terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amor e Dependência III- Casamento


Casar com alguém que se ama pode ser maravilhoso: contanto que ninguém esteja alienado dos fatos que precedem a própria instituição do casamento. Casar não é apenas amar um ao outro ou conviver debaixo do mesmo teto dividindo responsabilidades.

Quando digitamos “o que é casamento” no Google encontramos nas primeiras páginas os seguintes títulos: “O Significado das Flores, Flores e Decoração no Casamento”, “Qual o significado do casamento para cada um de vocês?”, “Vida Social: Casamento”, “Significado da aliança de casamento, arroz, bolo, vestido, véu”, “O Significado das Bodas do Casamento”. O casamento é, numa vista rápida através do Google, antes de tudo um evento social coroado por flores, bolos, arroz jogado aos noivos e vestidos de casamento de gosto duvidoso- pelo que bem indicam as próprias páginas listadas.

Ainda tendo o Google em mente, nas respostas individuais sobre o significado do casamento, a melhor resposta considerada pelo autor da pergunta foi: “acredito na felicidade, casamento na igreja é apenas uma das tantas formalidades que a sociedade impõe e casamento no civil garante a salvaguarda dos direitos (no final do casamento toma o que é teu e me dá o que é meu), o importante é ser feliz e sem burocracias”.

Vale notar, que no nosso país, o direito de quem coabita- sem vínculos formais de casamento- é o mesmo de quem casa formalmente, logo naturalmente os direitos já estão salvaguardados pela própria constituição nacional. A maioria das pessoas sequer tem noção dos seus direitos e, entretanto fala-se em direitos e salvaguarda de direitos.

Já que os direitos naturais do cidadão e cidadã brasileira estão salvaguardados pela própria constituição, afinal, que garantia é esta que só o casamento traz?

No site The Heritage Foundation, há pesquisas sobre o aumento de abusos sexuais infantis nos Estados Unidos desde 1980. Numa pesquisa britânica feita pelo autor Robert Whelan, é afirmado que as crianças cujos pais biológicos estão casados estão mais seguras neste quesito do que as crianças cujos pais se separaram, especialmente quando as mães estão vivendo com um novo cônjuge.

Não há notícias, por outro lado, de nenhuma pesquisa fazendo a comparação entre o atual quadro de crianças filhas de pais separados e as crianças de antigamente, filhas de pais que se mantinham juntos a qualquer preço, muitas vezes num clima de violência semelhante. Entretanto, aqui eu pergunto: não seria este um quesito onde concretamente há algum benefício no casamento?

Mas se a maioria dos casais se separa, com os filhos ainda pequenos, qual seria então o tão falado benefício do casamento?

Casar é, além de um evento social, um projeto que tende a ter um fim- geralmente anterior ao crescimento dos filhos. Ao se pensar o casamento, é fundamental que se tenha em mente que o amor que une um casal costuma ser passageiro e que, após o casamento, costuma haver a separação. Dar de antemão as melhores soluções possíveis ao problema mais do que provável de uma futura separação seria uma das formas mais racionais de se encarar o casamento.

Mas será que podemos viver de verdade equacionando os problemas que advirão de nossa morte, esta ainda mais garantida do que as separações e perdas que temos pelo caminho?

Ninguém casa pensando nesta estatística tal como ninguém vive pensando no fato mais do que garantido de que um dia morrerá- tirante algum hipocondríaco mais severo.

Talvez o primeiro benefício do casamento seja o mais clássico e o mais desejável de todos: quem casa economiza o tempo e o dinheiro do deslocamento que faria todos os dias a casa de seu (sua) parceiro (a).

Casar sai mais barato que viver separado. Mas é melhor não pensarmos no preço dos antidepressivos que serão consumidos ao longo do casamento, exatamente porque este existe.

Complica demais e não quero ficar conhecida como a figura que desestimula os casamentos. Não e não.

