terça-feira, 15 de dezembro de 2015

a caretice é o horror

a caretice me assusta mais que a crise econômica. Explico: falta de dinheiro se contorna. Aonde comem 2, comem 3, sempre tem alguém que pode dar uma força e a união de vários duros pode resultar em atos heróicos e criativos que dão jeito na coisa.

Fui dura em tempos duríssimos e sobrevivi perfeitamente bem sempre. Não é bom ficar sem dinheiro, mas com imaginação e luta se resolve. Já a caretice....

A caretice é um poço sem fundo. A caretice é filhote do medo e do ódio. A caretice não te dá descanso. A caretice te persegue se você não é careta. A caretice fica ali, na patrulha, na cobrança. Cada vez que você sorri, a caretice faz cara feia. Se a caretice é de classe, vai te julgar por você usar um sapato velho. Se a caretice é de raça, vai rir de você com cabelo crespo e preto.

Há um sem número de caretices e a caretice sempre vai dar um jeito de te constranger seja por uma ou outra razão.
Estava feliz achando que o Brasil estava desencaretando. Vi muito contente as meninas feministas da Marcha das Vadias despontarem ferozes. Vi as Marchas Pela Descriminalização da Maconha com coisas divertidas e criativas. Muitas performances, muitos novos artistas, muitos movimentos liberadores. A palavra empoderamento- de se tornar poderoso- ficando na moda. A noção de que não existe esta de discursos universais e sim um "do meu lugar de fala" substituindo o arrumadinho que resolve que fala representando todo mundo. O surgimento de uns mil tipos de personas sexuais, o debate queer, uma montanha de coisas estranhas e provocadoras.

Só que estou vendo tudo isso ameaçado. Tem gente se orgulhando de ser facista. Tem gente se orgulhando de ser preconceituoso. O país parece mergulhar de novo num tempo que eu preferia ver pra trás.

Não temo por mim. Com 56 anos sem metáforas e papinhos de vida-pra-sempre, tenho mais tempo pra trás do que pra frente, mesmo debaixo da Ditadura fui livre, fiz passeata pelada no Movimento de Arte Pornô, aprontei tudo que tive direito mesmo correndo riscos. Não, por mim está tudo ok. Se os caretas vierem de vez, vou manter os cabelos coloridos e grisalhos e me comportarei como sempre: abrirei a boca e falarei palavrão aos montes, dançarei enquanto o corpo permitir, farei sexo, falarei de sexo, escaparei ao controle porque sou especialista nisto, vou continuar cantando, escrevendo, fotografando, atendendo quem me procurar, cuidando de quem precisar ser cuidado, fazendo o meu melhor para assistir aos desassistidos. Sem problemas.

Confesso minha caretice de mãe, temo por meu filho, pelos amigos dele, pelos que nem são amigos dele, por toda esta geração que será perseguida, já está sendo, de certa forma. Sei que eles são cuca fresca, muito mais tranquilos do que o que eu fui, do que minha geração foi. Mesmo assim, a monstruosidade da caretice me assombra. Porque antigamente, a gente tinha pra onde fugir. Agora parece que acabou. Acho realmente assustador isso do mundo estar todo ele encaretando e o Brasil ir de vento em popa para trás com todo o resto.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

doentes

talvez o glúten de hoje em dia não seja mais o glúten que reunia em torno da mesa as famílias, nem aquele que Jesus dizia ser a sua carne. O glúten hoje é um transgênico, deve dar zebra, deve dar câncer, mas o quê não dá câncer?

Me parece estranho que um alimento possa ser responsabilizado por tantos males que na real deveriam ser atribuídos a coisas muito mais fáceis de se perceber como por exemplo andarmos de automóvel o tempo todo, não gastarmos as calorias que consumimos, comermos mais do que precisamos, vivermos em pequenas caixas, em multidões cada vez maiores mas sermos paradoxalmente cada vez mais solitários, respirarmos monóxido de carbono, vivermos entre coisas cada vez mais só feitas para serem úteis em vez de belas e as coisas belas cada vez mais inacessíveis.

O que dá câncer talvez um dia descubramos não é o glúten, nem os laticínios, nem a carne, ou talvez a influência deles seja vastamente menor que sermos passivos, alienados, isolados, incapazes de nos entregarmos à uma luta, desejando frutos sem os termos plantado, nos sentirmos invejosos de vidas que se víssemos de perto perceberíamos tão sem significado quanto a nossa e, principalmente,sermos cada vez mais incapazes de amar, de cuidar, de sermos solidários.
Em resumo: o que talvez nos provoque câncer seja uma imensa, colossal, estupenda e sem sentido algum, preguiça. Muita preguiça. Porque amar dá trabalho, ser bem sucedido dá trabalho. Fazer as coisas bem feitas, dá trabalho. Ganhar consciência de si mesmo dá trabalho. Dá trabalho viajar, dá trabalho arrumar a mala, a casa, dá trabalho sair da zona de conforto. Dá trabalho conservar amizades. Dá trabalho telefonar para os amigos que nunca achamos que nos telefonam o suficiente. Dá trabalho trabalhar.

