quarta-feira, 26 de março de 2008

NÃO-NAMORADO


Meu querido não-namorado
Meu achado
Preciosa descoberta

Não te verei aos fins de semana
Nenhum drama
Nem contigo irei casar

Serás meu sem me pertencer
Me terás sem compromisso

Teu beijo tem um gosto
De uma coisa sem nome

Teu abraço é um laço
Que me prende
Sem querer

Talvez o nosso fim
Seja apenas um começo

Talvez esse começo
Seja o fim visto do avesso

Te quero hoje
Amanhã me desespero

Sempre te venero
Na soma dos instantes

são os anjos que nos pedem silêncio

quarta-feira, 19 de março de 2008

CANÇÃO CONTRA O ÓDIO


Tão perto

Tão distante

Odiar o diferente

Acatar o semelhante

Como você vê

aquele que você não conhece?

Como você vê

você mesmo mudando a todo instante?


Você torce para um time que não torço

Acredita no Deus que não é o da minha igreja

É pobre é rico

É homem é mulher

É jovem é velho

É o estrangeiro

que não controlo

A quem espanco

porque tenho medo


Medo medo medo

Qual é o segredo

de ser macho sem porrada

de ser mulher sem maquiagem

ser humano

ser verdadeiro

ser sempre novo

Tudo começa saindo do ôvo

segunda-feira, 17 de março de 2008

Pelo Fim da Violência das Torcidas Organizadas Dentro e Fora dos Estádios

Hoje às vinte e duas horas, meu filho de quinze anos foi atacado no Largo do Machado por três indivíduos adultos da chamada “Raça” rubro-negra, uma ala radical da torcida flamenguista. Meu filho estava voltando de um aniversário de um amigo, vestindo uma camisa do seu time, o Vasco.

Estes três covardes o seguiram e em pleno Largo do Machado, na frente da Igreja, o atacaram a socos e pontapés, atingindo principalmente o rosto de meu filho.

Fui chamada às vinte e três horas pelo celular por pessoas que o atenderam. Por sorte, estava com um amigo que tem um carro e pude me dirigir rapidamente para o bar Bumerangue, na Rua das Laranjeiras.

Lá chegando, encontrei meu filho muito nervoso, com o rosto desfigurado, chorando. Fomos correndo para o Miguel Couto onde ele foi atendido e para nossa sorte, sem nada mais grave além de uma fissura no nariz.

O Brasil sempre foi caracterizado por ter um povo alegre e aqui nunca tivemos tradição de um povo radicalmente agressivo fosse por questões de religião ou raça. Nossa colonização foi uma das poucas onde os colonizadores se misturaram aos colonizados e a tônica do país foi o de uma receptividade inteligente junto à variedade racial e cultural.

Nos últimos tempos, tem proliferado o comportamento “pitboy” e as torcidas que antes quando muito tinham um ou outro incidente isolado, hoje recorrem à violência como uma constante.

Hoje é um perigo de vida um jovem usar a camisa de seu time e as torcidas parecem tão mais violentas, quanto mais medíocre o futebol tem se mostrado na atualidade.

É necessário que a população acorde para estes fatos e não espere apenas da polícia e do Estado providências para acabar com a onda de violência das torcidas organizadas. Temos que fazer mais do que reclamar ou nos amedrontar diante deste comportamento imitado dos Hoolingans ingleses.

Civilidade é antes de tudo fruto de educação e consciência. Cidadania por sua vez é ação direta e concreta de todos nós.

Pelo fim da violência das torcidas organizadas dentro e fora dos estádios. A escolha do seu time, tal como todas as outras escolhas, só é possível com a verdadeira liberdade para que isto aconteça. Por uma sociedade responsável e sem medo.

Repasse este texto a todas as suas comunidades do orkut, a todos os seus amigos e faça você também a sua parte. Vamos debater estes temas e encontrar solução para isto. Que nenhum outro jovem seja brutalizado como foi meu filho nesta noite de 16 de março de 2008.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Típicos Delírios Femininos


De novo é sexta feira. Tenho aula das seis às dez. Mas e depois? Chamo um moço lindo que sempre quis comer e que reencontrei quando passeava em Ipanema com a Beth, arriscando ele só querer saber de mim como amiga e ficar arrasada ou fico solitária entre meus queridos fantasmas que tomarão conta da cama nesta noite ansiosa? Fantasmas nunca dizem não, é fato. Mas não contam piadas.

