".

Esta é uma citação de Julio Cortázar em Um Tal de Lucas, no capítulo que se chama Lula, Suas Meditações Ecológicas. Cortázar diz que uma paisagem, um passeio no bosque, um mergulho na cachoeira, um caminho entre as pedras só podem nos preencher esteticamente se temos a garantia de regresso à casa ou ao hotel, ao banho lustral, o jantar e o vinho, a conversa à mesa, o livro ou os papéis, o erotismo que tudo resume e recomeça. Ele diz duvidar dos admiradores da natureza que de vez em quando descem do carro para admirar o panorama, dar meia dúzia de pulos entre os penhascos, ou "esses escoteiros vitalícios que costumam deambular sob enormes mochilas e barbas desaforadas" cujas reações são monossilábicas ou exclamativas, onde tudo parece consistir em ficar repetidas vezes estupidificado diante de um morro ou de um pôr do sol que são as coisas mais repetidas que se pode imaginar.

Ele chama nossa época de um "retorno despenteado e turístico à Natureza, em que os cidadãos veem a vida do campo como Rousseau via o bom selvagem". Ele fala que os civilizados mentem quando caem no devaneio bucólico porque se faltar "o scotch on the rocks às sete e meia da tarde" estes irão amaldiçoar o momento em que deixaram suas casas para vir padecer mutucas, insolações e espinhos.

Achei isto tudo muito engraçado. Sou meio que nem Cortázar e Max Jacobs embora não tenha problema com os frangos correndo crus e de me faltar scotch on the rocks. Mas se eu ficar sem um livro bom, sem internet, sem uma loja de belos artesanatos, sem meus banhos e principalmente sem minha máquina fotográfica irei ser soterrada sob o tédio profundo.

Quando estava grávida, meu companheiro me levou por uma linda trilha em Arraial do Cabo para me mostrar o que ele chama de O Templo. Lá fui eu, meio titubeante, não gosto de ficar pulando pedras em despenhadeiros, mas sabe como é, o amor e tal, eu já tinha comido sushi para fingir que era adulta (eu gosto de pudim, chocolate, sorvete, batata frita, picadinho não de peixe cru) por que não iria ao tal do Templo? Fui.

Cheguei lá, olhei um pouquinho, depois disse "vamos embora? Não tá acontecendo nada". Meu companheiro me olhou chocado. "Como assim, nada? Veja este lugar, veja o pôr do sol". Eu olhei. Realmente, divino. Mais cinco segundos. "Podemos ir? Aqui tem formiga".

Sou legítima herdeira de minha avó. Minha avó tinha pesadelos com vacas bravas perseguindo-a no campo. Ela havia morado numa fazenda a vida toda e gostava era de visitar cidades, não estes lugares bucólicos que já a haviam enchido toda a infância e a adolescência.

Quando visito florestas, tenho pânico de cobras e não consigo dormir com os mosquitos. Acho lindo. Pago uma fortuna para ir a estes lugares. Mas confesso que jamais viveria lá. É para fazer fotografia e turismo. Viver eu gosto mesmo é de viver no meu Rio de Janeiro bem poluído, bem cheio de gente, muita confusão e muitas salas de cinema, ah, sim, muitas salas de cinema alternativo inclusive. Adoro ver paisagens de lugares exóticos. Ver no filme é mais barato e não tem mosquito nem cobra

Sexo depois dos 40, dos 50, dos 60

Hoje ainda é sexta feira. Assunto espinhoso: sexualidade após os 40 anos, sexualidade após os 50, sexualidade após os 60, na verdade, sexualidade sempre.

Nós humanos somos assim: muito antes de podermos reproduzir, já temos sexualidade. Muito tempo depois do tempo de reprodução, ainda somos seres sexuais.

É muito cômodo o papo de a mulher na menopausa já não ter desejo sexual.

Este papo é furado.

Nós mulheres temos tanto desejo quanto os homens e nosso desejo, tal como o dos homens, vai até o túmulo.
O fato do desejo sexual feminino ser diferente do masculino (é mesmo muito diferente) não quer dizer em absoluto que nosso desejo é menor.

Diferente é diferente.

O desejo nos acompanha muito além do tempo de procriação e se por acaso muitas mulheres abdicam do seu desejo e fazem questão de afirmar que não sentem mais tesão isto quer dizer que estas mulheres se renderam à uma espécie de exigência social. A mesma exigência que manda que mulher se case virgem, que seja discreta, que seja passiva em vez de ativa na conquista sexual. A mesma exigência que fala que a velha é feia e o velho é bonito. Render-se a estes paradigmas sociais é render-se aos preconceitos.

A velha senhora pode desejar sim. Pode desejar até o último dia de sua vida. Pode gozar- sem viagra- até o último dia de sua vida. Basta a ela sua fantasia. É bom trazer as crianças para a sala. Encarar o fato de que estas velhas senhoras, se puderem, se tiverem oportunidade, darão beijo na boca sim. E serão belas sim- belas de um outro jeito. A vida toda somos belos de muitos jeitos. A velhice é só mais um destes jeitos. Nem mais nem menos.

domingo, 17 de agosto de 2014

menina de luz

foi a luz que iluminou a menina
ou a menina que iluminou a sala?

eu acho que a luz era amiga da menina
foram juntas distribuir alegrias
e coisas impossíveis em flor


sábado, 16 de agosto de 2014

A Linda Astronauta

a astronauta era magra e linda
triste e seca
branca feito o prato
onde se via apenas o comprimido
comprimindo sua fantasia
matando de fome sua imaginação
as sujeiras ficaram para trás
não mais máculas
não mais dráculas
nem cadáveres
nem micróbios
ah a vida sem erros
ah a vida sem pecados
ah que vida chata- Cynthia Dorneles

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

homens poligâmicos ou monogâmicos: não é a questão

Já conheci um cara que namorava 4 mulheres ao mesmo tempo e era gentil, amável, solidário, companheiro, não humilhava nenhuma, pelo contrário, só as fortalecia. Trinta anos depois, este homem e suas ex namoradas são todos ainda amigos porque ninguém se sentiu lesado na relação. Já conheci um cara que namorava 4 mulheres ao mesmo tempo e era oportunista, egoísta, metido a esperto, mentiroso, fazia questão de humilhar às 4 e só fazia estrago por onde passava. Trinta anos depois, este cara parece um velho, está sozinho, cínico e amargurado. Também já conheci um cara realmente fiel que é gentil,solidário, companheiro e só faz da sua esposa sua princesa. E já conheci um cara monogâmico que bate na mulher, trata ela mal e só a deprime. Conclusão: o problema não é um homem ser poligâmico ou monogâmico. O problema é se o homem é capaz de amar às mulheres ou não.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Zeus e Xango

as gotas pingam
a flor sorri
sorri também a árvore para o gato
garças pescam na chuva
vento tremula minhas cortinas
tenho vontade de dançar com elas
qual será o nome do Deus da chuva?

domingo, 3 de agosto de 2014

muitas letras

nós gostamos das letras impressas no papel
uma palavra que junta com outra palavra
dançam todas na ciranda do tempo
e entre as persianas
o sol beija a cada livro
às vezes aquele sisudo senhor
aboletado em seu próprio saber
é o menino a brincar com seus dragões
- os dragões não cabem mais nas cidades
só nas páginas dos livros

sábado, 2 de agosto de 2014

Rio de Janeiro-Lisboa

Por morrer uma andorinha não acaba a primavera
Seguiremos atlânticos
Ibéricos translúcidos
Satânicos higiênicos
Na cadência das estrelas mudas
Sobre nossos céus inclementes
O fado e o samba demonstram
Que nem tudo tem solução
Mas a beleza resiste
Frágil e insistente
Sobre o cínico
E sobre o avaro
Desejo de mandar
Sim
Nós somos
Um presente que transcende ao signo
E floresce caos
Poesia sem fronteiras
Feita de sangue suor lágrimas
E um invencível desejo de sorrir uma vez mais

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Deus-Pacotinho



Pílulas coloridas devolvam minha fé
Caixas da Johnson da Medley da Merck
me tornem saudável
Não vou gastar em terapia
isto não tem garantia
Não vou perder meu tempo
Olhando o céu
com cara de pastel
Vou tomar meu remedinho
Vou ficar bem bonitinho
pra consulta com o doutor
ele é quem sabe de mim
não minha mãe nem meu pai
nem meu filho nem meu marido
nem minha esposa nem meu vizinho
Eu sou muito mais espertinho
Venha a nós ao vosso reino
Em nome da Ciência
da Farmácia
da Neoglobalização Amém

domingo, 27 de julho de 2014

Haikai da Baía de Guanabara na Chuva



A coisa fede
A pessoa nada
O urubu saltita

quinta-feira, 24 de julho de 2014

a parir mulheres

Nunca tive uma filha. Mas faço nascer mulheres. Não sou ginecologista. Sou psi. Faço-as ver que não há mal algum em ser mulher, em ter prazer, em viver orgasmos múltiplos ou até mínimos orgasmos. Se desejam ter um(a) amante, não será de mim que ouvirão condenações. Não. De mim verão entendimento. E aceitação. Se desejam casar, eu as acompanharei e encorajarei a serem antes de mais nada quem elas mesmas são e vestir aos próprios sapatos em vez de fazer caber os pés nos sapatos alheios. Isto nunca dá certo. Se desejam ficar sós, descobrirei boas leituras, bons lugares para viajar em paz com o próprio umbigo. Toda viagem é uma viagem feliz, até quando há lama no caminho. Importa o caminho. Importa ser mulher, não apenas na evidência biológica, mas nas escolhas de fazer valer a diferença. É lindo ser uma mulher que cabe em seus próprios atos.

domingo, 20 de julho de 2014

pequenos ladrões

Aprender alemão

a ler nas próprias mãos

o destino dos cometas

ou como se faz arroz soltinho

É coisa complicada

fazer amor pra nada

uma ninhada de pássaros

miam na janela

os gatos não piam

que posso fazer

salvo experimentar

esta única vida

comer limões sicilianos

sentir mais uma vez

o gosto das mangas

sem nem precisar

pular o muro do quintal

soul das crianças

nunca crescem

salvo pros lados

balanço pra esquerda

vejo sóis vejo ventos

balanço pra direita

vejo homens de gravata
e muitas coisas esquisitas

assim vôo

e encontro no céu

os pequenos ladrões de calcinhas
que nunca aparecem

domingo, 13 de julho de 2014

oração atéia

Faço minha oração atéia para que o mundo se transforme num lugar de mais dança e mais pajelança. Que todas as pessoas cujos corações sonhem com um mundo de mais gentileza, respeito, compreensão se reúnam, deixem de lado as suas discordâncias religiosas, políticas, raciais e vejam que somos apenas um único planeta, somos todos realmente uma grande família. Louca, como toda família.