Somos escravos de nossas ânsias, de nossas vontades cada vez mais urgentes e de nossos medos, tão indefinidos, mas tão insidiosos. Reclamamos do barulho dos vizinhos e já nem ouvimos mais o intenso barulho do tráfego. Ou, se não há barulho de tráfego, de nossa mente compulsiva e confusa. Colocamos nos nossos inimigos sinais desumanizantes quando em verdade até mesmo o demônio foi um dia o mensageiro dos deuses. Vemos ao horror como cor de rosa e ao cor de rosa como horror.

A pergunta é: como não adoecer se somos todos doentes?

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

pela estrada afora

como seria bom não haver muros. Mas já que eles existem, acho bonito os de pedra, os com ervas cobrindo ou os cheios de graffitis.

como seria bom poder conversar olhando nos olhos todos os dias com meus amigos queridos. Mas já que não dá, que exista o telefone, a internet, o sinal de fumaça e o pombo correio.

as coisas são o que fazemos delas

terça-feira, 17 de novembro de 2015

contemporâneos

nós não damos nós
deixamos frouxo
tão passarinhos
um dia sumimos
noutro muitos mimos
depois somos pedra
duros tão duros
como se muros fôssemos
e amássemos as distâncias
as constâncias e o peso em toneladas
é quando nos tornamos ruínas
mesmo tendo começado outro dia

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

hoje chega ao Espírito Santo a lama tóxica da barragem que estourou. Todos os peixes irão morrer. E com isto, as aves, os insetos, as flores, as plantas. Por muitos e muitos anos, todas as terras e águas que estiverem no caminho da lama toxica estarão estéreis. O mar será afetado igualmente. A morte de milhões de seres vivos. Tudo porque um gênio capitalista resolveu economizar no cimento da barragem e botou mais areia. Os cínicos falam de um abalo sísmico que rolou no Chile, mas a real é que toda barragem deve ser devidamente construída para aguentar abalos sísmicos, venham eles de onde vierem. Além do quê, no Chile nada caiu. Caiu aqui, no Brasil.

O lucro é algo assim: feito de grandes e pequenas imoralidades. Assim enriquecem empresários. Assim se faz o capitalismo. Às custas da miséria de muitos, da morte de muitos, da falta de perspectivas de muitos. Em benefício destes poucos.

Tristeza infinita. Revolta. Indignação.



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

âncora

vejo esta âncora. Sua tinta comida pelo mar. Suas pontas elegantes. Penso suas profundezas. Convite à imobilidade. Igualmente, convite a zarpar. Em cada centímetro do objeto que olho, uma melodia diferente. São tantas as sereias. Tão poucos os que as seguem até o fim do mundo. Em tudo o que há, cabem tantas mensagens quanto os goles da nossa sede. Nas línguas vivas e mortas, as estrelas nos guiam enquanto as âncoras nos fundeiam. Diga-me com o que sonhas que te direi se voas ou afundas. Entretanto que não se iludam os pragmáticos: voar ou afundar dá no mesmo. O vôo e a queda são cozidos por vertigens

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Até Ano Que Vem Querido Inverno Carioca

Montes de adoradores da Primavera e eu cá com saudades do mini-inverno carioca. Sim. A única estação do ano no Rio onde sou perfeitamente feliz é o inverno. Exatamente porque no inverno dá pra você passar umas cinco horas sem tomar banho sem ficar mequetrefe, mal cheiroso e mal humorado, pegajoso.

O inverno carioca é tudo de bom. Para os que odeiam invernos, proponho um inverno no Rio. Pago um café da manhã e aposto que quem vier ao Rio no período do inverno será feliz e saberá disto.

Aquele ar fresquinho, que chega lá no fundo do pulmão, aqueles azuis com nuvens fofas e fotogênicas é simplesmente uma alegria olfativa, visual e tátil. Não tem depressão que resista a estas cores do inverno daqui. Que certamente não é como o de Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, São Paulo. Nosso inverno tem sotaque de Caetano Veloso antes de Paula Lavigne, com um pouquinho de Maria Bethania passeando com seus longos cabelos grisalhos e toda de branco na Cobal do Leblon somados a Adriana Calcanhoto sorridente longe das câmeras dando pinta ali na Gloria.

Pra você que lê quinhentos mil arrastões por verão e jamais entendeu porque seus amigos continuam no Rio sugiro uma voltinha nestes meses de inverno. A gente fica aqui porque nosso inverno pequenino é assim. Reclamaremos do verão, dos arrastões, da alta do dólar, da polícia preconceituosa, da falta de sentido da existência enquanto silenciosos sobre nossos reais benefícios aspiramos contentes o frio ar da manhã cedinho no inverno solar.