Quando revi este amigo, depois ele veio me visitar. Jurei me comportar bem, consegui. Prometi a mim mesma que só daria pra ele com cinco quilos a menos. Ele é belo demais para eu apresentar esta barriga. Só de pensar naquele corpo de homem harmonioso com nada a mais nem a menos, vejo que desisto.

Em tese, era para ser o contrário: eu, como mulher, a bela. Ele como homem, poderia ser feio, porque homem pode sempre ser feio. Acontece que ele é lindo, rosto, corpo e pensamento. Mas também era para ser ele a me telefonar, não eu. Num filme que vi, a mulher mais experiente dizia para a outra, mais jovem “quebre seu dedo, mas jamais ligue você primeiro para um homem”. Quantos dedinhos eu vou ter que quebrar. Um monte. Vai faltar dedo.

Ouço um cara chamado Jacques Brel, francês, brinca comigo e diz que na luz da lua todos os amantes amam pela primeira vez. Ou seja: com sorte, a barriga não é parte do cenário. Coisa que duvido, pois onde quer que eu vá, ela chega primeiro. Esqueço de tanta coisa. Por que não me esqueço dela? Esqueci coisas muito mais importantes que a barriga. Esqueci como era o pau maravilhoso do primeiro cara que me fez gozar. Mês passado esqueci-me de pagar meu seguro de saúde. Se tivesse viajado, iam ter me segurando na fronteira porque estou sem seguro. Esqueço tudo. E nada de esquecer este detalhe íntimo anatômico. Atômico. Penso que poderia existir uma bomba atômica localizada, que só fizesse sumir barriga. E queria que sumisse hoje, até as dez.

Apelo à minha cara de pau. Ele também pode estar sem saber o que fazer hoje à noite. Quais as chances de um cara lindo, morador de Ipanema, estar sem programa para sexta feira? Meus dedos tremem, o celular salta da minha mão e me desafia lá embaixo do emaranhado de fios e pêlos de cachorro. Levo um choque, ele ri. Puxa, por que você ri? Aposto que ele também me acha bonitinha e só não me telefona porque imagina que eu já tenho programa. Não pode ser isso, não? Vem cá, porcaria, me deixa discar o número dele. Se eu cantar Dulcinéia para você, será que você dá uma facilitadinha e chega mais pertinho de mim, longe dos fios e dos choques?

De repente ocorre-me que choques elétricos devem tonificar a barriga. Arrisco. 100 mil voltz me atacam ferozmente. Ela, nada, impávida, continua lá. Mas o celular finalmente está na minha mão.

Olho, olho, os números dele 98920596. Vontade de me desintegrar. Quebro o dedinho como a moça do filme disse? Socorro, eu clamo aos céus. Nada vai me salvar de pagar este mico? Nada? Mal conseguindo olhar para o teclado, finalmente disco. Fora de área, graças a Deus.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Dia Internacional da Poesia se comemora com...uma poesia desesperada!


Se eu rimar angústia com alguma coisa
Do tipo angu
Ou Rússia
Será que a angústia vai embora?

Talvez o mal da angústia seja a falta de rima
E a sina da palavra tão deserto
Tão ferida que não cicatriza
Seja apenas a prima cretina
Que nunca coube numa poesia
Mas sobrou em estrepolia
Por isso nos maltrata
E nos fascina
Poetas bichos esquisitos
Que querem transformar tudo em palavra
E todas as palavras em poemas
Que ninguém lê

No meio da dor de dente
O corpo sofre
E rumina no guardanapo
Onde cospe sangue
Um mangue imaginário
Onde um dentista sem anestesia
Dele tudo arranque
Dente dor angústia e poesia
Melhor folha vazia
A lágrima pendurada no olho
Furado no meio da cara
Torcido em sorriso forçado
Um arado de boi que se faz gente
Uma gente que se faz pasto
E o mundo sem fome nenhuma

Sem pestanejar
Arranco meu coração do peito
Só pra te mostrar
Veja
Que verso bonito!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Para todos os Mistérios Só é Necessário Três Versos


O que é a vida?
Um suspiro da eternidade sem rastro
Um cometa que passa

O que é a morte?
A face oculta da lua
A noite de mala vazia

O que é a verdade?
A planta que nasce entre o asfalto e o muro
Algo que resiste

O que é a mentira?
A tristeza da ilha filha da terra
Prisioneira do mar.