Casar é formidável. Ponto final e definitivo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tua Foto na Minha Estante


Botei uma música, só em casa, cozinhei para mim, dancei e pensei. Você, minha amiga está ali, no mesmo lugar. Uma foto ali no móvel da sala. A foto é do passado, mas você está aqui, no meu coração. Entretanto, eu não estou no seu.

Amigo é, depois dos filhos, a coisa que mais levo a sério. Para cortar relações com alguém de quem me considero amiga, há de acontecer algo muito sério. Você cortou relações comigo. Para você algo muito sério deve ter acontecido.

Penso que está na hora de tirar sua foto do móvel. Guardar junto ao álbum. Não ver todos os dias este rosto que adoro, mas que sei que talvez nunca reveja. Coisa estranha. Tantas pessoas a quem desgosto e que acredito que reverei. Você, justamente você, companheira de tantas viagens, amiga das horas difíceis, você eu acho que não reverei jamais, salvo algum estranho acaso.

Você nunca veio na minha casa nova e agora estou prestes a mudar. Quantas vezes fui à sua? Mas este jogo é o triste jogo do quantas vai quantas vem do fim.

Eu poderia simplesmente tirar a sua foto da minha estante. Para quê escrever para quem não atende ao telefone, não responde emails e mora há tantos quilômetros de mim? Quando passei mal ao longo de todos estes anos você não estava ao meu lado. Quando me desesperei e quase enlouqueci, você nem sequer ficou sabendo.

Poderia pensar que você jamais foi minha amiga. Mas isso também é mentira. É provavelmente a mesma mentira que você conta para você mesma, quando tão facilmente me descartou porque não cumpri a alguma expectativa besta que você resolveu ter de mim.

Na vida, volta e meia acho que a gente foi muito mais longe do que deveria. Não só eu, mas a humanidade inteira, com tantas máquinas, tantos engenhosos inventos que não servem para a maioria das pessoas e para a maioria das coisas que realmente importam. Não há máquina que dê novamente vida aqueles que amamos, quando muito, elas postergam o sofrimento, mas não trazem vida novamente.

No fim, talvez tudo, toda a nossa vida, tudo o que fizemos, a gente pense que não foi mais do que um excesso, algo para se jogar no lixo.

Jogaremos nosso coração no lixo? Jogaremos nossas melhores lembranças no lixo? Perguntas sem respostas para vidas igualmente sem respostas.

Não vou te fazer perder mais tempo. Aliás, talvez você nem sequer tenha lido nada. Eu não consigo não ler o que me escrevem, mas eu sou poeta, sou aquela que se interessa por ruínas, rastos, restos, por tudo o que nos inscreve aleatoriamente neste mundo cada vez menor.

Será que só deveria andar com poetas? Poetas são tão chatos. Bons para nos inspirar, muito aborrecidos para se conviver.

Talvez você tenha razão em não atender mais meus telefonemas. Você não é poeta. Aliás, o que você é no momento? Dentre as várias coisas que gosto em você é você já ter sido secretária, contorcionista de circo, dona de cachorros, de gatos, dona de casa, dona de loja, dona de si. Tantas coisas numa só pessoa.

Você não me atende, mas eu tenho sua foto na minha estante, conheço sua voz de cor e posso muitas vezes adivinhar o que você diria se a gente estivesse conversando.

Você estará sempre comigo. Não é uma promessa. É um fato. Como estarão comigo todos aqueles a quem dou meu coração e chamo de amigos. Seja feliz, ou melhor, seja você mesma. Todos os que de ti se aproximarem saberão, como eu, que você é esta pessoa rara, esta pessoa imprevisível- que pode inclusive abandoná-los sem aviso, sem conversa, sem melodrama.

Você pode ir para o raio que a parta porque tenho seu retrato. E de qualquer maneira, não há raio que te parta. Você é quem parte os raios.

sábado, 22 de agosto de 2009

Amor e Dependência II


II. Descobrir qual é o gatilho desta autonomia feminina é fruto de um trabalho de auto-conscientização permanente. Muitas vezes é descobrir um trabalho onde a mulher se sinta valorizada ou que dele obtenha prazer ao realizá-lo. Outras são botar a raiva para fora, expressar a raiva para aqueles que a provocam.