Até breve querido inverno solar carioca. Cá fico, cá te espero. Love You.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Vida Sem Devaneios

Sou uma sobrevivente. Vivo sem pé, sem cabeça, sem eira, nem beira. Vivo sem trabalho, sem namorado, sem terra, sem flor, sem chão. Sonho é coisa que acontece lá num lugar aonde vivem as baratas. Tenho muito de barata, inclusive antenas. Passei tanto tempo sem palavras que minha língua virou trapo. Com as redes sociais comecei a xingar todo mundo que parecia ter tudo o que me falta, não parei mais. Não tenho história, não tenho cultura, não tenho educação. Vivo num estado intenso de falta de tudo. Inclusive devaneios. Nada leio, só bobagens, que levo muito a sério. Sobrevivo. Sem mim. Não sei quem sou nem quero saber. Sou meu selfie pregado na página que não tem papel nem nada do meu perfil do feicebuko. Vim encontrando muitos como eu. Depois de tudo, depois deste tempo de frufrus, de gente metida a sebo, seremos nós com nossas armas. Não teremos o que comer, comeremos a nós mesmos. Baratas jamais são unidas. Baratas são. Nós aprendemos com as baratas o valor do lixo. Não precisamos da civilização, até pelo contrário. Civilização nos atrapalha. Mas até a isso venceremos porque já aprendemos a digerir o baygon. Se um de nós cai, já vem mais mil. Chega de palavra. Chega de história. Chega de saber. Não sei porra nenhuma, só sei continuar. Moto contínuo, avanço incansável. Até que tropeço. Tropeço em mim. E começo a roer o pouco que de mim sobra. Eis minha obra:

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

esquisitices e chuva

as nuvens lá fora não chovem mais do que eu

pingo a pingo me desfaço em chão
o chão se abre
os abismos chamam
felizmente
em mim mora a desmemoria do meu tempo
eu sou todos os desconhecidos
e os desconhecidos brigam entre si
rosnam
latem
correm rabos em pernas
abaixo do nível do mar


meu nome esqueci

fiquei dias sem aparecer


a tela cada vez mais escura
chovi até a última gota
roendo a última gosma
aprendo
o caminho das pulgas
fica ali entre as pedras
as perdas e danos
os tantos anos pra me tornar
uma sombra maior
um imenso guarda chuva
a flutuar finalmente livre
entre os ventos
sem mim

a

sábado, 5 de setembro de 2015

Muita Coisa Absurda Junta

Aylan e Galip não saíram dos meus pensamentos. Eles são milhares. Hoje, no mundo, há milhares de refugiados e nós aqui no Brasil temos diariamente muitos Aylans e Galips sendo mortos a tiros nas favelas, nas ruas, nas escolas. Todos os dias. Sem que ninguém lhes faça uma boa foto. Guardada a distância de no mundo árabe serem ditaduras progressistas e aqui ser uma democracia, nós também tivemos na América Latina ditaduras financiadas pelos Estados Unidos. Pois sempre há USA por trás de cada bomba que explode em algum canto do mundo. Os mocinhos da 2a Guerra Mundial que salvaram a Europa do nazismo com o passar das décadas se tornaram vilões. Mas se eles sozinhos fossem vilões, Aylan e Galip estariam a uma hora dessas no Canadá jogando futebol com outras crianças. Não, os USA não são o demônio. O demônio são todas estas grandes nações poderosas que se recusam a dar vistos, que se protegem dos estrangeiros, não importa quais circunstâncias os tenham feito migrar.


A riqueza do mundo é tal que ninguém hoje precisaria passar fome. A riqueza do mundo hoje é tal que ninguém precisaria entrar em guerra. A riqueza do mundo hoje é tal que ninguém precisaria roubar e matar. Mas a riqueza do mundo está concentrada na mão de muito poucos que protegem suas riquezas, não à vida humana. Nós somos, para eles, apenas números, apenas ratos a serem devidamente mortos.


Ainda haverão muitos outros imigrantes. Há países inteiros afundando, catástrofes naturais e climáticas, além de guerras estão acontecendo. As fronteiras deveriam acabar. O mundo deveria ser solidário e receptivo aos que tomam a difícil decisão de migrar. Não é fácil migrar, nem mesmo quando o lugar de onde se sai está em guerra. Porque somos conservadores, porque queremos conservar nossas famílias, nossos amigos, os cenários conhecidos por onde andamos, nossos vizinhos, nossas rotinas. Quebrar isto tudo demanda um desejo férreo por parte de quem decide ir embora.



Está na hora dos ricos do mundo botarem a mãozinha na consciência e pensar: meu dinheiro vale mais que o sorriso de Aylan e Galip? Ninguém deveria passar por isto que esta família passou. E há tanta riqueza! Basta ver o que se faz para se conseguir atrair os ricos.



