terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Amor e Paciência

Duas palavras com significados diferentes, tão mais distintos quanto mais fugazes os tempos. Será mesmo que são tão diferentes?

Imaginemos uma mãe que decidisse que seu bebê hoje já deveria falar, escrever, quem sabe já ter cursado a universidade. Que espécie de mãe seria esta que exigisse do filho a velocidade que apenas o pensamento é capaz? Haveria qualquer afeto em alguém tão ansioso de resultados?

O amor se prova também pelo número de vezes que repetimos uma mesma história e pelo número de vezes que revendo o olhar inocente de nossos filhos nos deleitamos com isso, mesmo já tendo sido visto e revisto tantas vezes.

O amor é sobretudo repetição e capacidade para se encantar como se fosse tudo pela primeira vez.

Amar ao filho. Ou às velhas canções. Ou às mesmices dos amigos. Amar é repetir-se tantas e tantas vezes que de tanto repetir-se no encantamento um dia deparamos com o mistério de uma vida inteira.

Não se ensina a amar, por certo.

Quem serão os afortunados- ou apressados- que podem afirmar antes do fim da jornada que o que sentiram de fato foi amor?

Amor é um sentimento cuja certeza é póstuma.

Nossas declarações de amor são abracadabras para abrir as portas do coração à uma intuição. Intuimos o amor, às vezes corretamente, outras nem tanto. O amor no presente é intuição, instinto, elocubração.

Dizemos "eu te amo" com uma boca enquanto em algum outro ponto de nosso ser nos indagamos- quase que silenciosamente: será isto realmente amor? Se eu repetir muitas vezes que é amor, será que isto passa a ser amor? Se eu acredito que é, será que passa a ser? Existe mesmo um verdadeiro amor ou todo amor que assim se nos desvela é amor?

Aos jovens amantes- e todo amante é jovem, mesmo que com 60 anos biológicos- meu único conselho é: jamais aceitem conselhos. Podemos aprender técnicas de beijo na boca, técnicas eróticas, mas nunca ninguém poderá afirmar nada significativo, nada de realmente revelador sobre a única coisa que será sempre mistério e poesia. Até o fim dos tempos. Até que pereça o último homem. Que por falta de companhia, aprendeu a amar às nuvens.

Pacientemente. Foi com extremo cuidado e afeto que ele ensinou aos olhos o segredo da luz na sombra da mais evanecente nuvem. E ao dar seu último suspiro sonhou ser um pássaro, mesmo sem jamais ter conhecido nenhum.

Por amor.