I make my atheistic prayer that the world becomes a place where we can dance more and do more pajelanças. That all persons whose hearths dream of a world with more kindness, respect, and understanding, put aside their religious disagreements, political, racial and see that we are just one planet, we are really one big family. Crazy, like every family.


Je fais ma prière athée que le monde devienne un lieu de plus dance et plus pajelança. Que toute le personnes dont le coeur rêve d'un monde plus de bonté, de respect, de compréhension se réunire et mettre de côte leurs désaccords religieux, politiques, raciales et de voir que nous sommes juste une planète, tous nous sommes vraiment une grande famille. Fou, comme chaque famille.

Ich mache meine atheistischen Gebet, damit die Welt sich unwandelt in ein Ort des Schamanismus und mehr Tanz . Dass alle Menschen, deren Herzen Traum von einer Welt mit mehr Freundlichkeit, Respekt und Verständnis zusammen kommen, beiseite ihre religiösen Meinungsverschiedenheiten, politischen, rassischen und sehen, dass wir Leben nur auf einen Planeten, wir sind alle wirklich eine große Familie. Verrückt, wie jede Familie.

Jornalismo Holístico

Finalmente os gringos poderão dizer sem medo de errar que Buenos Aires é a capital do Brasil. Este céu argentino-brasileiro hoje começou com elefantes voando, depois um javali, segundos depois uma caravela. As câmeras digitais não têm grandes formatos. Mas as câmeras digitais são populares, fazem tudo sozinhas além de serem mais baratas e mais acessíveis. As definições não ficam tão definidas assim nas digitais? Mas tampouco as analógicas conseguem capturar perfeitamente a física das cores do mundo real que nossos olhos vêem. O bom é ter olho. Substituir o contato tridimensional da vida por aparelhos é tornar o ser humano cada vez mais impotente. Afinal, a maioria não saberia como construir nem uma câmera analógica nem uma digital, muito menos. Tal como a maioria não sabe construir um computador ou um programa de jogos virtuais que o computador lê. A tridimensionalidade do mundo tem de ser ensinada. O que são as 3 dimensões? Altura, comprimento e largura. As artes que começam tudo são as do tempo e do espaço. A poesia- que não é simplesmente palavra escrita e sim algo semelhante a um hálito, que precisa ser encenado, a música e a dança. É preciso dançar e brincar. Reinventar o mundo a cada instante, tornar-se deus.

sábado, 12 de julho de 2014

Não dá pra discutir poesia

Ninguém discute poesia. Faz sentido. Poesia vive-se. Poesia atreve-se. Poesia treme-se. Para discutir poesia é preciso saber a língua das estrelas, das abelhas e dos pássaros.

sempre esquecida

Sim serei esquecida
lágrima no oceano
água que veio do rio

tantas curvas e quedas

até o mar

A sombra da árvore

a flor a nuvem a borboleta

o pássaro e a formiga

a casa velha
a casa nova pintadinha

a menina bonita e a feia

o cachorro manco

o que pula feliz
nada disto cabe na memória

a vida excede a gaveta

não cabe no livro

o trivial é um nome impróprio

para as tantas faces do ser


Sejamos sombras e sobras

feneçamos entre pétalas folhas

no barro da estrada daquela velha morada

ou no asfalto que brilha caminho novo

Fiquemos na primeira curva antes do sol

experimentando o gosto das lágrimas

e a largueza imparcial dos sorrisos

é preciso deixar as palavras voarem

e os corações baterem

Os milagres sempre são assim- Cynthia Dorneles, 12/07/14

ps: A notícia é sempre algo que já aconteceu. Ler jornal não é atualizar-se, é passadizar-se. Estar no presente é ser você mesmo, você é sempre a poesia inacabada do instante

quinta-feira, 10 de julho de 2014

E Assim Foi

Jornalismo Holístico da Cynthia Dorneles sobre fatos passados, presentes e futuros e inclusive fatos que não são mas deveriam: hoje eu vi a árvore que caiu no Aterro do Flamengo logo após o jogo da Copa, fato real, árvore real, caída realmente abaixo da força que fez de um tudo neste dia, linda, grande, eu a chamava de Beatriz. Beatriz foi ninho de passarinho, antes da avalanche de gatos que povoam o Aterro. Adoro gatos, mas os gatos caçam os pássaros. Gatos não são nativos. As senhoras cuidam dos gatos, vacinam, mas todo dia alguém chega com novos gatos. Beatriz foi uma boa árvore, deu sombra aos namorados, foi brinquedo de criança. Fez tudo o que uma árvore deve fazer. Menos suportar a derrota do Brasil na Copa, provando que não são só os homens que choram diante das perdas. Hoje também vi a gracinha da Garcinha. Ela é uma espécie de cãozinho de estimação do pescador que sempre vai ali, no mesmo ponto da praia. Hoje deu pouco peixe, mar feio. Voou depois de um tempo pra comer as baratinhas d'água nas pedras. Pensando sobre amar e depender- um livro do Walter Riso (muito bom, recomendo), apesar de não ver a foto do autor, fica claro para mim que ele necessariamente é alguém na faixa etária entre os 30 e os 45. Alguém que com certeza jamais teve um bracolé que o deixou preso numa cama, dependendo de uma alma boa que o levasse ao banheiro para fazer um xixi. Será mesmo que só pode amar quem não depende ou será possível amar, depender e cuidar? Não fabrico pessoas, mas pessoas dão defeito, é preciso saber disso. Com o tempo, alguma mola solta, um parafuso empena e a gente realmente tem de ter sido suficientemente bom para ter desenvolvido tolerância e boa vontade nos outros. Talvez às vezes a tolerância e a boa vontade sejam melhor que o amor. Sexo selvagem e imaginativo é fabuloso, se apaixonar é divino. Gosto de tudo isto. E gosto também de saber que poderei contar com os humanos. Afinal, todos dependemos de todos. Ou alguém aqui acredita que se cair a eletricidade ou faltar água ou não entregarem alimentos nos supermercados a vida segue igual? Dependemos todos uns dos outros. O dinheiro move as rodas, mas é o coração que ilumina os dias. Tenho dito. 10/07/2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Hora de Dormir