Ontem fui no Casa Cor, um evento feito para ricos de todos os portes. Casas belíssimas feitas decoradas com as tendências mais incríveis do momento, todo um aparato só para este evento de poucos dias de duração, onde se movimentam negócios de muitos e muitos milhões de reais. Crise? Crise pra quem cara pálida? Crise fabricada para desestabilizar o governo do PT isso sim. Há muitos anos. E não me falem dos corruptos porque pelo que fica cada vez mais patente, o que não faltam são corruptos de vários outros partidos. Mas só se dá notícia do PT. Só interessa queimar o PT. Como se o PT fosse o demônio. Não é.


Se fosse era fácil: acabar o PT resolveria todas as mazelas do Brasil num toque mágico. Como bem disse Leandro Karnal, eu também trocaria Hamlet por Paulo Coelho se fosse assim tão facinho. Não é.



A corrupção está em nossa cultura, cheia de gente que quer tirar vantagem e lesar o próximo. Até nossos ciclistas são selvagens e jogam suas bicicletas em cima dos outros sem cuidado e sem pensar que a preferencia é sempre do pedestre. Os carros e ônibus atropelam os ciclistas e motociclistas que por sua vez atropelam os pedestres, que são atropelados por todos os demais, além dos ciclistas.


Não existem demônios. Nem a Veja é um demônio. A Veja, com suas capas ridículas, suas matérias para vender escândalos. Seria apenas uma revista infantil e patética se não fosse o fato de que são os que a consomem que são infantis e patéticos.


Somos analfabetos políticos. Desconhecemos a História, somos uma nação que quase não lê, quase não se informa de nada. Somos um povo que fala que Lula é analfabeto mas a maioria é muito ignorante, bem mais que o Lula que de analfabetismo político e econômico com certeza não sofre.


A Veja vende por causa disso. Os vilões não são os jornais e as revistas. Isto fica óbvio nas redes sociais onde cada um escreve o que quer e vemos tanta gente ignorante, tanta gente boçal, tanta gente violenta. Os jornais seriam melhores se nós fôssemos melhores. A Veja já teria mudado sua linha editorial se não vendesse com capa de urso panda arreganhando dentes.


Quantas crianças precisarão ser mortas para que cada um decida estudar um pouco da história do seu país e depois a história dos outros países, de forma a assim se tornar menos massa de manobra de interesses escusos?


Os demônios somos todos nós, que achamos que a desgraça alheia nada tem a ver conosco. Que diante da morte, só pensamos que nossos filhos estão bem. Será mesmo que estão? Será que é possível qualquer um estar bem com tanta coisa absurda junta?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Menino Sírio, Menino Carioca

O poder não é uma simples ilusão simbólica como querem fazer crer alguns. Não é uma ilusão que a OTAN promoveu a Primavera Árabe para desestabilizar as ditaduras progressistas que eles próprios instalaram em torno da Síria, Líbia e outros. Não é uma ilusão que a Síria era um grande estado forte e que não curtia Israel- fato que no mínimo atrapalha os negócios.


Não, não basta a vontade e a potencia juvenis para desfazer os grandes interesses, a política e a economia mundial. Não, não dá pra reinventar a realidade todos os dias só porque eu quero, tu queres, ele quer. Não dá não. E tampouco é verdade que maio de 68 foi o lugar de ruptura do antigo mundo das utopias e o fim das teleologias.


A teleologia está muito viva quando vemos que os jornais brasileiros refletem o desejo das nossas classes médias, ansiosas por desfazer a política instalada pelo PT após 12 anos de governo- uma política muito diferente das anteriores, por mais que desejem reduzir a pó todas as ideologias, todas as possibilidades políticas de novos horizontes ligados ao trabalhador e ao trabalho. Lula nunca foi comunista, nem mesmo socialista. Lula foi um metalúrgico. Homem do povo e carismático líder político que sabia muito bem aonde estava: Brasil, país dos latifúndios, das oligarquias, onde governam até hoje velhas famílias com nome e sobrenomes bem conhecidos há séculos seculorum. Falou mal do Sarney e do PMDB sim, para alcançar o poder. No que o alcançou se aliou a ele. Simplesmente porque não dá pra mandar matar esta gente, estas velhas famílias que estão no poder há tanto tempo. Você cria alianças para poder governar. Coisa que Lula não precisou de nenhum cientista político que lhe explicasse.


Mau caratismo do Lula? Coisa nenhuma. Realismo, pragmatismo político. Política é a arte das alianças, Maquiavel já sabia. É má fé uma pessoa que já tenha lido algum texto de Maquiavel tratar do fenômeno Lula como o fazem os ignorantes deste nosso imenso país com tantos ignorantes. Lula é um cara que não precisou estudar Maquiavel pra perceber o que está na cara de qualquer um que algum dia já tenha estado no planeta Brasil. Que não é tão diferente da Síria, se pensarmos bem.



Estes países todos do mundo se assemelham. Suas práticas políticas se assemelham. Temos culturas com bases diferentes, óbvio, mas por exemplo, o Podemos não é muito diferente do nosso PSOL. Há tantas e tantas semelhanças como também há diferenças, se focarmos aqui ou ali.

Com certeza, o menino sírio não é diferente dos milhares de meninos que aqui são aliciados pelo narcotráfico e morrem ainda pequenos debaixo de tiro achado ou perdido. Somos todos humanos, macacos pelados. Sozinhos, somos frágeis. Juntos, somos ferozes predadores. E nós, mães do mundo, choramos a morte de todas as criança sobre a Terra. Tal como nos encantamos com os filhotes de gatos, cachorros, tigres, onças, todos os mamíferos.



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Sim, eu viajo. Viajo aqui mesmo. Abro meus olhos e lá estão paisagens solares, cheias luz, dramas, lágrimas e risos. Todos os dias. Por cada instante. Tenho coisas preciosas como um dicionário de nuvens, uma bússola cujo norte é no sonho e o sul no coração. Já que não tenho asas, me faço toda olhos para cada pluma vento e pássaro. Às vezes lembro quem sou e me espanto. Serei eu aquela que faz compras ou esta que adivinha milagres?

quarta-feira, 8 de julho de 2015

talvez as latas sejam mais capazes de amar do que os homens
pensa o homem que cata as latas
em algum lugar leu que as coisas têm vontades
que há vontade nas coisas
talvez haja mais vontade nas coisas do que nos homens
por isto os homens tenham tanta preguiça
preguiça de fazer diferente
de olhar um pouco mais de ver um tanto mais
tanto mais mais mais
que as pessoas ficam menos menos menos
o homem usa chapéu
pra seus pensamentos ficarem presos na cabeça
sem chapéu tudo viraria pássaro
e sabe-se lá que coisas poderia ver de um céu tão distante
um pássaro tão esquisito
criado pra ser gente
transformado em lata
redescoberto em asas e plumas e uma montanha de ar
que todos os dias se mexe
mas ninguém dá bola
gostaria de ter uma bola
pra chutar bem longe
tudo o que não tem saída
só mais ruas
mais ruas
mais ruas
nada nada suas
precisou inventar umas palavras
para poder ficar ali sossegado
na solidão de seu primeiro pássaro imaginado
Metafosforices aparte
eis que ele era bom nisto de apenas ser
e tornar-se encontrável
na figura colorida daquele monte de metal
que era só seu
por enquanto
depois
nem isto.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

há muito tempo no Baixo Leblon

Lá pelos meus 18 anos, uma bela madrugada eu estava lá no Baixo Leblon. De repente ouvi uns Pa Tá Tu Tá. Pensei que eram fogos de artifício. Fiquei procurando de onde vinham. Gosto de fogos, de luzes brilhantes, cores desde sempre. Foi quando reparei que todo mundo tinha se jogado no chão e uma criatura caridosa pegava no meu tornozelo e me apontava pro chão. Pra eu me jogar no chão feito todo mundo. Neste dia, morri de poesia. Neste dia, vivi de poesia. Aos poetas são permitidas muitas vidas e ver o São João no meio do tiroteio. Assim era. Assim sou. Lembro que quando estava no chão senti cheiro de limonada.

terça-feira, 16 de junho de 2015

poema do dia dois


Há uma janela fechada
há uma tábua faltando
um dente quebrou
o preço do dentista
a tinta descascou
a criança cresceu
a vida fica no passado
as faltas no gerúndio
é preciso ser índio
urgente
antes que se feche a taba
antes que se mate a tapas
toda a alegria
e só sobre a alergia
no baralho das letras
todo amor vai à Roma
e tudo é fruta romã
pra que poesia quando se tem a fotografia?
eis porque se parou de ler
eis porque as bibliotecas estão encerradas na poeira
na neblina dos dias
e as fotografias cada vez mais vazias
quem se lembra quantas viu ontem?
é preciso imaginar gastar tempo perseguindo sentidos
perder-se nas esquinas sem mapa algum
salvo o coração nas mãos
ou nada feito
agora nade e só páre quando se souber náufrago
é nesta hora que as gotas de chuva se tornam deliciosas

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Poema do Dia Um


os olhos para ver
o nariz para respirar
os ouvidos para escutar
suficiente para participar desta festa
que acontece todos os dias

surgem nuvens
vem a chuva
abrem-se os botões da flor
as abelhas em volta
as gotas coloridas
no vidro a menina lambe pensando ser bala
vão-se as nuvens
voltam as nuvens
a festa é sempre
se você nunca lá está
não é por falta de convite

quarta-feira, 13 de maio de 2015

na mais perfeita desordem

poesia é fácil
pense num cachorro
pense no nariz do cachorro
pense em como é frio e molhadinho
agora sinta o calor do corpo do cachorro
sentiu?
Você consegue fazer poesia da mesma forma
que o cão voa para pegar seu osso
voar é coisa de poeta de cão e de passarinho
não necessariamente nesta ordem
aliás
na mais perfeita desordem

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A de Ar M de Mar e outras letras

O amor são as letras A de ar M de mar O de ovo R de Rapidez. O amor mesmo quando lento como um caracol se apossa de nosso coração como um raio que rasga os céus. O amor é esta palavra que antes de tudo é feita de espaços. Sem espaços não há dança e o amor é o Deus negro que dança. Há muito e muito tempo sobre a terra. Quando se faz o silêncio, se respira e é assim que vemos esta vastidão feita língua, dentes, dedos, mãos, pés, rugidos, côncavos e convexos. Tudo é sexo. Nada é em vão. Pelo vão da porta passam os ventos que levantam os balões. Lá se vai mais um beijo. Lá se vai um cadinho de luz. Nunca serão suficientes os delírios diante das margaridas em flor. Quando ninguém mais amar, acabou. Se não tiver acabado, estará se acabando.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Dona Leda

Neste prédio onde moro, tem estas duas irmãs, bem velhinhas e extremamente lúcidas. Uma mora num andar, outra no outro. Visitam-se sempre e de vez em quando a gente vê um jornal subindo, uma panela de alguma coisa descendo. São elas se comunicando. Uma delas foi a primeira vizinha que me acolheu. Uma fofa. Ela puxou assunto comigo e falou que na minha casa só iam rapazes lindos e que se ela fosse uns 50 anos mais jovem, já teria se enturmado. Quando acontecia de eu encontrar com ela e estar com meu filho, ela revirava os olhinhos e eu podia ver que jovem danada ela deve ter sido um dia.

Já se vão anos que nós nos adoramos. Aí houve este dia, próximo da eleição, onde sei lá porque, tivemos a péssima ideia de falar de política.

Minha senhorinha querida é coxinha. Bem assim, pelo Impeachment, aquela coisa toda que eu ouço e sinto tédio. Quando ela começou a falar pensei eu com meus botões: o que vale mais, a opinião ou o carinho dela? Resposta sem nem precisar pensar: o carinho.

Confesso que já desfiz umas três amizades daqui, mas no fim das contas, só uma me impressionou. Bloquear? Perdi conta. Mas uma coisa é gente que você nunca vê, que não conhece ou conhece pouco. Outra é um caso feito o desta senhora, a quem vejo todos os dias no meu prédio e que sempre que vejo um sorriso bobo sobe ao rosto porque me faz bem ver esta senhora e seus dramas de idosa, que ela conta com tanta graça que em vez de chorar, a gente dá gargalhadas- juntas.
Vou fazer cara feia pra ela porque ela acha aquelas coisas todas que diária e sistematicamente a mídia joga na cabeça dos leitores?

Pois se até a Carta Capital virou Coxinha! Está tão na moda achar que o PT é o demônio que até uma publicação chapa branca petista virou oposição ao PT. Se eu for brigar com todos os coxinhas que encontro, vou ter um treco, vou voltar pra análise e de lá jamais sair novamente.

Claro está que estou falando dos Coxinhas, não dos barra pesadas pela volta da Ditadura Militar. Obviamente se a minha senhorinha começasse a esbugalhar os olhos e falar que era lindo o tempo dos militares eu ia sair correndo e gritando pela rua e nunca mais iria falar com ela, mesmo ela sendo fofa. Coxinhas ok, sociopatas não.
Ela fez uma cirurgia, ficou dias sem aparecer. Hoje quando a vi, fiquei super contente e brinquei "Dona Leda que bom que está aqui". Ela rápida "Não foi desta que eu fui não". E começou a falar daquele jeito engraçado dela que não tem graça ser velho porque todos os seus amigos já morreram e até os novos amigos que ela fez já começam a falar que estão com problemas de saúde aqui e ali, que ela não tem mais paciência pra estes assuntos. Neste momento eu cogitei: "será que ela quer falar de política?". Melhor não, melhor não. Não sou candidata a nada, salve salve. Aí falei da minha dor no tornozelo

amor amor amor e mais amor

Quem ama pode até pegar resfriado. Mas o resfriado sara mais rápido por conta do beijo na boca, do sorriso que fica no coração, da gratidão pelo carinho. Quem ama pode até um dia bater as botas. Mas serão botas cheias de poeira do caminho e olhar estrelas nos olhos daquele a quem amou.

é preciso que se acredite mais na vida antes da morte do que nesta tal vida após a morte feita de renunciar a vida antes da morte

que sejamos mais espontâneos criativos e entregues em cada ato, a cada instante- simplesmente porque isto é bom e nos faz bem

e amar, sim, amar muito porque o amor é o paraíso

o ódio é o inferno

o purgatório é a vida mais ou menos, o amor mais ou menos, as coisas feitas pela metade
é disto que se trata ser gente

sábado, 4 de abril de 2015

O Sal da Terra, o filme

O Sal da Terra é um filme belíssimo sobre o trabalho e a vida do Sebastião Salgado. Wim Wenders tenta devolver ao homem que dedicou sua vida a retratar as pessoas e o mundo, um retrato de si. E como reconhece o próprio Wim Wenders, é muito difícil se fotografar a um fotógrafo, que se bobear faz uma foto de quem o fotografa melhor do que o que é registrado.
Sebastião Salgado é um homem de esquerda, que passou literalmente toda a sua vida a fazer registros- impressionantes- dos desvalidos da terra. Deixou sua família, seus amigos, deixou a todos para estar nos lugares onde com tanto carinho fotografou os mais invisíveis e abandonados da Terra.

De repente gente de direita está curtindo o trabalho do cara. Por que? Porque após seu penúltimo trabalho, Êxodos, onde Sebastião foi fotografar as imensas populações que estavam sendo obrigadas a migrar por razões políticas em sua maioria e testemunhar a mortandade provocada por governos assassinos que não permitiam que a comida chegasse aos que precisavam comer-Sebastião adoeceu. E este adoecimento coincide com a morte do pai e o legado de sua fazenda, já completamente estéril. Aí Sebastião, numa espécie de rendição e tentativa de dar sentido ao sem sentido, decide replantar a fazenda onde foi criado e torná-la uma pequena floresta. Logo depois desta atitude de tornar sua fazenda o paraíso em que foi criado novamente e replantá-la com espécies nativas, parte para fotografar os santuários na Terra, lugares onde o capitalismo não tocou (ainda) e que lhe lembravam o paraíso da Terra. É assim que nasceu seu último trabalho, Gênesis- onde o fotógrafo cai no gosto da burguesia.

Sou completamente pró-natureza, mas me irrita muitíssimo esta conversa de pró-natureza vinda da boca de quem apóia a exploração que o capitalismo faz do homem pelo homem e aí me dá nos nervos ver um pessoal que adora a natureza- contanto que possa continuar usando de seus recursos sem pensar na devastação que causam. Então esta unanimidade que este grande fotógrafo agora alcança me parece surreal. Tenho certeza que muita gente que hoje aplaude o sujeito pararia de aplaudir na mesma hora se juntasse os pedaços, conhecesse melhor o trabalho do homem, entendesse as motivações e percebesse que o cara é de esquerda.

Mas assim é a vida.

Acho que o filme O Sal da Terra é tudo de bom. Para fotógrafos, uma aula. Para não fotógrafos: coisas a pensar.

sábado, 28 de março de 2015

porque hoje perdi

Claro que ganhar é bom, mas muitas vezes é mais importante lutar do que ganhar. O segredo de se sobreviver às perdas passa por perceber isto e se dar conta que muitas vezes o estar acomodado já é em si uma tremenda perda. Não consigo achar graça em virar pedra antes da hora. Então prefiro às lutas, mesmo as inglórias. Como no fim morreremos todos, melhor morrer cheio de histórias.

Insônia em Copacabana

No dia que eu morrer morri

no dia que eu viver vivi

toma um açaí em minha homenagem

e corra até alcançar o trem

estarei lá
distribuindo flores e bananada

há em mim esta menina de tranças
que puxa conversa com todos os desconhecidos

sempre fui um perigo

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Ursinho Abandonado



Todas as semanas passo na frente da lavanderia onde está este ursinho.

Nas primeiras pensei que a qualquer hora o dono(a) do urso iria apanhá-lo e feliz, o bicho de pelúcia seguiria seu caminho de ácaros e ociosidade.

Mas passaram-se meses, anos e nada. O urso segue no mesmo lugar. Envolto pelo mesmo saco plástico na lavanderia, que milagrosamente continua positiva e operante.

Por que não foram buscar o urso? Esqueceram? Como é que se esquece um urso daquele tamanho? Como é que a criança esquece? Como é que o adulto esquece da criança?

Cada vez mais ele me parece mais trágico na sua solidão sufocada de ácaros e afetos este tolo bicho de faz de conta.

Meu filho teve um urso, dado pelo Seu Anibal e sua esposa bailarina. Perdeu os olhos o pobre urso. Acabei jogando fora, mas foi com um imenso pesar. Torcendo para outra criança pegar o pobre coitado cego dos dois olhos de vidro. Ele perdeu um dos olhos por arte do filho, o outro por arte da cachorra. Mas teve uma vida feliz de bicho de pelúcia sempre usado.

Este urso amarelo está deprimido. Penso que talvez a criança tenha falecido por uma pneumonia causada por alergia, causada pelos ácaros. Ou pode ser que a criança tenha crescido e aí sim, resolveu mandar o urso pro inferno da lavanderia e nunca mais apanhar. Ou ainda pode ser que o urso tenha sido um presente daquela namorada ingrata que depois o trocou por um cachorrão.

O urso não chora porque não tem lágrimas. Tem olhos, mas são os olhos de faz de conta dos brinquedos. Choro eu, por todas as crianças que morrem no mundo, muitas vezes sem nenhum brinquedo, sem nenhum consolo. Choro eu, por todos os adultos que um dia tiveram um sonho, mas por força do mundo mau o esqueceram nas prateleiras da desmemoria. Choro sim, junto com a menina que teve seu primeiro amor e se desiludiu. Choro pelo garoto que se torna homem e separa o sexo do amor, depois da cabeça, depois de si mesmo até se tornar um velho cínico sem nem mais uma brincadeira para alegrar sua história. Finalmente, choro por mim mesma que pelo caminho me esqueço primeiro de mim para lenta e inexoravelmente esquecer de tudo porque não há vida que caiba inteira na memória, como não existe urso com quem sempre se brinque.

Deveria existir um lugar onde pudéssemos abraçar a todos estes que a vida enganou com seu abraço de urso e lágrima de jacaré. Que também corre o risco de acabar na sapataria, vizinha imediata da lavanderia.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

o piano

Acho o máximo quem toca piano. Mas mais do que isto, adoro aquele monstro de madeira na sala. Um piano numa casa faz dela, automaticamente, um lugar diferente. Piano é um instrumento de antigamente, algo que lembra cidades com neve, cafés, intelectuais no café, conversas sobre BauHaus, uma coisa assim a um tempo clássica e ousada, cosmopolita e sofisticada, quase esnobe.


Não existe outro instrumento que me faça pensar nisto. É arbitrário mesmo. Um violoncelo deveria passar a mesma impressão. Um violino. Afinal são instrumentos de música clássica. Até um violão poderia ser assim, porque apesar de ter se popularizado, é um clássico. Mas não. É o piano e só o piano que me faz pensar em ruas com bondes elétricos, pessoas que sabem tudo de História da Arte, conhecem profundamente todos aqueles autores que eu só consegui ler alguns parágrafos sem ficar com sono e conhecem intimamente as ruelas de Veneza, Viena, Berlim, Paris, sim, Paris por certo. Tudo o que é dito em Francês ganha algo de verdade profunda.


A pessoa que toca piano não caminha. Eleva-se com as notas musicais acima do nosso dia a dia café com leite, das estatísticas que nos provam que mordidas de cachorros matam mais que tubarões, o preço do Miojo no supermercado e todo este elenco de coisas prosaicas cujo interesse dura apenas o tempo que passamos os olhos nas bancas de jornais iluminadas.


Um piano deve vir acompanhado de uma bela biblioteca, quadros pintados por pintores de verdade e não meras reproduções, fotografias em preto e branco e jarros com flores frescas recém colhidas de um jardim na frente da casa. Um cinzeiro em um estilo contemporâneo brilha no canto. Uma garrafa de vinho do Porto aberta displicentemente. Um abajour em papel com ideograma japonês. Um lugar aonde nunca se sua como nos países tropicais e nunca se fica em filas imensas, apinhado no metrô com pessoas de rostos inexpressivos e olhares perdidos, números marcados em algum lugar discreto no lombo.


Uma passagem de navio, do tempo que navio era elegante e não estas sucursais do inferno onde burgueses de todos os estilos se acotovelam na aeróbica da piscina. A passagem em cima da mesa de madeira maciça. Que cupim não rói. O piano. Melhor em silêncio, apenas na sua solidez magnífica.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

sobre amar ao próximo como a ti mesmo

A maior ironia cristã é dizer para amar ao próximo como a si mesmo. E se a pessoa odiar a si mesma? Ou se é entediada e indiferente a si mesma? Ou ainda se tiver medo de si mesma? Como ordem, eis uma ordem muito marota. Como tudo o mais nas religiões. Esta mania de querer generalizar das religiões e achar que todo mundo é igual. Melhor dizer: pergunte ao próximo o que ele deseja e faça o que o próximo quer, não tente adivinhar, não projete seus desejos nos dele. E no mais é torcer para que o próximo não deseje que alguém o mate. Isto seria complicado. Sendo assim, o que há de mais tolo no espírito religioso é partir do pressuposto que exista algo no ser humano comum a todos. A única coisa comum a todos os seres humanos é serem mortais e paradoxais. Subjetividade é o segundo nome de cada pessoa.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

sobre a felicidade

De felicidade pouco sei

Difícil ser feliz quando vemos uma criança suja adormecida no chão.

Ninguém é feliz
Se está feliz
ou algo parecido
Sei de alegrias
alegria de mais um dia
o sol brilhando
as nuvens fofas
pássaros e flores
amigos e amores.
Todas as alegrias são tão particulares
tão deliciosas e fugazes
que não existe "todas as alegrias"
e sim a sua
a minha
a de alguns
a quem a juventude
o amor
a saúde
ou a sorte contemplaram