segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Tem Dias que são assim


Já tomei frontal e minha vida continuou um caos. Já tomei rivotril e quebrei todos os meus discos de vinil. Nenhum haldol cura a falta de sol que faz aqui dentro da minha tenda. Pensei que só ia viver um mês. Por azar, vivi um século. Um século passa em poucas horas. Poucas horas passam em um milênio. Um milênio não é nada. Tem dias que acordo pensando por que afinal aprendi a taboada se na hora de dividir meu amor divido sempre com a pessoa errada. Tem dias que penso em suicídio, mas isso é apenas pra rimar com ofídios. Ou edifícios. Se tivesse que hoje pular, pularia pra dentro do filme que acabei de ver. Há sempre aquele instante que você se dá conta que quando nada presta é porque você é tudo o que resta e se só resta você mesmo não importa a direção. Importa que ainda se saiba uma canção e que esta dure tempo suficiente pra você não morrer de tédio ou de raiva.

domingo, 28 de setembro de 2008

Homenagem a Clarice Lispector


O espaço aberto de uma grande sala e seu silêncio convidam para dança e para música. Se dançar sou a música, se canto danço as notas numa pauta musical.

A mãe lê para sua filha pequena Clarice Lispector. Se o analisa de Clarice lá pelas tantas não conseguiu acompanhá-la, por que uma criança o faria? A sisuda menina já é totalmente misteriosa e secreta como o espectro de Lispector.

A escuridão da sala é própria para a entrevista da escritora e perfeita para dois homens enamorados, finalmente livres para o abraço e o beijo.

Escrevemos porque queremos testemunhas dos enormes mistérios que casualmente encaramos como se nada e como se nós, fôssemos outros.

Poderia passar o dia todo entre as inúmeras gavetas da exposição. Todo dia, abriria apenas uma e me deixaria inundar pelo oceano que contém. Uma loura desenxabida me indica que tem pressa de abrir a gaveta. Para ela, nenhum oceano. A pressa de todos impede a imersão nos mares em gavetas. Falta ao público presente um pouco do peixe no aquário, prisioneiro da vida num vidro.

Tornei-me parte da exposição porque tomei de assalto um banquinho e atrapalho todos os sedentos de mais um dado de biografia da grande escritora que preferia que as letras fossem penugem de criança ou qualquer outra coisa.

Mulher de saia de bolinhas faz de conta que escreve, escrevendo uma letra após a outra até um fim de página de um caderno imaginário.

Quem precisa de imaginação havendo sempre o silêncio das bisbiliotecas e a realidade em etapas de tempo e linguagem?

A exposição do silêncio de Lispector nos convida a todos a sermos nós mesmos parte com suas letras abissais. Pois como negar que a explicação do enigma é a repetição do enigma? Por que não pensei nisso antes? Vivo tentando dar conta dos labirintos que permeiam minhas estações. Que tola fui eu até este dia? A mesma que amanhã enquanto meu ar for todo ele poesia e eu preferir sempre a declaração de amor feita por escrito, lavrada e assinada na pele, as mãos dadas em público. Ou o vento me aniquilaria com sua rota.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

saudades




Você foi embora ontem. Hoje já morro de saudades. Ligo para você para falar bobagens. Simplesmente para ouvir tua voz.

Quero saber que você respira, que você se move, que você existe. Perto de mim ou longe. [i]Nessuma cosa si puó amare nè odiarem se prima non si há congnition di quella[/i]. Não se tem o direito de amar ou odiar qualquer coisa da qual não se tenha conhecimento profundo. Você já viu meu ventre dando a luz e minhas angústias trazendo as trevas. Você realmente me ama. E eu a você, pois não há gesto teu que eu não adivinhe, nem palavra tua que eu desentenda.

Nós dois temos um tesouro que não há ladrão que roube nem nuvem que turve: nossa intimidade mais que profunda.

