terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Peru de Natal com mutação genética

O peru não cabe na geladeira. É um peru radiativo vindo do Japão radiativo. Soubera que os cargueiros japoneses que vêm ao Brasil para se abastecer de minérios, como precisam de peso na vinda- quando estão vazios- são preenchidos por água do mar do Japão e no porto brasileiro, onde esta água é esvaziada e o minério tupiniquim embarcado, a água está contaminada de radiatividade- proveniente do Japão. Mentira-sobre o peru, não sobre a radiatividade. O peru deve ser simplesmente um peru brasileiro, é imenso porque perus são imensos. Loucura é a gente comer um bicho destes no natal de 40 graus do Rio de Janeiro. O peru não cabe em lugar nenhum, vai caber no nosso estômago por causa de quê?


Pensou nos sem teto que fotografara ontem numa espécie de almoço-manifestação. Com certeza eles iam gostar deste monstro. Ou não. Achou aqueles sem teto muito exigentes. E por que não seriam? Todo mundo é exigente e qualquer pessoa com um pingo de juízo quer o melhor para si. Inclusive os sem teto. Ser sem teto não quer dizer sem noção. O que se come a gente tem de prestar atenção no cheiro, no gosto. Miseráveis são aqueles que comem qualquer coisa, sem sentir o gosto nem cheiro de nada, esta sim, uma miséria sem remédio.



A charge que vira no Facebook sobre o holocausto dos perus era muito engraçada. Deus dizendo “Não matarás” e depois berrando com o pessoal que no natal come perus “qual era a parte que eles não haviam entendido". Ora, não é bem assim. O Deus dos judeus disse: não matarás o teu semelhante. Eles eram tribos guerreiras e não gostavam dos outros, os que não eram judeus. Não tinha problema, para este Deus dos judeus, que os judeus matassem alguns outros caras pertencentes a outras tribos e muito menos haveria problema em matar perus, que definitivamente não são nossos semelhantes. Certamente Deus não era vegan. Especialmente este Deus malvado que mandava matar o primogênito do sujeito só para ter certeza de que seria obedecido cegamente.


Era natal e tudo o que ela queria era que o natal passasse logo. Sua mãe é quem gostava de natal, de árvore de natal, presépio e tal. Ela queria mesmo era desmontar a árvore e bater no Papai Noel, porco capitalista. Falava mal dos Black Blocs mas a verdade nua e crua é que volta e meia tinha desejo de quebrar tudo e, se dependesse dela, começava pelo Papai Noel que só visitava as criancinhas ricas. Mas lá ia ela, como boa filha, respeitar o desejo de sua velha mãe e fazer o tal natal.

Pra que este negócio de natal afinal? Onde é que estava o espírito cristão nos shopping centers abarrotados e com aquela gente em frenesi consumista? Cadê a solidariedade, nem que fosse só no trânsito? Qual o sentido de encher a pança com toda aquela comida e mostrar fartura para quem também tem mesa farta? Tudo o que ela queria era estar longe, imaginava neve, imaginava pinguins. Ushuaya era um bom lugar para se estar no Natal. No próximo natal iria para o fim do mundo conversar olhar para os azuis dos icebergues e ver o sol da meia noite. Se até lá houvesse algum.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Azul é Realmente A Cor Mais Quente

Azul é mesmo a cor mais quente moçada. Todos em fotografia aprendemos que, ao contrário do que o leigo crê, a temperatura das cores que vão para o vermelho são mais frias e indo para o azul, ficam mais quentes. Para mim, o que houve de mais espantoso na minha sessão de cinema foi ver a quantidade de gente que vai embora nos primeiros dois minutos de cenas de sexo do filme- que na verdade tem sete minutos. Ou seja: o pessoal- que consegue assistir a filmes cheios de violência, cheios de sangue, cheios de catástrofes, cheios de tudo quanto é tipo de coisa assustadora e/ou escatológica- não consegue assistir a uma cena de sexo com duas atrizes belíssimas, onde as tomadas de câmara são bem enquadradas, bem focadas, tudo com perfeição.


A parte dois do meu espanto é saber que se 9 entre 10 homens têm fantasias sobre ver duas mulheres fazendo sexo entre si, 9 entre 10 homens na platéia do filme ficam visivelmente constrangidos, tanto é assim que nesta parte rola um zunzum no escurinho do cinema digno de nota.