A raiva é um sentimento quente e o calor, tal como o fogo, tem o poder de transformar aquilo que toca. Quem expressa sua raiva, quem dá voz às palavras que ficam engasgadas ou grita sua fúria sem pudor, retorna desta experiência purificado, centrado, pacificado.

Mas não são muitos os parceiros que aceitam que suas mulheres expressem sua raiva. A coisa pode acabar com a mulher sendo mais uma vez vítima de violência doméstica. Talvez por isso mesmo sejam as mulheres consideradas como seres vingativos “por natureza”.

Será que haveríamos de ser vingativas se tivéssemos a força bruta equivalente aos homens e se pudéssemos revidar os golpes físicos que deles podemos sofrer se expressássemos nossa raiva tal como a sentimos? Por que haveríamos de agir de uma forma tão tortuosa e oblíqua como a vingança se pudéssemos simplesmente dar uma surra no marido ou namorado traidor- como eles costumavam fazer até bem pouco tempo atrás conosco, quando éramos nós que os traíamos?

Considero que o provérbio basco que diz que ser feliz é a melhor vingança realmente a melhor forma de revide às situações limites onde nos vemos abandonadas, trocadas, traídas, humilhadas, aviltadas à condição de meros objetos descartáveis.

Mas por outro lado, como ser feliz quando muitas vezes já perdemos nossos escassos anos de juventude ao lado de um homem que nos abandonou?

Afinal, mesmo a medicina e a cosmética tendo evoluído muito, os recursos que são disponíveis no mercado não têm um custo acessível à maioria das mulheres, afora o fato simples de que, mesmo com todos estes recursos, ainda não podemos refazer nossas vidas e construir uma nova família tal como os homens o fazem.

Com todos os recursos da medicina, não é possível para uma mulher gerar e conceber um filho após os 50 anos e mesmo aos 40 isto nos dias de hoje ainda é considerado como gravidez de risco.

Eis porque tantas mulheres que não querem simplesmente assumir a postura passiva de vítimas se dedicam a arquitetar incríveis vinganças para assim devolver aos homens o mal causado por estes.

Dentre as vinganças mais comuns estão a de arrumar um amante. Esta vingança raramente satisfaz à mulher porque se ela mesma não deseja outro homem, todo o evento se torna uma atuação, um teatro, onde tanto a mulher quanto o amante saem frustrados. Mesmo um homem ciumento, quando já decidiu abandonar sua mulher em favor da amante já não sente mais ciúmes.

Homens em geral não costumam abrir mão de seu casamento e quando tomam uma decisão como esta, de abandonar a esposa e talvez a família que com ela constituiu, isto só se dá porque o evento passou do limite do tolerável para o homem.

Por isso, arrumar outro homem como vingança geralmente não dá em nada, apenas em mais frustração para a mulher. Só há chance disto dar certo quando a mulher sinceramente se sente atraída pelo amante. Mas aí, ela já está feliz e não pensa mais em vingança alguma. É o novo amor que para ela se apresentou.

Arquitetar uma vingança perfeita, que faça o homem sofrer como a mulher abandonada, sem que esta sofra as punições da lei, é uma arte. Na comédia O Clube das Desquitadas, Bete Midler, Diane Keaton e Goldie Hawn encarnam as mulheres traídas/abandonadas e dão um show no assunto vingança perfeita. A frase pronunciada por Ivana Trump “Não peguem apenas, peguem tudo!” é o grande mantra destas personagens durante o hilário filme.

Conforme disse antes, a raiva é como o fogo, um elemento que transforma a tudo em algo diferente. A vingança é a raiva atuada de forma consciente e descobrir os pontos fracos de um homem com quem se conviveu por muito tempo não é uma tarefa tão difícil assim.