Poesia boa se lê mil vezes e se desentende duas mil outras

O bom do disparate é que diz pára e continua

Fala pedra e flutua

Sou assim
Encantada

O segredo?

Não há
Basta estar vivo

Meu nome é Cynthia
Nasço de uma afirmação

e desemboco nos mares de perguntas
Adoro o som das coisas que giram

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O palavrão que liberta

Falar palavrão é feio.


Dizem.


Dizem que só se deve fazer sexo por amor

só se deve comer com fome

estudar é importante para ganhar dinheiro

dinheiro não traz felicidade

o que importa é a beleza interior

o caráter é a coisa mais importante num homem.



Como também dizem melhoras ao moribundo

E correm a olhar as bundas

que chamam de nádegas

- quando conseguem falar sobre o assunto.


Acho que se dizem muitas mentiras

que mesmo bem lavadas e perfumadas

fedem mais que os sovacos

aos quais chamam de axilas.


O palavrão é libertador

como costuma ser o riso

nesta vida de tantos riscos

e tão poucos bordados.

26/05/2014- Cynthia Dorneles

domingo, 18 de maio de 2014

Iansã Minha Madrinha

Detesto a objetividade

os círculos concêntricos dos que repetem

o reflexo da pedra

quando ricocheteia no lago


Lanço a mim mesma na dança

cruzo espaços em chamas

faço de mim deus e oferenda



Saravá irmão guerreiro

Saravá irmã Oxum bonita

que venham os raios de tua irmã

quem dá luz a cego é bengala branca
e Santa Luzia

Só posso acreditar nos deuses que dançam
minha religião se chama movimento

e por onde há janela
eu faço estrondo

Pode me chamar de vento
de trovoada
Iansã é minha madrinha

sexta-feira, 16 de maio de 2014

MANDOU EU ME FODER

Mandou eu me foder.

Acho que esta pessoa me deseja o bem.

Quem melhor do que eu
pra conhecer meus rítmos
meus cheiros
meus humores?

Me foder é sensacional!
E não tinha como ser diferente
eu me amo perdidamente.

Me desejar o mal?
Era mandar eu ter uma dor de dentes

sábado, 10 de maio de 2014

a poesia esquecida

A grafia da luz também é a grafia das sombras
Me interessam mais as cores do que a nitidez
a incisão cortante do sol sobre a flor do impossível
a poesia esquecida num canto da sala
- ninguém vê

sábado, 3 de maio de 2014

é preciso muita beleza pra consertar o mundo.


um dia ficará claro a todos que feiura deprime mais do que miséria.


a feiura é aquela coisa besta e sem cor
de plástico e amianto cancerígeno
deprime o ser encolhe a inteligência


a miséria não necessariamente é pobre.


há pobres ricos
bordam flores coloridas
cozinham refinadas sopas de pedras
que até as pedras gostam


há ricos miseráveis
economizam beijo fazem conta de abraços
e ainda zurebam possibilidades


é preciso mais cor e sabor pra embelezar as cidades.


salvar seus habitantes da terrível mesmice
dos dias sem luz nem sombra

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Distantes do Cais

É preciso olhar os barcos

Adivinhar as ondas

A textura da madeira

O casco tão forte que flutua



O mais simples dos barcos

carrega oceanos inteiros


O barco é amigo das baleias dos peixes e dos botos

Sabe que o mapa não faz o marinheiro

e que o continente é muito mais que as linhas e os pontos num papel

Cada barco navega estrelas
ou as estrelas os navegam



Carregam os azuis, os verdes, os rosas

muitas luas e muitos sóis


até aquele dia último

em que saudoso das velhas âncoras

busca o sossego das pedras sem luz

no fundo do mar


terça-feira, 1 de abril de 2014

minha rede não pega peixe nem passarinho
pega letra e bytes
se eu der sorte
minha cidade tem gatos
mas é de fio e fome
não é fofo nem faz miau
sou do Inferno de Janeiro a março
caos calor e uma sede
que água não resolve
aqui não tem flor
tem aço e concreto
que chamam de progresso
quero comprar tempo
mas só vendem trecos
que viram lixo
e o troco é o medo
material que compõe uma sinfonia de angústias
que nunca se calam"

terça-feira, 18 de março de 2014

O Nome Dela

Se eu apertar bem os olhos e ficar bem paradinha

talvez eu durma

talvez eu sonhe

talvez amanhã tudo o que está errado hoje

amanheça certo

ou ao menos mais colorido

e quando os dedos insistirem em sua dança

o vazio seja apenas o lugar

onde brotam lindas flores


A moça se chamava Claudia

mas ela poderia ter muitos outros nomes

todos nós hoje somos este rosto sem nome

da tragédia no jornal

que amanhã embrulha o peixe na feira

todos nós somos lixo

enquanto permitirmos

que moças e moços

se destrocem

na estupidez


quinta-feira, 13 de março de 2014

Um Brinde à Vida

Ontem no metrô lotado me dei conta que passei mais de quinze anos sem tomar metrô- porque tinha síndrome do pânico- ou, pra quem não gosta destes nomes inventados, tinha um medo maior que o mundo.


