quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval, a Grande Festa






















Serpentinas
Purpurinas
Violetas, douradas, prateadas, azuis, vermelhas e rosas
Não há cor que não caiba no carnaval
Não há música que não se cante
Não há história que não brilhe
Não há chuva ou sol que nos impeça
De até ao fim
Seguir nossa alegria

Até de muletas vale a pena sambar. Mas não é só em mexer o corpo que se resume o carnaval. Nem na cuíca, no surdo, no tamborim ou mesmo na cerveja, no confete, na serpentina e no carro de som.


O carnaval começa no sonho. Sonho de colombina, bailarina, odalisca, mulher maravilha, Zorro, Pirata, Homem das Cavernas ou Super Homem. Começa nas sombras dourada, rosa, azul, violeta, nas estrelinhas e na purpurina. E o carnaval não acaba na quarta feira de cinzas porque a purpurina e as estrelinhas ainda rolam pelos tapetes, grudam nos lençóis, nos tacos de madeira, nos azulejos do banheiro, nas coisas da casa por muitos dias. Ás vezes se encontra uma estrelinha carnavalesca que por pura teimosia grudou num sapato que nem se usaram no carnaval muitos meses depois.


Carnaval não se explica. Como não se explica a magia do cinema, do teatro, do balé ou dos desfiles de alta costura. Tudo isso se sente, se experiencia.


O carro de som atrapalha o carnaval? O calor atrapalha o carnaval? A cidade fede e fica imunda no carnaval? Sim. E a cidade canta, dança, fica colorida e vira sonho por quatro dias e noites inteiras. Estranhamente, quem sabe um dia poderá associar os cheiros desagradáveis ao carnaval e isso tudo virar parte da nostalgia da coisa num ponto do futuro objetivo e anticéptico.


Quantos meninos e meninas deram seu primeiro beijo no carnaval, graças a sabe-se Deus qual artefato de desejo e vida que se planta nos corpos? Mulheres feias encontram seu Príncipe Encantado, desesperados encontram esperanças, aleijados andam, fazem-se milagres seguidos de ressaca e até de esquecimento. Será mesmo que fiz isto, questionam-se os foliões ao fim. O que vale é no ano que vem estar de novo lá.


Seguir o bloco, bater fotografias, acompanhar o samba e não se esquecer que um dia houve corsos e marchinhas, frevos e sombrinhas. Mais uma vez, leva um ano inteiro pra sair toda a purpurina e é muito difícil se acreditar no discurso racional e moralista que tenta inutilmente espantar para o além a alegria infantil que nos caracteriza como povo brasileiro. Sonharemos, todo ano em sermos a rainha da bateria ou o mestre sala da folia, quer achem certo ou errado, bonito ou feio a força que nos arrasta aos cordões.


Este ano, quem sabe, aprendo pandeiro. Ou a andar de patins. Porque tudo combina com esta festa da carne, do suor, da alegria chamada carnaval.


No carnaval, finalmente entendemos e tiramos doutorado em democracia. Qualquer arlequim ganha um beijo da rainha de sabá.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Alô Elizabeth Maria


Veja meus cabelos pintados
Sou uma criança endiabrada
Minhas rugas cicatrizes
São caminhos pro coração
Imperatrizes fazem mapas
Dos territórios ocupados
E dos que ainda estão por conquistar
E a vida é assim

Pra saber de mim
Prefira histórias a números
Minha alma não cabe nos fatos
Sou mais do que meus documentos
E menos do que meus botões
Somados a todos os boatos
Eis que sou uma mulher

Sei fazer bolinhas de sabão
Durarem um minuto todinho
E o meu minuto nada assim tão diminuto
Cabe o sol e a terra inteiros
Rio de Janeiro de inverno a verão
Sou o bondinho do pão
Sou o trilho do trem
Areia de Copacabana
Friozinho de Terezópolis
Coisa linda é viver
Quando se sabe sonhar

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Não me Arrependo de Nada

Azar ou sorte:
A vida é sempre
nossa consorte

Vai-se o amor:
Vive a lucidez

Abandonam os amigos
Permanece a vontade

A beleza se consome
A autenticidade sobra


Nossa obra está sempre além
do que entendemos
do que esperamos

Nós vamos
os significados ficam.

Ou talvez
A cada passo
Surja um novo desafio

Desafino e é ali
Que mais canta
A minha melodia

Quando fico no meu canto
É quando a viagem começa

Aceito o paradoxo
Acato a transgressão
Recato dos que perdem
O olhar na imensidão

Os anéis se vão
A memória fica
Acaba junto conosco
O desenho do nosso rosto
Que não fez fotografia

Qual o sentido de estar
Onde não se respira?
Qual o sentido do arrependimento
quando tudo o que se fez
ficou tão bonito?