Pessoalmente, acho que bolar uma vingança inteligente, que não fira fisicamente nem incapacite ninguém para prosseguir com sua vida, algo bem mais digno do que passar o resto da vida sendo “a pobrezinha da Fulana”. Quem escolhe se resignar ao azar não é apenas traído uma vez. São milhares de vezes traídos. É traído a cada vez que se pensa como vítima, é traído a cada vez que recebe olhares compadecidos, é traída para todo o sempre, enquanto a memória do evento permanece.

Já o traído que se vinga de forma inteligente pode até se dar ao luxo de perdoar e, finalmente, esquecer o mal sofrido. Simplesmente porque o que realmente importa no fim das contas é ser feliz.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amor e Dependência I


Dentre os que se desesperam diante da iminência da perda de um amor, estão aqueles que dependem daquele que pensam amar.

Quem imagina que só é possível viver se o outro estiver ao seu lado, na maioria das vezes é simplesmente dependente do outro. Depender é muito diferente de amar, mas as práticas são semelhantes.

Quem ama sofre por perder um amor, sem dúvida. Como haveria de ser diferente, já que o amor romântico é uma das formas de amor mais prazerosas e mais satisfatórias? Quem ama e perde um amor irá sofrer e de acordo com a intensidade deste sentimento, este sofrimento será maior. Mas quem ama e não depende do outro sabe que é capaz de viver sem ele. Mesmo quando está no fundo do poço, no auge da tristeza, está ciente de sua autonomia existencial.

Já quem depende do outro, como considera que sua vida por esta ou aquela razão está atrelada ao outro, não se sente capaz de viver sem este. Das dependências, talvez a menos nefasta seja a financeira. Um bom advogado pode dar excelentes idéias de como tirar proveito de uma separação ou, se não houver jeito, arrumar um novo trabalho ou mudar o estilo de vida resolve.

As piores dependências são justamente aquelas que a pessoa não sabe exatamente por que depende do outro, simplesmente só está tranqüila se está junto do outro- ou se imagina que está junto ao outro.

As dependências afetivo-existenciais são as mais complicadas de serem solucionadas até porque a cultura é cheia de filmes e livros que encorajam especialmente às mulheres para que só se sintam felizes quando acompanhadas por um homem.

Arrumar um namorado/marido vem sendo a meta universal da grande maioria das mulheres das mais diversas culturas e das mais diversas origens sociais ao longo de séculos no mundo inteiro. Não importa o homem, não importa a quê preço: tudo é válido para que ao fim a mulher tenha um homem para chamar de seu.

A estratégia para se trabalhar isso é antes de mais nada reconhecer que isto está ocorrendo. Não há como se mobilizar toda a força que é necessária a uma mudança deste calibre sem a consciência de que se está diante de um problema.

Em seguida, se possível, perceber quais as origens deste comportamento. Conhecer as origens de um comportamento evita que a mulher repita em novas circunstâncias de vida este mesmo padrão.

Por fim, reajustar a mulher aos seus próprios desejos, impulsos e pensamentos através de múltiplos engajamentos com atividades que a desafiem e que lhe tragam prazer.

sábado, 15 de agosto de 2009

O Vizinho e seu Violino


Ouço um violoncelo. Pelo basculante de meu banheiro, chega o som. Não é um cd. É alguém tocando sozinho.

Conheço todos os meus vizinhos.

Quem será este que anima minha solidão com um som tão belo?

Será jovem, será velho? Será um homem ou uma mulher?

Certamente é um profissional. Se for um amador, tocando tão bem, é um poeta.

Ouvi sua voz neste instante. Ao terminar um dos trechos da música que tocava, falou para alguém “Então acabou”. Portanto, está mostrando para alguém. O que? Não sei. Deve ser para só uma pessoa, até porque até agora não ouvi nenhuma voz além da dele, o celista. Talvez seja sua amante. Ou por que ele estaria tocando de forma tão sentida?

Ela deve estar como eu: extática. Quase sem respirar para que som da respiração não atrapalhe.

As notas se sucedem. Uma cachoeira de sons. Uma buzina lá fora desafina a harmonia.

Lembro de um jovem amigo com quem conversei ontem. Ele está tocando violino há três anos.

