sábado, 22 de agosto de 2009

Amor e Dependência II


II. Descobrir qual é o gatilho desta autonomia feminina é fruto de um trabalho de auto-conscientização permanente. Muitas vezes é descobrir um trabalho onde a mulher se sinta valorizada ou que dele obtenha prazer ao realizá-lo. Outras são botar a raiva para fora, expressar a raiva para aqueles que a provocam.

A raiva é um sentimento quente e o calor, tal como o fogo, tem o poder de transformar aquilo que toca. Quem expressa sua raiva, quem dá voz às palavras que ficam engasgadas ou grita sua fúria sem pudor, retorna desta experiência purificado, centrado, pacificado.

Mas não são muitos os parceiros que aceitam que suas mulheres expressem sua raiva. A coisa pode acabar com a mulher sendo mais uma vez vítima de violência doméstica. Talvez por isso mesmo sejam as mulheres consideradas como seres vingativos “por natureza”.

Será que haveríamos de ser vingativas se tivéssemos a força bruta equivalente aos homens e se pudéssemos revidar os golpes físicos que deles podemos sofrer se expressássemos nossa raiva tal como a sentimos? Por que haveríamos de agir de uma forma tão tortuosa e oblíqua como a vingança se pudéssemos simplesmente dar uma surra no marido ou namorado traidor- como eles costumavam fazer até bem pouco tempo atrás conosco, quando éramos nós que os traíamos?

Considero que o provérbio basco que diz que ser feliz é a melhor vingança realmente a melhor forma de revide às situações limites onde nos vemos abandonadas, trocadas, traídas, humilhadas, aviltadas à condição de meros objetos descartáveis.

Mas por outro lado, como ser feliz quando muitas vezes já perdemos nossos escassos anos de juventude ao lado de um homem que nos abandonou?

Afinal, mesmo a medicina e a cosmética tendo evoluído muito, os recursos que são disponíveis no mercado não têm um custo acessível à maioria das mulheres, afora o fato simples de que, mesmo com todos estes recursos, ainda não podemos refazer nossas vidas e construir uma nova família tal como os homens o fazem.

Com todos os recursos da medicina, não é possível para uma mulher gerar e conceber um filho após os 50 anos e mesmo aos 40 isto nos dias de hoje ainda é considerado como gravidez de risco.

Eis porque tantas mulheres que não querem simplesmente assumir a postura passiva de vítimas se dedicam a arquitetar incríveis vinganças para assim devolver aos homens o mal causado por estes.

Dentre as vinganças mais comuns estão a de arrumar um amante. Esta vingança raramente satisfaz à mulher porque se ela mesma não deseja outro homem, todo o evento se torna uma atuação, um teatro, onde tanto a mulher quanto o amante saem frustrados. Mesmo um homem ciumento, quando já decidiu abandonar sua mulher em favor da amante já não sente mais ciúmes.

Homens em geral não costumam abrir mão de seu casamento e quando tomam uma decisão como esta, de abandonar a esposa e talvez a família que com ela constituiu, isto só se dá porque o evento passou do limite do tolerável para o homem.

Por isso, arrumar outro homem como vingança geralmente não dá em nada, apenas em mais frustração para a mulher. Só há chance disto dar certo quando a mulher sinceramente se sente atraída pelo amante. Mas aí, ela já está feliz e não pensa mais em vingança alguma. É o novo amor que para ela se apresentou.

Arquitetar uma vingança perfeita, que faça o homem sofrer como a mulher abandonada, sem que esta sofra as punições da lei, é uma arte. Na comédia O Clube das Desquitadas, Bete Midler, Diane Keaton e Goldie Hawn encarnam as mulheres traídas/abandonadas e dão um show no assunto vingança perfeita. A frase pronunciada por Ivana Trump “Não peguem apenas, peguem tudo!” é o grande mantra destas personagens durante o hilário filme.

Conforme disse antes, a raiva é como o fogo, um elemento que transforma a tudo em algo diferente. A vingança é a raiva atuada de forma consciente e descobrir os pontos fracos de um homem com quem se conviveu por muito tempo não é uma tarefa tão difícil assim.

Pessoalmente, acho que bolar uma vingança inteligente, que não fira fisicamente nem incapacite ninguém para prosseguir com sua vida, algo bem mais digno do que passar o resto da vida sendo “a pobrezinha da Fulana”. Quem escolhe se resignar ao azar não é apenas traído uma vez. São milhares de vezes traídos. É traído a cada vez que se pensa como vítima, é traído a cada vez que recebe olhares compadecidos, é traída para todo o sempre, enquanto a memória do evento permanece.

Já o traído que se vinga de forma inteligente pode até se dar ao luxo de perdoar e, finalmente, esquecer o mal sofrido. Simplesmente porque o que realmente importa no fim das contas é ser feliz.

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