quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Deus-Pacotinho



Pílulas coloridas devolvam minha fé
Caixas da Johnson da Medley da Merck
me tornem saudável
Não vou gastar em terapia
isto não tem garantia
Não vou perder meu tempo
Olhando o céu
com cara de pastel
Vou tomar meu remedinho
Vou ficar bem bonitinho
pra consulta com o doutor
ele é quem sabe de mim
não minha mãe nem meu pai
nem meu filho nem meu marido
nem minha esposa nem meu vizinho
Eu sou muito mais espertinho
Venha a nós ao vosso reino
Em nome da Ciência
da Farmácia
da Neoglobalização Amém

domingo, 27 de julho de 2014

Haikai da Baía de Guanabara na Chuva



A coisa fede
A pessoa nada
O urubu saltita

quinta-feira, 24 de julho de 2014

a parir mulheres

Nunca tive uma filha. Mas faço nascer mulheres. Não sou ginecologista. Sou psi. Faço-as ver que não há mal algum em ser mulher, em ter prazer, em viver orgasmos múltiplos ou até mínimos orgasmos. Se desejam ter um(a) amante, não será de mim que ouvirão condenações. Não. De mim verão entendimento. E aceitação. Se desejam casar, eu as acompanharei e encorajarei a serem antes de mais nada quem elas mesmas são e vestir aos próprios sapatos em vez de fazer caber os pés nos sapatos alheios. Isto nunca dá certo. Se desejam ficar sós, descobrirei boas leituras, bons lugares para viajar em paz com o próprio umbigo. Toda viagem é uma viagem feliz, até quando há lama no caminho. Importa o caminho. Importa ser mulher, não apenas na evidência biológica, mas nas escolhas de fazer valer a diferença. É lindo ser uma mulher que cabe em seus próprios atos.

domingo, 20 de julho de 2014

pequenos ladrões

Aprender alemão

a ler nas próprias mãos

o destino dos cometas

ou como se faz arroz soltinho

É coisa complicada

fazer amor pra nada

uma ninhada de pássaros

miam na janela

os gatos não piam

que posso fazer

salvo experimentar

esta única vida

comer limões sicilianos

sentir mais uma vez

o gosto das mangas

sem nem precisar

pular o muro do quintal

soul das crianças

nunca crescem

salvo pros lados

balanço pra esquerda

vejo sóis vejo ventos

balanço pra direita

vejo homens de gravata
e muitas coisas esquisitas

assim vôo

e encontro no céu

os pequenos ladrões de calcinhas
que nunca aparecem

domingo, 13 de julho de 2014

oração atéia

Faço minha oração atéia para que o mundo se transforme num lugar de mais dança e mais pajelança. Que todas as pessoas cujos corações sonhem com um mundo de mais gentileza, respeito, compreensão se reúnam, deixem de lado as suas discordâncias religiosas, políticas, raciais e vejam que somos apenas um único planeta, somos todos realmente uma grande família. Louca, como toda família.


I make my atheistic prayer that the world becomes a place where we can dance more and do more pajelanças. That all persons whose hearths dream of a world with more kindness, respect, and understanding, put aside their religious disagreements, political, racial and see that we are just one planet, we are really one big family. Crazy, like every family.


Je fais ma prière athée que le monde devienne un lieu de plus dance et plus pajelança. Que toute le personnes dont le coeur rêve d'un monde plus de bonté, de respect, de compréhension se réunire et mettre de côte leurs désaccords religieux, politiques, raciales et de voir que nous sommes juste une planète, tous nous sommes vraiment une grande famille. Fou, comme chaque famille.

Ich mache meine atheistischen Gebet, damit die Welt sich unwandelt in ein Ort des Schamanismus und mehr Tanz . Dass alle Menschen, deren Herzen Traum von einer Welt mit mehr Freundlichkeit, Respekt und Verständnis zusammen kommen, beiseite ihre religiösen Meinungsverschiedenheiten, politischen, rassischen und sehen, dass wir Leben nur auf einen Planeten, wir sind alle wirklich eine große Familie. Verrückt, wie jede Familie.