Quem sou eu?
Uma paisagem impressionista
Pintada por um cubista.

domingo, 9 de março de 2008

Pessoas de Moral Ilibada


Ilibada: sinônimo de não manchada, pura, não tocada, incorrupta. Todos estes adjetivos não combinam com saia mostrando as pernas, pílula anticoncepcional para se fazer sexo sem ter risco de engravidar contrariando a mamãe natureza e a dona Igreja, orgasmo para todos, homens e mulheres.


Quem trepa, se toca. Mancha-se.


Quem usa minissaia induz ao desejo, projeta-se para o sexo. E quem goza, ora quem goza sabe que o prazer sempre tem algo de inclemente, absoluto, voraz que não se ajusta às leis, aos bons costumes, à civilização, sempre tão limpa, anticéptica, insípida, entre os frufrus das rendas das senhoras vitorianas e os modernos automóveis brilhantes.

Nem minha avó era assim e ela era a pessoa mais cândida que conheci sobre a face da terra.


Dócil feito um carneirinho, boa feito só as avós podem ser tão boas, jamais usou minissaia e passou toda sua vida dedicada ao trabalho e aos seus seis filhos, netos e bisnetos na cidade grande.


Minha avó foi tocada pelo meu avô, foi tocada pelo desejo. Quando meu avô morreu e a deixou tão jovem ela seguiu a vida, ocupada demais para arrumar outro homem, mas mesmo assim, sempre sonhadora de outro romance que em vida jamais conheceu. Só em novelas. Vovó era uma grande fã de novelas, não perdia nenhuma, mas o fato é que de pura nada teve. Incorrupta? Talvez.


Será que alguma mulher que conheceu o desejo e o orgasmo consegue realmente ser incorrupta?


Não será o prazer justamente nosso primeiro corruptor, já que é contra o prazer que se fazem as regras de bom comportamento? Não sei, mas me pergunto. Quem nunca errou nunca experimentou nada de novo, já nos disse Einstein. Quando pensamento foge dos trilhos é que começamos a errar, a duvidar, a nos corromper.

Os incorruptos seguem por caminhos mil vezes traçados por isso mesmo são incorruptos: eles seguem às normas e as cumprem à risca. É preciso jamais ter vivido com intensidade, jamais ter arriscado o novo, jamais ter arredado um centímetro da estrada para se levar o título de ilibado.

Se você vive com intensidade, se sua cabeça é que o norteia, se você decide o que é que lhe faz feliz e age apenas conforme seu próprio limite acredite você já é uma pessoa manchada, fora do trilho. Usou minissaia, camisinha, pílula? Esqueça este título. Você enganou a mãe natureza, aos padres e os padres é quem fundaram toda a ética que, mesmo caduca, é o que delimita se alguém pode ser chamado ou não de ilibado.

Eu trepo, não tenho relações sexuais porque ter relações sexuais me parece o sexo que se faz sem sujar lençol e jamais transpirar, então eu trepo porque suo e mancho lençóis aos montes.

Eu arrisco porque faço até o que não sei.

Eu minto porque justamente nem sempre sei o que é o certo e, no entanto não quero abrir mão das coisas que sei que não devo jamais abrir mão.

Não sou uma pessoa de moral ilibada.
Entretanto sou capaz de amar. Posso dar minha vida pela felicidade do próximo sem esperar retorno. Sou então uma pessoa de bom coração, dirão alguns.
Dado que saber amar não é amar e amar é não saber e tudo o que se refere aos sentimentos é incerto, poderei pensar a meu respeito que simplesmente sou gente e tenho de aprender a ser mais humilde com tudo o que desconheço e mais tolerante com todos os que não vejam à vida como eu vejo. E certamente ter a mais clara noção de que definitivamente não posso me considerar alguém de moral ilibada.