Esta cena de sexo entre o casal- uma menina de 15 anos que se apaixona por uma artista plástica um pouco mais velha- levou dez dias para ser feita, houve reclamações por parte das atrizes porque justamente ela era repetida à exaustão e quando o filme ficou pronto, as atrizes ficaram chocadas com o resultado. Para quem não leu crítica alguma de cinema, a cena é tão bem feita que parece realmente que as atrizes estão fazendo sexo de verdade. Nenhum filme pornô com duas mulheres transando consegue ter tanto impacto e tanto realismo quanto esta cena. Os filmes pornôs sempre parecem falsos, mesmo quando se vê o pessoal jogando sêmen nas câmeras. Já esta cena, é de um realismo impressionante e a gente fica se perguntando como é que eles tinham conseguido fazer a cena.


O ruim desta cena é que ela toma o filme. Toda a polêmica em torno de Azul É A Cor Mais Quente acaba sendo mais sobre esta cena do que sobre um drama que não se restringe a casais lésbicos.


O drama central do filme é universal. E é muito bem elaborado: como a paixão é imprevisível e a gente se apaixona justamente porque não deve, e depois, a situação de abandono e rejeição sem saída onde uma pessoa sabe que será trocada por outra, independente de tudo o que ele(ela) possa fazer.


O filme é genial. Mas talvez o diretor Abdelatif Kechiche seja um Bertolucci da vida- segundo o que denunciou Maria Schneider sobre O Último Tango em Paris ela teria sido realmente estuprada por Marlon Brando ali, diante da câmera e portanto, o choro e tudo o mais, era real.



Sendo assim, vem a pergunta: até que ponto um diretor pode ir para alcançar o sucesso? Maria Schneider nunca mais conseguiu fazer nada sem ser associada a este filme. Era uma mulher muito jovem e imatura que teve uma história depois disto cheia de problemas. Bertolucci e Brando foram muito bem sucedidos. Mas e a vida daquela atriz, podia ser destruída em nome do cinema? Pergunta que se estende à fotografia e a muitas outras áreas da arte onde às vezes coisas semelhantes acontecem.

domingo, 22 de dezembro de 2013

sobre o filme A Vida Secreta de Walter Mitty

A Vida Secreta de Walter Mitt poderia ser também nomeada de A Vida Secreta de Hollywood. Quase não assisto mais os filmes hollywoodianos porque sinceramente me parecem extraordinariamente previsíveis, aquela coisa certinha onde a emoção vem na medida certa de uma gargalhada só que não deixa a gente mal na foto e uma lágrima que não estraga a maquiagem.


Este filme é especial, logo de cara porque tem fotografias espetaculares. Ora tinha de ser assim porque afinal trata-se de uma ficção em cima da revista real Life quando foi transformada num projeto on line. A revista Life era meu sonho de consumo. Eu queria trabalhar para eles, eu queria fazer qualquer coisa para eles. Mas não dava. Eu era criança. E fotografia antigamente era uma coisa para ricos, tudo era caro, da máquina à revelação, passando pelo filme. Então este projeto de trabalhar para a revista Life ficou para escanteio junto com o de ser cientista, aeromoça e médica.


Além da fotografia, o filme é sobre pessoas que muitas vezes não são exatamente "boas da cabeça" ou lá muito descoladas e sociáveis mas que eventualmente podem ser as que fazem a diferença na qualidade final de um produto, no caso do personagem do filme, sobre a qualidade da revista Life e suas incríveis fotografias. O personagem Walter Mitty definitivamente não tinha presença de espírito, não tinha savoir faire, não se enturmava, era um cara esquisito- um cara esquisito com uma sensibilidade toda especial e um nível de comprometimento com o que fazia muito alto.


Fiquei receosa que Ben Stiller estragasse o filme. Eta ator canastra este. Mas não. Ele fica bem no filme, não sei como exatamente, mas deu pra aproveitar até a canastrice do Ben Stiller.


Hollywood ainda acerta a mão

filme Jovem e Bela

O filme Jovem e Bela tem aquelas imagens que valem por zil palavras. Silencioso, vai de fato em fato sem explicação, sem blablabla, quase mesmo como que quem tivesse feito o filme fosse a adolescente contemporânea. Moça, jovem e bela, conforme diz o título, às vésperas do seu 17o aniversário, cheia de tesão, encontra nas suas férias de verão com a família, garotão alemão bonitão com quem decide se livrar do problema: a virgindade. Garotão, bonitão porém incompetente no sexo, só passa a mão na cabeça da moça e anda de mãozinha dada com ela. Moça acha o sexo um tédio, talvez até um pouco desagradável. Claro. O cara não fez nada para ela gozar. Em pleno tempo de google, nem googlou pra saber como é que se faz uma mulher ter orgasmos. Só penetrou e fim.