Jornalismo Holístico

Finalmente os gringos poderão dizer sem medo de errar que Buenos Aires é a capital do Brasil. Este céu argentino-brasileiro hoje começou com elefantes voando, depois um javali, segundos depois uma caravela. As câmeras digitais não têm grandes formatos. Mas as câmeras digitais são populares, fazem tudo sozinhas além de serem mais baratas e mais acessíveis. As definições não ficam tão definidas assim nas digitais? Mas tampouco as analógicas conseguem capturar perfeitamente a física das cores do mundo real que nossos olhos vêem. O bom é ter olho. Substituir o contato tridimensional da vida por aparelhos é tornar o ser humano cada vez mais impotente. Afinal, a maioria não saberia como construir nem uma câmera analógica nem uma digital, muito menos. Tal como a maioria não sabe construir um computador ou um programa de jogos virtuais que o computador lê. A tridimensionalidade do mundo tem de ser ensinada. O que são as 3 dimensões? Altura, comprimento e largura. As artes que começam tudo são as do tempo e do espaço. A poesia- que não é simplesmente palavra escrita e sim algo semelhante a um hálito, que precisa ser encenado, a música e a dança. É preciso dançar e brincar. Reinventar o mundo a cada instante, tornar-se deus.

sábado, 12 de julho de 2014

Não dá pra discutir poesia

Ninguém discute poesia. Faz sentido. Poesia vive-se. Poesia atreve-se. Poesia treme-se. Para discutir poesia é preciso saber a língua das estrelas, das abelhas e dos pássaros.

sempre esquecida

Sim serei esquecida
lágrima no oceano
água que veio do rio

tantas curvas e quedas

até o mar

A sombra da árvore

a flor a nuvem a borboleta

o pássaro e a formiga

a casa velha
a casa nova pintadinha

a menina bonita e a feia

o cachorro manco

o que pula feliz
nada disto cabe na memória

a vida excede a gaveta

não cabe no livro

o trivial é um nome impróprio

para as tantas faces do ser


Sejamos sombras e sobras

feneçamos entre pétalas folhas

no barro da estrada daquela velha morada

ou no asfalto que brilha caminho novo

Fiquemos na primeira curva antes do sol

experimentando o gosto das lágrimas

e a largueza imparcial dos sorrisos

é preciso deixar as palavras voarem

e os corações baterem

Os milagres sempre são assim- Cynthia Dorneles, 12/07/14

ps: A notícia é sempre algo que já aconteceu. Ler jornal não é atualizar-se, é passadizar-se. Estar no presente é ser você mesmo, você é sempre a poesia inacabada do instante

quinta-feira, 10 de julho de 2014

E Assim Foi

Jornalismo Holístico da Cynthia Dorneles sobre fatos passados, presentes e futuros e inclusive fatos que não são mas deveriam: hoje eu vi a árvore que caiu no Aterro do Flamengo logo após o jogo da Copa, fato real, árvore real, caída realmente abaixo da força que fez de um tudo neste dia, linda, grande, eu a chamava de Beatriz. Beatriz foi ninho de passarinho, antes da avalanche de gatos que povoam o Aterro. Adoro gatos, mas os gatos caçam os pássaros. Gatos não são nativos. As senhoras cuidam dos gatos, vacinam, mas todo dia alguém chega com novos gatos. Beatriz foi uma boa árvore, deu sombra aos namorados, foi brinquedo de criança. Fez tudo o que uma árvore deve fazer. Menos suportar a derrota do Brasil na Copa, provando que não são só os homens que choram diante das perdas. Hoje também vi a gracinha da Garcinha. Ela é uma espécie de cãozinho de estimação do pescador que sempre vai ali, no mesmo ponto da praia. Hoje deu pouco peixe, mar feio. Voou depois de um tempo pra comer as baratinhas d'água nas pedras. Pensando sobre amar e depender- um livro do Walter Riso (muito bom, recomendo), apesar de não ver a foto do autor, fica claro para mim que ele necessariamente é alguém na faixa etária entre os 30 e os 45. Alguém que com certeza jamais teve um bracolé que o deixou preso numa cama, dependendo de uma alma boa que o levasse ao banheiro para fazer um xixi. Será mesmo que só pode amar quem não depende ou será possível amar, depender e cuidar? Não fabrico pessoas, mas pessoas dão defeito, é preciso saber disso. Com o tempo, alguma mola solta, um parafuso empena e a gente realmente tem de ter sido suficientemente bom para ter desenvolvido tolerância e boa vontade nos outros. Talvez às vezes a tolerância e a boa vontade sejam melhor que o amor. Sexo selvagem e imaginativo é fabuloso, se apaixonar é divino. Gosto de tudo isto. E gosto também de saber que poderei contar com os humanos. Afinal, todos dependemos de todos. Ou alguém aqui acredita que se cair a eletricidade ou faltar água ou não entregarem alimentos nos supermercados a vida segue igual? Dependemos todos uns dos outros. O dinheiro move as rodas, mas é o coração que ilumina os dias. Tenho dito. 10/07/2014

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Hora de Dormir

Poesia boa se lê mil vezes e se desentende duas mil outras

O bom do disparate é que diz pára e continua

Fala pedra e flutua

Sou assim
Encantada

O segredo?

Não há
Basta estar vivo

Meu nome é Cynthia
Nasço de uma afirmação

e desemboco nos mares de perguntas
Adoro o som das coisas que giram