Meu primeiro ataque foi dentro de um metrô lotado, então toda vez que entrava dentro de um, mesmo que vazio, eu passava mal. Depois do primeiro ataque vieram outros. Tive ataque de pânico depois de correr no Aterro- aí passei também uns quinze anos sem fazer exercício físico aeróbico. Tive ataque de pânico dentro do banco, aí não conseguia mais entrar em banco. Depois em super mercado. Cada situação onde tive ataques de pânico, eu simplesmente me travava e não conseguia mais fazer aquilo sem ficar muito ansiosa.


A lista de coisas que me davam pânico e ansiedade era imensa. Precisei fazer muita terapia- fiz terapia lacaniana, bioenergética, biodinâmica, reich- fui em muito pai de santo, igreja, e tudo o que prometesse ou desse alívio de fato.


Tive melhoras e recaídas. Até chegar neste ponto onde estou hoje em que nem parece que passei tantos e tantos anos sem fazer tantas e tantas coisas.


Curiosamente, em vez de olhar para tudo o que já alcancei, todos os sucessos que tive no meu próprio tratamento, fico olhando pras coisas que não consigo fazer.


Como hoje em dia cuido de muitas pessoas, sei que é assim mesmo. A gente tende a olhar não para onde estamos dando certo, onde alcançamos nossos objetivos mas para onde estamos mal, onde não conseguimos, onde falta.


Aí neste ponto fecho com a psicanálise: somos os seres da falta. Sempre achamos que o outro tem algo que não temos e sempre tendemos a achar que não estamos bem nisso ou naquilo.


Também aprendi que cada terapia tem o seu valor porque com cada uma delas aprendemos alguma coisa que nos ajuda a ir adiante e quem sabe, vencer nossos obstáculos.


Aprendi a não ter preconceito contra remédios, psiquiatras. Tem vezes que só o que resolve é um ansiolítico ou um antidepressivo. Precisamos de médicos com suficiente bom senso para perceber que às vezes temos de tomar remédios e outras temos de parar os remédios. E os médicos também erram.


Um dia anunciei para o meu psiquiatra que ia parar de tomar o antidepressivo. Ele, muito grave e solene, com toda a pompa do seu saber científico, anunciou que 9 entre 10 pacientes que param de tomar antidepressivos voltam a ter ataques de pânico.


Adoro meu psiquiatra, mas jamais tomarei remédios sem precisar tomá-los. Parei. Nunca mais precisei, há muitos e muitos anos. Se um dia precisar, vou no mesmo psiquiatra e peço penico. Continuo tendo por este profissional o mesmo respeito de antes, não foi por conta de um discurso tão quadrado que deixei de respeitá-lo. Simplesmente mesmo grandes profissionais erram.


Fato é que hoje entro em metrô, banco, super mercado, vou em bloco com mais de milhão de pessoas, vou em manifestação, corro da polícia, corro de ladrão e descubro, bastante surpresa, que hoje só tenho medo. Pânico? Nunca mais.


Me permito contar esta vitória. Sim, às vezes, na luta contra as neuras, nós vencemos. Ninguém precisa se conformar a sofrer com suas neuroses. Um brinde à vida e ao amor, pois de verdade, por baixo de cada terapia e remédio que deu certo, havia amor. O amor tem mil possibilidades. E ele pode mais que a morte e a doença.

terça-feira, 11 de março de 2014

envelhecer

Envelhecer é uma coisa muito esquisita.

A primeira coisa que me deu o sinal de gastura foram os olhos. Me lembro como fiquei escandalizada com o diagnóstico do oculista: vista cansada. Achei estranho aquilo, pensei que ele ia me dar um remedinho e como de todas as outras vezes que fui ao médico, depois de uns três dias iria ficar curada daquele negócio de não ver direito as coisas próximas.

Depois dos olhos, a parte estranha foi a pele. Fui na dermatologista pra saber daquelas estranhas manchinhas brancas na pele já achando que eram câncer, claro, e pra minha surpresa, que câncer que nada, aquilo era simplesmente um dos sinais que eu estava envelhecendo. Não tem remédio pra isto? Tem certeza? A dermatologista tinha. E continuei tendo cada vez mais manchinhas brancas pela perna afora.

Daí em diante eu comecei a entender que estava inexoravelmente envelhecendo e que a velhice não era uma coisa com remédio. Era o tal do ato natural, que acontece com todos os seres vivos. E comecei a entender que nossa cultura tem umas questões esquisitas sobre estes pequenos fatos naturais.