Fui manchada pela vida, tocada pelo amor e pelo milagre.



sexta-feira, 7 de março de 2008

Nós, Mulheres


A mulher de carne que todas passeamos
Somos também vertigem e incêndio
A louca da varanda que ri da lua e sonha com cavalos
A mulher naufrágio que sereia muda no corpo do namorado
Sim somos todas estas
E mal temos tempo para passar um batom
Na boca da madrugada
Nossa dimensão é absurda e vai da sala de aula
Professora aos gritos
Até a executiva top
Pés massacrados pelo salto
Pulando de abismo em abismo
Nossa alma é mais vasta do que o rótulo que nos dão
Esposa mãe irmã tia namorada nada
E nosso abismo é maior que nosso medo
Somos a flor terna do segredo
De sermos tantas em apenas uma só
Quem é mulher cedo aprende
Que ninguém jamais nos entende
E que passaremos a vida a rir da revista que diz que é fácil
Trabalhar estar bela ser apaixonante ser feliz e ganhar pouco


Não, não é fácil ser mulher
É questão de treino
Insistência e talento
Nem todo mundo consegue
Ser simplesmente

Uma mulher

quarta-feira, 5 de março de 2008

Paixão ou o Fogo da Bacurinha


Como é que a gente explica para um homem que mesmo que a gente chore baldes de lágrimas ainda há dentro de nós um oceano inteiro de outras lágrimas possíveis e que estas, tais como as risadas são infinitas como as vontades? Faz até bem chorar, melhor do que comer chocolates ou ver Big Brother na tv.

Como é que a gente traduz para um bom Português que meia hora depois de chorar cântaros, a gente canta, fala bobagem, liga para as amigas e a vida segue? A gente pode chorar mais do que em enterro, mas nem por isso nada nem ninguém morreram. Quando muito, morrem esperanças que daqui a pouco estarão vivas novamente por um outro cara, por um outro assunto ou simplesmente porque o dia amanheceu de um outro jeito – obviamente se a gente não morrer antes disso por puro acidente.

Uma outra coisa que acho interessante descobrir é como é que a gente faz para que um cara perceba que é metáfora quando a gente diz “não vivo sem você”. Ora, a gente vive sim. Viveu antes, viverá depois. Salvo impedimentos de outra natureza, nós sempre sobreviveremos à morte do amor. Aliás, quem morre é a paixão, pois o amor nunca morre. Amores reais não são na base do ama/desama. Amor não acaba porque amor é um sentimento infinito e, se tem fim é porque a palavra está errada, salve Nelson Rodrigues.

Por que tanto espanto e consternação com um “estou apaixonada”? “Estou apaixonada” não quer dizer quero casar contigo. “Estou apaixonada” não quer dizer que acho que você esteja igualmente apaixonado. Quando há dois apaixonados, ninguém precisa pronunciar a palavra porque ela está ali, voando como borboleta. Relaxem, pois “Estou apaixonada” definitivamente não quer dizer que pretendo largar meu caminho para seguir o seu, ou que daqui para frente serei sua carcereira.

A paixão vale definir melhor, é um nada que acontece quando os hormônios fazem carnaval na cabeça. Também poderíamos chamar a paixão de alucinação temporária por um ser que tanto faz se existe ou se é invenção da cabeça. Aliás, nove entre dez paixões são, de fato, alucinações. É o cara que você seria se você fosse um cara e vivesse fora de você. Você imagina as melhores qualidades num sujeito que tanto pode até ter alguma qualidade como nenhuma.

A paixão desacontece quando a órbita do nosso objeto do desejo é finalmente entendida. A paixão nunca resiste ao entendimento. Razão e paixão andam para lados opostos. A paixão é uma chatice. Mas dá um tesão danado. A chatice vai embora? Resta aquele marasmo do corpo apenas corpo, corpo que nada é – salvo um corpo no meio de zilhões de outros corpos, piores e melhores. De outras inteligências, melhores ou piores. Paixão? Ruim com ela, pior sem.

Alguém por favor, bote um grande letreiro em néon explicando que berimbau não é gaita, que por mais que as palavras sejam falhas elas explicam melhor às coisas do que os silêncios. Contratem teco-tecos para levar de um lado ao outro da praia um dizer em letras de fogo bem assim:

"A ausência jamais foi de nenhuma serventia para fazer nascer à compreensão entre pessoas. Esteja presente quando causar dor esteja presente quando magoar e ame exatamente quando é mais difícil amar. Quando é fácil, ninguém precisa de amor".

Depois que o teco-teco rodar São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo, Flamengo você volta aqui ao blog para terminar de ler o texto.


Pois a pergunta que não quer calar é: por que há homens que odeiam quando uma mulher fala sobre seus sentimentos? Por que designam com tanta presteza à mulher que publicamente fala de si e de suas carências como a mal-amada? Ser mal-amada é palavrão?

Pois se a grande maioria das mulheres é de fato mal amada, a fantasiar homens carinhosos para chamar de seu que jamais acontecem. A mulher costuma só ser bem amada por um breve tempo: o tempo da paixão. Homens que são homens não costumam ser carinhosos, nem tampouco pacientes.

A paciência é coisa de mulher, bicho feito para esperar nove meses. Carinho também é coisa de mulher: animal estruturado para dar tudo que o mundo irá negar ao seu rebento.

Sim, há as que não são nenhum pouco assim. Que delas se ocupem os homens que adoram mulheres que em nada dependem deles e que nenhum pouco se ressentem de sua ausência.

Aqui eu penso mulheres que nunca têm tempo para fazer tudo o que mulheres precisam fazer e que sempre ganham muito menos do que merecem. Nós, as carentes. De um tudo. E cheias de fogo, elemento que a tudo transforma.


Paixão, em mulher, é o fogo da bacurinha transcedental que transforma a Amélia conformada numa Messalina ardente, que esconde na bolsa o perfume e a meia de seda para um happy-hour com o sonho.

terça-feira, 4 de março de 2008

Se Não Aconteceu, Pior para os Fatos


Meu ventilador respira no calor úmido da sala. Desnorteado, gira sua cabeça para lá e para cá.

Tive um momento pornográfico e afirmei que mi culletto es su culletto e só depois me dei conta que sou um ser suculento de cabo a rabo. Mas tirante isso, o zig zag dos mosquitos é poesia e a torradeira salta seus pãezinhos queimados bem debaixo do meu nariz.

Eu queria ser Copacabana, mas quem nasceu laranja não vira praia assim do nada.

É preciso ousar temeridades e ligar o farol do carro na frente, em vez de atrás. Um cara muito careta hoje me telefonou, por sorte não atendi porque estava de óculos. Os caretas dominaram o mundo desde o finado Marco Aurélio ou tudo teria sido Cleópatra.

Não consigo entender a graça de viver a vida lendo jornais em vez de fazer você mesmo a notícia. A notícia é objeto direto de fazer, é ou não é? E fazer notícia só depende de criatividade e espírito cosmopolita.

Cosmopolita é nome de fogão. Eu gostaria mesmo era de ter uma geladeira chamada Cleópatra.

James Stewart e Kim Novak abraçados em Vertigo. Nasci vendo heróis cinematográficos e procurando estes personagens nos homens que conheci. Filme que vi, romances que vivi, nunca soube a diferença: salvo nas sextas feiras em que fiquei só.

Espero que meu amor me encontre, tenho deixado todos os dias pegadas.

Sempre adorei homens barbudos, desde quando me apaixonei por Papai Noel. Tinha quatro anos. Quatro décadas depois, ainda prefiro os cabeludos. Mesmo que eles estejam carecas e seus cachos tenham ido parar em seus pensamentos, igualmente barrocos.

Separei os parágrafos, num resquício último de civilização. Esta semana começo o Francês.

sábado, 1 de março de 2008

Mar do Fotógrafo


Em teu corpo passa um mar
Cheio de dor e fúria
Não sei quais peixes abissais
Tão coloridos e cheios de pinças
Pontas lanças estiletes agulhas farpas
Teu sorriso tão bonito
risada vibrante
olhos meninos
E os gestos de um príncipe
Tudo fica molhado
E os peixes bizarros navegam
E rasgam tua pele
Peixes não são maus nem bons
Mas eu queria um peixe lambida
Pra secar tuas feridas
E te fazer descansar no meu colo sem dor alguma