Mesmo que eu decidisse começar a gritar a plenos pulmões que te odeio, sei que você jamais acreditaria. Mesmo que mil demônios fossem ao seu ouvido para falar de mim, sei que você não acreditaria. Mesmo que eu mesma mudasse de tal forma que não mais me reconhecesse, você sabe mais que eu mesma o caminho do meu coração.

Somos um amor eterno. Cobiçado, invejado. Podemos foder outros corpos, até mesmo amar outras pessoas. De nós dois, nós jamais nos perderemos. Por isso, na verdade, é só a ti que pertenço. Só você me interessa.

Fazes-me uma mulher rica e feliz. Posso rir à toa. Meu coração é milionário.

Quem dera que todos um dia pudessem encontrar o amigo e amor verdadeiros como sou eu para você e você para mim. O mundo seria outro. Em vez de imitações bregas e melosas de amores alucinados e não vividos, em vez de filmes bobos ou declarações de amor vazias, a obra de arte: ser feliz sempre por um tris, mesmo que na ponta da navalha, um no prazer da companhia, real, do outro.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Mulherismos e Delicadezas




Vocês homens pensam que nós mulheres quando choramos por vocês estamos dependentes da sua boa vontade para sermos felizes? Já ouviram a expressão popular “quem não chora não mama”?

Como vocês pensam que conseguimos o direito a pensão para nós e nossos filhos em caso de separação? Mantendo os olhos secos?

Parecendo frágeis, galgamos de volta na civilização um lugar que em verdade, sempre foi nosso por direito: o de junto aos homens- vocês, os bravos e os fortes- decidir os destinos das nações e do mundo.

Foi chorando e falando grosso quando precisamos que aqui chegamos. Nós, as tão frágeis. Nós, as donzelas. Nós, as carentes.

Nosso lugar hoje não é o melhor do mundo, mas não há tal coisa como o “melhor de todos os lugares” ou a “melhor de todas as condições”. Há o lugar onde os passos levam. Nunca este é o ideal. É o lugar mais próximo ou mais distante de onde queríamos chegar. E nós, mulheres do mundo, chegamos.

Vocês homens realmente acreditam em nós quando dizemos que não podemos viver sem vocês?

A natureza nos proveu de corpos que são suficientemente fortes para encararmos tudo o que for necessário. Se precisarmos dormir ao relento, dormiremos. Se precisarmos trabalhar no sol ou na neve, trabalharemos. Seremos capazes de cuidar de nossos lares e de nossas crias. Talvez nossa maior dependência seja justa recaia justamente sobre nossas iguais: outras mulheres. E, mesmo esta, quando queremos, superamos.
Não temos um saco escrotal que precise periodicamente ser esvaziado, provocando urgências na busca de parceiros sexuais ou alívios imediatos pela masturbação. Sim, nos masturbamos. Porque queremos, não porque tenhamos urgências da espécie dos machos. O sexo em nós tem particularidades que nem mesmo nós somos capazes de entender. Mas certamente, qualquer mulher é apta a se dominar. Numa guerra, jamais se estivéssemos no poder, violentaríamos homens em busca de satisfação imediata.

Mulheres estuprando homens indefesos e não desejosos de sexo? Só mesmo homens para imaginar tais feitos. Nós, quando escrevemos personagens ou histórias, fazemos outras tramas e outras imagens. Claro que numa brincadeira poderemos fazer este papel, mas ele é só um papel.

Nós somos todas Dominatrixes. Simplesmente porque antes de mais nada, mesmo quando nossos corpos envelhecem nunca nos tornamos as cínicas que vocês quando velhos se tornam. Nós, nunca deixamos de amar ao semelhante, coisa que vocês homens, por qualquer tranquinho amoroso, já se tornam definitivamente incapazes. Somos sempre adolescentes, buscamos amor, queremos sonhos.

Nossa força soberana vem de nossa fragilidade e de nossas flutuações hormonais. Do sangue que se esvai todo mês, nosso corpo se limpa e nossa energia se renova. É de nossas agruras e padecimentos que vem toda nossa força.