Um homem quando fica com cabelos grisalhos é um gato. A mulher? Ah, não, minha filha, não deixe seu cabelo sem pintar, isto é feio, você fica acabada. Velha. Velha é feio, velho é bonito. Estranho isto de que velha é feio quando vejo claramente nos olhos dos homens- não todos, óbvio, mas isto sempre foi assim, nem todos acham que o azul é lindo e preferem o amarelo- que alguns me desejam, do mesmíssimo jeito. Sempre percebi estas coisas, do andar e ver que há homens no meio da rua que dizem com os olhos "ai se eu te pego". Estes olhares continuam. Então, como é que é isto de que ser velha é feio, de que cabelo grisalho em mulher é feio se eu continuo parando trânsito?


Podem achar que sou metida. Devo ser, mas acho que não. Trata-se de uma constatação simples. Parava aos 20, parava aos 30 e continuo na minha saga de parar o trânsito aos 54. Não digo isto para afrontar ninguém, nem para dizer que sou fodástica. Não.


Muitas mulheres são assim como eu e param o trânsito. Muitas mesmo. Algumas não percebem que fazem isto, outras sim. A maioria não confessa, têm vergonha de sua potência. Muitas ainda não descobriram o seu potencial "parador de trânsito". Sei lá porquê. Talvez estejam sendo massacradas por todo um exército de gente cujo principal objetivo na vida é diminuir o outro, subjugá-lo, amesquinhá-lo para assim se sentirem mais poderosas, maiores e melhores que o que são. Vá saber.


Com certeza as que estiverem neste o caso, um dia, livres dos antolhos da timidez ou da cretinice destes que chamo de "dominadores de gente" descobrirão com o tempo que são maravilhosas e param o trânsito sim. Ou não. Mas tendem a descobrir sim. Mesmo que em segredo.


Segredos e mulheres são quase sinônimos. Afinal, faz parte do pacote da cultura judaico-cristã ser considerado feio uma mulher que se "mostra". Mulher recatada é que é "bonito". De minha parte, acho isto tudo muy relativo.


O fato é que a velhice é um treco estranho. Se estou velha, como é que hoje consigo correr por mais de 50 minutos no verão carioca com mais fôlego que aos 20? Que negócio é este de estar mais velha afinal? Onde é que envelhecemos afinal? Se hoje me apaixono como me apaixonava aos 20, aos 30, aos 40, cadê meus sinais de velhice?


Falo bobagens como sempre. Sou infantil, como sempre.


Afinal, será que ser velha é apenas ter vista cansada, manchinha branca na perna, bigode chinês e código de barras sobre os lábios? Se for isto, puxa, basta um básico photoshop pra resolver todo este papo de velhices guimarães. Que bom que fiz o curso. Que bom que instalei o programa. Estou salva

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Álbum de Família, o filme

Dá para rir em Álbum de Família? Resposta: riso nervoso. Álbum de Família é aquele filme feito para o ator ganhar o Oscar de Melhor Atriz mas para se pedir a Deus que varra de vez as famílias do planeta. Infelizmente, nunca foi exagero a frase de Nelson Rodrigues sobre as famílias: toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Toda família tem uma tia feito a Mattie Fae (Margo Martindale) doce com o mundo mas cruel com o próprio filho, uma chata feito a Karen (Juliette Lewis) que não consegue atinar com o fato de ouvir um pouco aos outros não faz mal a ninguém e muitos tios tarados como o Steve (Dermot Mulroney). Mas, principalmente, muitas mães cuja metáfora mais carinhosa seria “ela é como uma hárpia.


É inevitável, a cada vez que o personagem Violet (Meryl Streep), a matriarca, toma mais uma das suas zilhões de pílulas, desejamos que a megera morra de vez em lugar de encher o saco. Não dá para ter condescendência com uma viciada em barbitúricos que é tão cruel e tacanha com o vício e idiossincrasias dos outros. Além do quê, Violet é preconceituosa, não consegue fazer nada- por estar sempre doidona, caindo pelas tabelas- depende dos outros para um tudo e entretanto, como pessoa egoísta e mal agradecida, não percebe nada de si mesma, só dos outros. Eu conheço gente assim. Acredito que você também.


A tradução do título do filme é infeliz, pois remete à peça de Nelson Rodrigues que é infinitamente melhor que este filme, adaptado de uma peça de teatro cujo nome é August: Osage County.


O que há de realmente fabuloso no filme são as fotografias que esquentam o verão desta casa infernal onde a trama acontece. A outra coisa realmente boa de fato é o elenco. Entretanto, enquanto drama, quem tiver lido Album de Família do Nelson vai querer enviar uma tradução para o Inglês de nosso autor ao Tracy Letts. Tracy Letts é bom, mas ele não explora as razões para que cada personagem seja como é e tudo fica casual demais, desgarrado demais e para que exista pungência nos diálogos ele recorre ao exagero. O que faz o filme cair para o drama mexicano.

Não por acaso, o melhor momento do filme é quando um personagem coadjuvante, Little Charles, toca ao piano uma música que compos para sua amada Ivy. Um refresco na falação sem fim que dá nos nervos do espectador.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca o filme

Não gosto de ler sobre os filmes que vou ver antes de vê-los porque prefiro sentir o impacto dos filmes e não estar contaminada pelas críticas e fofocas sobre os ditos cujos a priori. Nos zilhares de blogues cinéfilos que circulam por aí afora hoje em dia, qualquer um pode tecer um filme para si a partir do filme descrito pelos blogueiros, antenadíssimos com toda a produção cinematográfica atual. Na minha opinião, a surpresa e tudo o mais que se relaciona ao ver algo novo se perde para quem lê estes blogues e afins. Então, a única coisa que levo ao cinema é M&Ms.

