segunda-feira, 26 de maio de 2014

O palavrão que liberta

Falar palavrão é feio.


Dizem.


Dizem que só se deve fazer sexo por amor

só se deve comer com fome

estudar é importante para ganhar dinheiro

dinheiro não traz felicidade

o que importa é a beleza interior

o caráter é a coisa mais importante num homem.



Como também dizem melhoras ao moribundo

E correm a olhar as bundas

que chamam de nádegas

- quando conseguem falar sobre o assunto.


Acho que se dizem muitas mentiras

que mesmo bem lavadas e perfumadas

fedem mais que os sovacos

aos quais chamam de axilas.


O palavrão é libertador

como costuma ser o riso

nesta vida de tantos riscos

e tão poucos bordados.

26/05/2014- Cynthia Dorneles

domingo, 18 de maio de 2014

Iansã Minha Madrinha

Detesto a objetividade

os círculos concêntricos dos que repetem

o reflexo da pedra

quando ricocheteia no lago


Lanço a mim mesma na dança

cruzo espaços em chamas

faço de mim deus e oferenda



Saravá irmão guerreiro

Saravá irmã Oxum bonita

que venham os raios de tua irmã

quem dá luz a cego é bengala branca
e Santa Luzia

Só posso acreditar nos deuses que dançam
minha religião se chama movimento

e por onde há janela
eu faço estrondo

Pode me chamar de vento
de trovoada
Iansã é minha madrinha

sexta-feira, 16 de maio de 2014

MANDOU EU ME FODER

Mandou eu me foder.

Acho que esta pessoa me deseja o bem.

Quem melhor do que eu
pra conhecer meus rítmos
meus cheiros
meus humores?

Me foder é sensacional!
E não tinha como ser diferente
eu me amo perdidamente.

Me desejar o mal?
Era mandar eu ter uma dor de dentes

sábado, 10 de maio de 2014

a poesia esquecida

A grafia da luz também é a grafia das sombras
Me interessam mais as cores do que a nitidez
a incisão cortante do sol sobre a flor do impossível
a poesia esquecida num canto da sala
- ninguém vê

sábado, 3 de maio de 2014

é preciso muita beleza pra consertar o mundo.


um dia ficará claro a todos que feiura deprime mais do que miséria.


a feiura é aquela coisa besta e sem cor
de plástico e amianto cancerígeno
deprime o ser encolhe a inteligência


a miséria não necessariamente é pobre.


há pobres ricos
bordam flores coloridas
cozinham refinadas sopas de pedras
que até as pedras gostam


há ricos miseráveis
economizam beijo fazem conta de abraços
e ainda zurebam possibilidades


é preciso mais cor e sabor pra embelezar as cidades.


salvar seus habitantes da terrível mesmice
dos dias sem luz nem sombra