Próxima cena, a moça a caminho de um quarto num hotel onde fará sua estréia como prostituta. Faz sentido: o orgasmo é uma forma de "recompensa" no sexo. Os homens procuram sexo porque têm a facilidade de gozar, estão sendo sempre "recompensados", podemos até falar que às vezes mais, às vezes menos, mas não costumam ter problemas nesta área, salvo se estiverem com a saúde abalada ou alguma questão relativa à parceria no assunto. A personagem no filme, que não gozou, decide ser paga em espécie e segue para o negócio arriscado da prostituição. Creio que o raciocínio da pequena foi simples: melhor algum ganho do que nenhum ganho.


A fêmea humana é uma das poucas- desconfio até que possa ser a única- a ter orgasmos. Claro que o processo feminino necessariamente é mais complexo do que o do macho- tanto é assim que todas as espécies mamíferas o macho sempre goza e as fêmeas não. As fêmeas das outras espécies têm cio, mas não gozam. A espécie humana é fabulosa, dentre outras razões, porque goza. Mas não é um processo tão simples e evidente como o do homem. Homens que não querem ter trabalho não devem mesmo buscar parceiras mulheres porque mulher dá trabalho mesmo.


O filme pode ser entendido de mil maneiras, podemos pensar num conflito edipiano entre a moça, o padrasto e a mãe, pode ser visto em toda a sua dimensão dramática no confronto da mãe e da filha, mas da forma como entendo, a saída da jovem para a prostituição foi de uma simplicidade devastadora. Realmente, bastam as imagens para esclarecer a situação.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A cantar hei de levar a vida

Gosto de histórias com finais felizes


Respeito cabelos brancos


Protejo crianças


Dou voz aos animais


Aprendo todos os dias a ficar contente
com todas as belas e pequenas coisas que me cercam


Minha vida é sempre uma maravilha


Aprendi com o tempo a chorar muito
e nadar no mar das minhas lágrimas


A inteligência ainda é a melhor arma


Eu sei que levamos muito tempo para construir
as coisas que realmente importam

O inseto é neto de outro inseto
é preciso saber de cor as canções
porque realmente quem canta
encanta o mundo

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Gordinhos Unidos Jamais Serão Vencidos


Vem aí o Natal e antes todas estas festas onde o pessoal realmente conta que a gente, por ser gordinho, vá funcionar como uma espécie de peixe limpa-fundo. Comeremos todos os pudins, todos os pavês, todas as rabanadas, repetiremos o peru, a farofa, o arroz e até a azeitona assassina. Tudo porque realmente gostamos de comer e porque somos viciados em sermos a alegria das festas.

O que é uma festa de natal só com gente magra que come só as alfaces, os tomates, uma única porção do peru, uma única colher de farofa, nada de arroz e uma unidade pela metade de pudim com zero rabanada se não um fiasco e o diploma de mau cozinheiro ao cozinheiro e de mau anfitrião ao anfitrião?

O gordinho é o personagem que garante o sucesso da festa. Mas será a festa o sucesso do gordinho, que depois vai ter dor nos joelhos, nos pés, na coluna por excesso de peso, vai ter que controlar o açúcar, correr o risco da diabete, correr o risco das doenças cardiovasculares e toda uma penca de problemas que só acontecem porque o sujeito gordinho é gordinho?

Querido Colega Gordinho, você definitivamente vale não pelo que pesa ou pelo que come, mas por seu astral, por sua alegria contagiante, por sua capacidade de empatia e solidariedade. Você não precisa ser gordinho para assim amortizar as durezas do mundo com seus braços tão gostosos quanto travesseiros. Quem realmente torna o mundo mais doce é a sua própria doçura e sua doçura vem do seu coração e não do açúcar dos sorvetes e pavês.

Se você desejar emagrecer, emagreça, você pode. Mas se não desejar, não o faça. Você não TEM QUE ser magro. Até porque problemas de joelho, pés e coluna, diabetes e doenças cardiovasculares acontecem com gente magra também. Você pode ser magro- se desejar. Tudo o que é bom em você, continuará em você porque estas qualidades que você adquiriu por força de tantos pudins agora são suas, mesmo depois que se foram os pudins. E talvez estas qualidades nada tenham a ver com pudins. Talvez tudo já estivesse aí, o pudim tenha sido só um gatilho.

A ciência ainda não descobriu a chave do bom astral dos gordinhos.

Mas de qualquer maneira, caro colega gordinho, neste natal muito cuidado com a azeitona assassina. Tem gente que não tem dó de gordinhos e bota vodu nas azeitonas só para nos prejudicar.