No instante que assisto, gosto ou não gosto. Se gosto, vou pesquisar sobre- depois de assistir. Se gosto, se o filme me mobiliza, vou repassando cena a cena do filme que vi e tecendo criticamente o filme. Se não gosto, o filme se perde no emaranhado de filmes ruins que já vi na vida, ou seja, simplesmente, esqueço tudo. Foi neste estado de ânimo que fui ver ontem Ninfomaníaca. Sim, eu gostei de Ninfomaníaca, mas.... Vai rolar um “mas” de muitas considerações.

Lars Von Triers já destruiu o planeta sem salvar nem crianças nem proletários em seu belíssimo Melancholia, já tratou bem mal a Nicole Kidman no seu excelente Dog Ville (a atriz nunca mais quis fazer filmes com ele), teceu um arquétipo do feminino sinistro em Anticristo e agora está aí com seu Ninfomaníaca parte I. Posso dizer, sem muito medo de errar, que Lars Von Triers já deixou provado ao mundo que ele não tem a humanidade em alta conta e que é capaz de fazer um trabalho que satisfaz um certo tipo de público. Volto a isto já.

Em Ninfomaníaca, ele queria fazer um filme gigantesco, com sei lá quantas horas e acabou brigando com a produção que não aceitava um filme tão grande- provavelmente pelo argumento óbvio de que não há como você ter o retorno financeiro num filme que dure tantas horas porque qualquer mortal que souber que um filme dura seis horas não irá assistir tal filme, salvo situações muito especiais. Provavelmente a produção não viu razão alguma para justificar que um filme sobre as neuroses de uma mulher durasse tantas horas e custasse tão caro. Com a insistência de Lars a fazer um filme com tantas horas, o diretor acabou perdendo a possibilidade de edição e cortes no seu filme. O filme que assistimos sob o nome Ninfomaníaca parte I é Lars Von Triers- numas. “Numas” porque uma das condições para um filme ser de um diretor x é justamente que ele possa fazer os cortes e as edições de seu trabalho, coisa que acabou não acontecendo neste filme que recebeu uma edição dos produtores e não do diretor.

Gostei de Ninfomaníaca sim. Lars é muito bom na escolha das músicas para seus filmes, em sua produção fílmica as fotografias são sempre lindas e a primeira cena da neve caindo em Ninfomaníaca é belíssima, não precisa de efeito 3D para deixar a neve realmente tridimensional para o público. Os atores estão muito bem e o filme tem um quê de suspense que enregela a alma.


Como nas suas demais produções, ele capricha para dizer que tudo na humanidade é pulsão de morte e neurose e o personagem principal está sem dúvida, buscando a forma mais dolorosa de morrer cheia de culpa sobre seu desejo. Minha impressão sobre Lars Von Triers é a de que ele jamais fará um filme sobre alguém heroico, ou alegre porque para ele a humanidade é um amontoado de gente ruim ou vazia sem escapatória.


Não posso deixar de fazer um paralelo entre este Ninfomaníaca e o Bonitinha Mas Ordinária de Nelson Rodrigues. A forma de entender a sexualidade e as famílias de Nelson Rodrigues era bastante corrosiva, não por acaso, ele foi um autor que deixou os burgueses da época indignadíssimos. Mas por outro lado, há uma leveza no personagem da Bonitinha que faz a gente sorrir muitas vezes ao longo do romance. A sexualidade não é uma coisa vista como vazia ou sinistra. Não pensamos em pulsão de morte em Bonitinha Mas Ordinária. Nelson não odeia à humanidade. Nunca odiou. Ele tem carinho pela humanidade, seria algo do tipo “tem gente ruim sim, mas há figuras boas, há quem seja bacana e gostar de sexo nem sempre resulta em desastre”. A biografia de Nelson explica isto. Ele foi capaz de amar. E se desesperar com a prisão do filho. Há gestos heroicos espalhados pela obra de Nelson, exatamente pela condescendência que ele tem para conosco, bípedes sem plumas. Não é o caso de Lars.


Um jovem feito o meu filho provavelmente não iria ao cinema ver Ninfomaníaca, exceto se a partir do título esperasse cenas de sexo. Que por sinal, não rolam. São poucas e pouco memoráveis as cenas de sexo neste Ninfomaníaca I. Ou são em bem menor quantidade e impacto de que em O Azul é a Cor Mais Quente ou Um Estranho no Lago. Minha mãe muito menos consigo imaginar entrando no São Luís para ver este filme.


A maioria dos mortais, vai ao cinema para se divertir. A preferência do grande público são as comédias românticas, aventuras heroicas, suspenses e dramas com finais felizes. Digamos que só irão ver este filme denso, esquisito, os cinéfilos, os psicanalistas, os filósofos (e livre pensadores), os que querem brilhar socialmente por falar sobre filmes considerados cabeça e os iludidos com o título do filme.


É isto. Um “mas” imenso.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinho: Que Coisa Mais Careta

Na boa? Minha geração, aquela da moçada que vestia vestidos da avó, pregava o amor livre e fazia cara feia pro pessoal da TFP (Tradição Família e Propriedade) e chamava todos os que achavam bacana estes valores de "caretas" justamente desdenhava do consumo, das posses e do sexo monogâmico.