Precisamos de vocês metaforicamente. Precisamos de vocês para serem os cavalheiros de sonhos, príncipes encantados. Ao contrário de vocês, podemos ter profundo e verdadeiro tesão mesmo num corpo barrigudo, pelanquento, fedido, careca: basta que o desejemos. Se quisermos, se precisarmos se nós sentirmos amor, nós teremos tesão no mais tenebroso macho.

Qual de vocês homens pode realmente ver o pau subir sem Viagra em condições tão adversas?

Cuidem-se homens. O tempo de vocês passou. E, por mais que pareça que a mulher nunca esteve em piores condições, pensem bem: são somente na liberdade que se podem construir os verdadeiros castelos, os castelos de nossa existência.

Nossa verdadeira força sempre vem de nossa fragilidade. Somos românticas, somos frágeis. Quanto mais românticas, mais frágeis. Quanto mais frágeis, mais verdadeiras e mais tenazes.

Homens olhem os lírios do campo, já lhes disse o maior de todos os homens e o maior de todos os filósofos: Jesus. Talvez sejam lírios do campo que resistam as cagadas que estamos fazendo no planeta e durem mais do que todas as grandes e fortes espécies. Aprendam um pouco com os lírios e deixem vossa empáfia de lado que de nada vos serve.

Ou será que num embate existencial com uma mulher vocês homens estão reduzidos a vossa empáfia?

Triste sina a do cínico e a do orgulhoso. Viver a vida protegendo-se dela. Viver dias e noites do lado do oásis sem poder dele retirar o que mata a sede. Pois tudo o que o ser humano precisa é de amor, amor verdadeiro. Solidariedade profunda e real, muito além das gentilezas sociais.
RESUMINDO:
2/3 dos lares brasileiros hoje são governados e bancados por mulheres. Obviamente, isso teve alguma repercussão no comportamento geral da família brasuca. Um destes é que hoje as mulheres traem também. Não só os homens.

Isso quer dizer que somos iguais aos homens? Não. Quer dizer que podemos hoje exercer nossa sexualidade com maior liberdade que antes. Liberdade que resultou da nossa própria capacidade de trabalho e autonomia geral.

Nossa sexualidade é particular. Nosso tesão igualmente. Nossa urgência sexual é de uma natureza diversa da do homem. Nós precisamos urgente de romances, de relações.

O fato de estarmos par e par com os homens em vez de resultar numa melhor relação entre homens e mulheres resultou no homem médio ficar extremamente inseguro, talvez porque na sociedade e na economia o papel deste mudou. No engraçadíssimo Ou Tudo Ou Nada, fica patente a situação do homem moderno, desempregado e sem noção de qual é o seu lugar histórico na sociedade contemporânea. Alguns homens, inclusive preferem ser cruéis e sacanear mulheres nas suas fragilidades (necessidade de romance) do que em viver com elas.

Isto tudo está dito no texto de uma maneira mais poética, falo sobre esta frase "eu não vivo sem você". Esta frase a tradução é a seguinte: meu amor faz com que eu não deseje viver sem você.

Cadê a falácia? Poesia não é falácia.

Para muitos homens, isto é acreditar em Papai Noel. Curioso pois eu convivo com um homem que me engravidou, me assumiu, casou comigo, separou de casa e continua comigo. Gosta de mim como eu sou, me respeita, e só abre mão de mim se existir um outro homem como ele na minha vida. Acho que homens assim existem. Muitos. O suficiente pra cada mulher que realmente deseje uma vida suficientemente honesta.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

provas de amor?


Se só existem provas de amor, eu nunca amei. Nunca provei que amava porque pra começar não sei quem ou o quê é o amor. Aliás, alguém já viu o amor andar por aí? É um senhor grisalho ou uma senhora negra? É baixinho ou é altona? Gosta de Chet Baker? Gosta de salsa? Maracatu? Merengue?Eu amo sem saber o que é o amor nem como é o amor. E obviamente, não dou provas de amor porque nunca soube amar. Eu amo sem saber amar.