quinta-feira, 30 de junho de 2016

o lugar certo do amor

Amor. Amor é bacana. Amor é lindo. Amor é algo fantástico. Mas tem algo que me incomoda, não no amor, mas na forma como muitas pessoas- aliás, talvez toda nossa cultura- vê o amor.

O primeiro absurdo: que não se pode viver sem amor.

Se você não respirar por alguns minutos de fato morre. Se você ficar sem comida por algum tempo de fato morre. Se você ficar sem água por algum tempo de fato morre.

Estas são as únicas coisas que sem as quais alguém morre se estiver sem. Todas as demais são "plus" na vida, coisas que se por alguma razão você ficar sem a vida será mais sem graça, ou mais desconfortável, ou mais monótona mas você continuará vivo.

Falo isso porque pessoas matam porque um belo dia vêem seu amor indo embora com outra pessoa. Falo isso porque pessoas se matam quando são deixadas pelo seu amor.

É preciso que se diga e até que se diga muitas vezes: amor não é tudo na vida. Há muitas outras coisas boas, bonitas, fantásticas no mundo.

Estar só e ser feliz é possível sim.

Não é porque não se tem um amorzinho, aquele par para se olhar estrelas que se deva desistir de ter amigos, de fazer coisas bonitas ou boas. Quantas vezes vou eu fotografar estrelas sem par algum. Olhar estrelas não depende de termos namorados. Basta ter olhos de ver. E, se quiser fotografar, uma máquina e a técnica de fotografar estrelas e depois editar a foto. Simples. Indolor.
Não estou aqui fazendo pouco do amor. O que estou é escrevendo para estas pessoas- que são legiões- desesperadas porque perderam o amor, porque não têm amor, porque não encontram amor e se desesperam- que amor definitivamente não é a única coisa gostosa que se faz na vida.

Só pensar no amor ao outro como objetivo e razão de viver chego a ousar dizer que é falta de imaginação e criatividade.

Talvez realmente fundamental seja o amor a si mesmo. Ou gostar das próprias rotinas.

Por amor a si mesmo, a própria pele, se inventar coisas divertidas, boas, dignas para se fazer.
Mas jamais matar ou morrer por amor. Isto é um pouco over. Afinal, se Mariazinha Josefina foi embora, há tantas outras Marias, há tantas outras Lúcias, há tantas outras Beatrizes, há tantas outras Carolinas. Vai matar por que uma não lhe quer havendo outras tantas? Ah, mas Mariazinha Josefina é a única que sabe fazer pinturas com a fumaça do seu cigarro. Ok. Eis um talento raro. Mas não se esqueça que Lúcia sabe falar na língua dos Elfos. Que Beatriz sabe nadar com os golfinhos. Que Carolina entende bebês que não falam. Todos nós temos algum talento raro. Então perder uma namorada não quer dizer perder a habilidade de se fazer gostar e de seduzir.

Se só Mariazinha Josefina caiu na sua cantada, está na hora de se tornar alguém mais interessante e aprender novas cantadas. Não de matar o cara por quem Mariazinha Josefina se apaixonou.

Hora de se reinventar e ser feliz.

domingo, 19 de junho de 2016

como eu odiava a Glaura Maria

como eu odiava a Glaura Maria. A Glaura Maria era a outra afilhada da minha madrinha. Nunca conheci a Glaura Maria pessoalmente. Só via uma foto e a madrinha citando a bendita Glaura Maria toda hora. Meu coraçãozinho infantil odiava profundamente à esta menina de quem eu nada sabia salvo as coisas que a Madrinha falava sobre ela. Eu odiava tanto à criatura que às vezes quando brincava de boneca havia aquela boneca que a outra boneca tratava muito mal e torturava que era a Glaura Maria. Puxava os cabelos, enfiava na água e afogava. Mil torturas de bonecas que eu não poupava na boneca da Glaura Maria.

O próprio som do G com o L e o A me dava gasturas. Tanto que quando na escola tive um coleguinha chamado Glaucon eu não gostava dele por extensão. Era o Gla da Glaura Maria atacando onde não era chamado.

E Glaura Maria jamais foi Glaura. Foi sempre esta coisa que leva horas de nome composto. Glaura Maria. Hoje em dia eu teria compaixão de uma pessoa com nome tão esquisito, mas na época ela era a personificação do meu horror.

Curioso porque na vida real eu encontrava crianças que não gostavam de mim mas a quem eu não nutria sentimento particular algum. No primeiro dia de aula, uma garota chamada Cassandra olhou pra mim e me acertou uma pedrada na testa que me levou imediatamente pro hospital e daí pra casa a quem eu temia, mas não odiava. Eu era gordinha e as outras crianças faziam chacota comigo e eu não as odiava. O mais perto de ódio que tive foi por uma professora de matemática, a Dinah, que me dava notas baixas, mas era mais uma raiva grande do que ódio. Ódio era todo pela Glaura Maria.
Muitos e muitos anos depois quando fui ler livros de Sociologia na minha 1a faculdade que estudavam estes fenômenos sociais de ódio ao diferente eu podia sempre internamente referendar estes ódios com meu ódio à Glaura Maria. A quem eu jamais conheci e que nunca me fez nada de mal mas que me provocavam sensações fortes negativas.

Hoje penso que se algum dia a menina Glaura Maria tivesse se apresentado a mim pessoalmente talvez eu acabasse gostando dela. Ou não. Mas provavelmente não a odiaria. Tenho pra mim que certos ódios muitas vezes se dirigem exatamente às pessoas estranhas, desconhecidas por serem estranhas e desconhecidas. São raivas infantis que tomam dimensão tão mais distantes sermos de certas pessoas.
Então dou meu brinde à Glaura Maria que me ensinou como são pouquíssimo racionais todos os ódios.

domingo, 12 de junho de 2016

meu namorado

meu namorado tem cara de tudo
de príncipe de gato de leão
de macaco de céu e até de sapo
meu namorado é tão bacana
que me ama
e eu não sou nada fácil

namorados

Amor é um passarinho. Não combina com os rótulos nem com as prisões.
Namorados e namoradas não se tem. Namorados e namoradas se celebram.