Quando vejo as melhores cabeças pensantes do nosso país defendendo o direito dos jovens pobres da periferia de SP ao "Rolezinho" ou "Rolezaum" eu fico com meu queixo lá embaixo e penso: deuses, na guerra contra a mediocridade que nossa geração se engajou, venceram os medíocres já que para um jovem pobre da periferia o que pode haver de mais divertido é dar um rolezinho em shopping center e para os nossos intelectuais a coisa mais bacana a fazer é simplesmente defender o direito deles de fazerem isto.


Caraca, shopping center, os templos do consumo, símbolos desta sociedade onde liberdade virou sinônimo de liberdade de consumir, são os lugares mais chatos possíveis. Bons no verão porque têm ar condicionado. Mas que outra característica bacana têm estes lugares? A meu ver, nenhuma.


As lojas que vendem no Shopping Rio Sul têm zero de originalidade, todas vendem as mesmas merdas que todos os outros shoppings do Brasil e do mundo inteiro. A globalização passou por cima da originalidade de cada cultura do mundo e tornou Paris igual a Sampa, igual a qualquer lugar. As modas estão cada vez mais feiosas e de mais mau caimento.


As coisas bonitas de verdade fabricadas por estilistas geniais da Haute Couture nunca estão nos shopping centers. Nos shopping centers estão os trecos caretas, feiosos, de mau caimento, que ninguém deveria pagar um tostão. Melhor vestir velhos vestidos lindos do que novos feios. Eu pensava isto aos 18 anos quando pegava os vestidos de seda da avó e botava com sandália havaiana e continuo achando a mesma coisa hoje em dia.



Por que o pessoal não aproveita para dialogar com o pessoal que gosta de rolezinho e diz pra eles que existem outras formas de viver, outros objetivos tão ou mais interessantes do que andar em shopping center? Será que realmente agora todo mundo acha que a coisa mais importante da vida é comprar em shopping center?




Se é isto, puxa, que tristeza infinita. Penso que encaretamos geral, que após AIDS demos muitos passos para trás em todos os campos da existência possíveis e imagináveis. Penso que se o único objetivo de todos é enriquecer, pra mim, já deu. Mesmo sem acreditar em Deus, me mudo pra alguma comunidade espiritualista porque sinceramente meu maior objetivo na vida não é encher de mais lixo o planeta. As compras de hoje são o lixo de amanhã- sobretudo. Não vou lutar pelo direito ao meu filho e ao filho de ninguém a consumir mais. Pelo contrário. Quero que todos parem e pensem antes de comprar qualquer coisa: será mesmo que preciso disto? O lixo não se desmaterializa. E Shopping Center é aquele lugar que só vale a pena entrar se você tem algo objetivo para fazer dentro dele. Nem que seja só se refrescar, mas francamente, como passeio é caído pacas.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Amor ou Calamidade

Quando um amor acaba é porque isto e porque aquilo, mas uma coisa é certa: é o amor que acabou, não nós, não as nossas vidas. As razões para o amor acabar são tantas e razões para o amor acontecer ou desacontecer deveriam se chamar des-razões. O amor começa porque o olho brilha. A boca que é grossa. A pele que é pele e não couro, nem escama. O amor desacontece porque um dia percebemos que aquele lindo ser não era lindo e em vez de ser era um bruto muro sem heras. Não há razões nem para o amor nem para o fim do amor. O que existe é o projeto de um sonho que começa no primeiro dia que abrimos nossos olhos e nossa mãe desejou que fôssemos aquilo no qual nos tornamos. O amor é sobretudo surpresa e inconsciência. Pegada e firmeza no caminho. Paixão que se torna história, dia e mais dia até existir um caminho. O amor que acaba é mais provável que jamais tenha sido amor. Normal. A gente se confunde mesmo e chamamos de amor até coisas que se surgissem em outros cenários chamaríamos de calamidades, desastres, tudo menos amor. Mas somos gente e gente é pateta. Patetas capazes de construir o Taj Majal e demolir mil coisas igualmente belas como o Taj Majal. Perdão Grande Deus do Amor. Nós não te reconhecemos quando usas apenas algodão e luz.

violência

É no mínimo curioso como a gente vive na cidade. Os jornais quando usam a palavra violência se referem à assaltantes, à brigas. Não se considera violento o progresso que destrói culturas por onde se instala. Não se considera violento o processo urbano onde aqueles que não têm ninguém que os indiquem para trabalhos "oficiais" no mercado de trabalho vivem por aí nos seus pequenos expedientes marginais. O pobre que simplesmente abaixa a cabeça e aluga a cadeira para o turista sentar é desconsiderado na equação da violência onde só é chamado de violência o arrastão onde o pobre tenta levar a carteira do turista e não tudo o que entra no jogo até surgir o arrastão.


A cidade é toda violenta. Das grandes estruturas arquitetônicas- os edifícios cada vez mais altos- que fazem com que cada um se sinta tão pequeno até a velocidade dos sinais que nunca demoram tempo suficiente para um idoso ou doente atravessar a rua, passando pela inviabilidade de se permitir que as nossas crianças possam brincar nas ruas livremente porque os carros são em cada vez maior número e cada vez mais velozes- tudo é de uma violência extrema. Uma violência extrema chamada de cidade, onde mudam os nomes- Rio de Janeiro, Paris, Nova York, Tokio- mas o medo impera em cada uma delas porque o medo surge na medida exata da violência. Um dos nomes da violência? Progresso. Outro nome da violência? Capital.

Tic Tac. Tic Tac. Tic Tac. Às vezes a bomba relógio explode, como os bueiros de Copacabana.