Tenho vontade de dizer pra ele que um homem tocando bem um instrumento é um Deus. Alça-se às estrelas e a uma categoria dos que estão além deste tempo, talvez deste mundo. Embora seja impossível fazer música fora deste mundo.

Os que trazem o belo para nós jamais deveriam adoecer ou morrer. Deveriam pairar incorpóreos sobre nós como as notas que extraem de seus instrumentos.

Vim ao banheiro para tomar banho, mas desisti. Escuto com devoção.

A beleza nos tira as tensões. Tanto é assim que me recostei aqui no assento da privada- donde ouço este meu concerto matinal. Sem querer, por relaxar as costas, acionei a descarga com o peso do corpo.

Não quero perder uma só nota. Reteso meu corpo para que as costas se alinhem rapidamente e o silêncio invade novamente o banheiro.

Ele, o músico, diz agora “Está errado” e sinto que houve alguma dificuldade na execução deste trecho.

Um artesão. Fazendo com que seus dedos se tornem cada vez mais precisos e as notas cada vez mais limpas. O que move alguém a fazer algo assim, de forma tão exata num mundo onde ninguém mais se importa com nada?

Sim, caro vizinho desconhecido, toque. Seja o Deus, seja você mesmo.

O telefone toca.

Contrariada vou atendê-lo. Volto correndo. A música não parou. E eu poderia ouvi-la até o fim dos meus dias. Fiel a ela como não fui fiel a nada do que fiz até hoje.

O telefone tocou novamente.

Já estou inquieta. Decido que vou tomar banho.

E a música? E a fidelidade imaginada eterna?

Penso aquilo que costumo pensar ao abandonar às coisas que me extasiam. Hei de ouvi-la novamente.

Mas o que sei eu sobre o futuro? O casal de passarinhos que se mudou definitivamente para o meu ar condicionado voltou. Mas as coisas belas não são sempre os passarinhos vadios da minha janela. E esta música, jamais a ouvi antes.

Muitas coisas belas eu as deixei e nunca mais as vi.

Ocorre-me aplaudi-lo.

Melhor não. O que ele faz, a forma como o faz, parece bastá-lo. E já deve ter ouvido muitos aplausos na vida- certamente é um profissional. Algum músico visitando alguém, de passagem por aqui.

Custa-me a crer que alguém, um simples mortal, toque assim, tão divinamente.

Agradeço em silêncio pela oportunidade de estar ali, ouvindo algo tão bonito. E vou tomar meu banho. Sou moderna demais para eternidades. Sou ansiosa demais para a contemplação.

Provavelmente sempre que entrar no banheiro daqui pra frente vou torcer para que novamente o vizinho esteja tocando.

O desejo de eternidade vem para o papel, depois para o blog. Neste mundo sem chão, faço a gravação deste momento.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Entre o Paraiso e o Abismo


Vesti meu terno, botei meu chapéu, peguei minha pasta. Como faço todos os dias, fervi a água, botei o café pra passar. Escovei meus dentes. Como todos os dias, fui trabalhar.


No meio do caminho, ouvi uma música maravilhosa. Não sabia de onde ela vinha. Olhei os carros que passavam procurando donde vinha aquele som. Não era de nenhum carro. Olhei em volta. Nenhum alto falante, nada.


De repente vi um pássaro com cores que jamais tinha visto. Logo depois outro. E mais outro. Eram tão belos como devem ser os pássaros do paraíso. E eis que a música vinha do céu.


Sem pensar em nada, entrei num prédio, o mais alto que vi, subi no elevador. No último andar, saltei. Subi uma escada. Lá em cima, vi aqueles pássaros, aquele céu. E fui em direção a eles.


Vi que aquilo era o paraíso.


Que importava se meus passos me levassem para o abismo? Que me importava se meu corpo não se libertasse junto a minha alma? Se agora eu sabia o que era o paraíso, nada mais me importava.


Simplesmente, estou lá. Em lugar algum. No canto do céu.
Em homenagem ao Nowhere Man