quinta-feira, 23 de julho de 2015

Sim, eu viajo. Viajo aqui mesmo. Abro meus olhos e lá estão paisagens solares, cheias luz, dramas, lágrimas e risos. Todos os dias. Por cada instante. Tenho coisas preciosas como um dicionário de nuvens, uma bússola cujo norte é no sonho e o sul no coração. Já que não tenho asas, me faço toda olhos para cada pluma vento e pássaro. Às vezes lembro quem sou e me espanto. Serei eu aquela que faz compras ou esta que adivinha milagres?

quarta-feira, 8 de julho de 2015

talvez as latas sejam mais capazes de amar do que os homens
pensa o homem que cata as latas
em algum lugar leu que as coisas têm vontades
que há vontade nas coisas
talvez haja mais vontade nas coisas do que nos homens
por isto os homens tenham tanta preguiça
preguiça de fazer diferente
de olhar um pouco mais de ver um tanto mais
tanto mais mais mais
que as pessoas ficam menos menos menos
o homem usa chapéu
pra seus pensamentos ficarem presos na cabeça
sem chapéu tudo viraria pássaro
e sabe-se lá que coisas poderia ver de um céu tão distante
um pássaro tão esquisito
criado pra ser gente
transformado em lata
redescoberto em asas e plumas e uma montanha de ar
que todos os dias se mexe
mas ninguém dá bola
gostaria de ter uma bola
pra chutar bem longe
tudo o que não tem saída
só mais ruas
mais ruas
mais ruas
nada nada suas
precisou inventar umas palavras
para poder ficar ali sossegado
na solidão de seu primeiro pássaro imaginado
Metafosforices aparte
eis que ele era bom nisto de apenas ser
e tornar-se encontrável
na figura colorida daquele monte de metal
que era só seu
por enquanto
depois
nem isto.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

há muito tempo no Baixo Leblon

Lá pelos meus 18 anos, uma bela madrugada eu estava lá no Baixo Leblon. De repente ouvi uns Pa Tá Tu Tá. Pensei que eram fogos de artifício. Fiquei procurando de onde vinham. Gosto de fogos, de luzes brilhantes, cores desde sempre. Foi quando reparei que todo mundo tinha se jogado no chão e uma criatura caridosa pegava no meu tornozelo e me apontava pro chão. Pra eu me jogar no chão feito todo mundo. Neste dia, morri de poesia. Neste dia, vivi de poesia. Aos poetas são permitidas muitas vidas e ver o São João no meio do tiroteio. Assim era. Assim sou. Lembro que quando estava no chão senti cheiro de limonada.