sexta-feira, 14 de março de 2008

Típicos Delírios Femininos


De novo é sexta feira. Tenho aula das seis às dez. Mas e depois? Chamo um moço lindo que sempre quis comer e que reencontrei quando passeava em Ipanema com a Beth, arriscando ele só querer saber de mim como amiga e ficar arrasada ou fico solitária entre meus queridos fantasmas que tomarão conta da cama nesta noite ansiosa? Fantasmas nunca dizem não, é fato. Mas não contam piadas.

Quando revi este amigo, depois ele veio me visitar. Jurei me comportar bem, consegui. Prometi a mim mesma que só daria pra ele com cinco quilos a menos. Ele é belo demais para eu apresentar esta barriga. Só de pensar naquele corpo de homem harmonioso com nada a mais nem a menos, vejo que desisto.

Em tese, era para ser o contrário: eu, como mulher, a bela. Ele como homem, poderia ser feio, porque homem pode sempre ser feio. Acontece que ele é lindo, rosto, corpo e pensamento. Mas também era para ser ele a me telefonar, não eu. Num filme que vi, a mulher mais experiente dizia para a outra, mais jovem “quebre seu dedo, mas jamais ligue você primeiro para um homem”. Quantos dedinhos eu vou ter que quebrar. Um monte. Vai faltar dedo.

Ouço um cara chamado Jacques Brel, francês, brinca comigo e diz que na luz da lua todos os amantes amam pela primeira vez. Ou seja: com sorte, a barriga não é parte do cenário. Coisa que duvido, pois onde quer que eu vá, ela chega primeiro. Esqueço de tanta coisa. Por que não me esqueço dela? Esqueci coisas muito mais importantes que a barriga. Esqueci como era o pau maravilhoso do primeiro cara que me fez gozar. Mês passado esqueci-me de pagar meu seguro de saúde. Se tivesse viajado, iam ter me segurando na fronteira porque estou sem seguro. Esqueço tudo. E nada de esquecer este detalhe íntimo anatômico. Atômico. Penso que poderia existir uma bomba atômica localizada, que só fizesse sumir barriga. E queria que sumisse hoje, até as dez.

Apelo à minha cara de pau. Ele também pode estar sem saber o que fazer hoje à noite. Quais as chances de um cara lindo, morador de Ipanema, estar sem programa para sexta feira? Meus dedos tremem, o celular salta da minha mão e me desafia lá embaixo do emaranhado de fios e pêlos de cachorro. Levo um choque, ele ri. Puxa, por que você ri? Aposto que ele também me acha bonitinha e só não me telefona porque imagina que eu já tenho programa. Não pode ser isso, não? Vem cá, porcaria, me deixa discar o número dele. Se eu cantar Dulcinéia para você, será que você dá uma facilitadinha e chega mais pertinho de mim, longe dos fios e dos choques?

De repente ocorre-me que choques elétricos devem tonificar a barriga. Arrisco. 100 mil voltz me atacam ferozmente. Ela, nada, impávida, continua lá. Mas o celular finalmente está na minha mão.

Olho, olho, os números dele 98920596. Vontade de me desintegrar. Quebro o dedinho como a moça do filme disse? Socorro, eu clamo aos céus. Nada vai me salvar de pagar este mico? Nada? Mal conseguindo olhar para o teclado, finalmente disco. Fora de área, graças a Deus.

Nenhum comentário: