sábado, 5 de setembro de 2015

Muita Coisa Absurda Junta

Aylan e Galip não saíram dos meus pensamentos. Eles são milhares. Hoje, no mundo, há milhares de refugiados e nós aqui no Brasil temos diariamente muitos Aylans e Galips sendo mortos a tiros nas favelas, nas ruas, nas escolas. Todos os dias. Sem que ninguém lhes faça uma boa foto. Guardada a distância de no mundo árabe serem ditaduras progressistas e aqui ser uma democracia, nós também tivemos na América Latina ditaduras financiadas pelos Estados Unidos. Pois sempre há USA por trás de cada bomba que explode em algum canto do mundo. Os mocinhos da 2a Guerra Mundial que salvaram a Europa do nazismo com o passar das décadas se tornaram vilões. Mas se eles sozinhos fossem vilões, Aylan e Galip estariam a uma hora dessas no Canadá jogando futebol com outras crianças. Não, os USA não são o demônio. O demônio são todas estas grandes nações poderosas que se recusam a dar vistos, que se protegem dos estrangeiros, não importa quais circunstâncias os tenham feito migrar.


A riqueza do mundo é tal que ninguém hoje precisaria passar fome. A riqueza do mundo hoje é tal que ninguém precisaria entrar em guerra. A riqueza do mundo hoje é tal que ninguém precisaria roubar e matar. Mas a riqueza do mundo está concentrada na mão de muito poucos que protegem suas riquezas, não à vida humana. Nós somos, para eles, apenas números, apenas ratos a serem devidamente mortos.


Ainda haverão muitos outros imigrantes. Há países inteiros afundando, catástrofes naturais e climáticas, além de guerras estão acontecendo. As fronteiras deveriam acabar. O mundo deveria ser solidário e receptivo aos que tomam a difícil decisão de migrar. Não é fácil migrar, nem mesmo quando o lugar de onde se sai está em guerra. Porque somos conservadores, porque queremos conservar nossas famílias, nossos amigos, os cenários conhecidos por onde andamos, nossos vizinhos, nossas rotinas. Quebrar isto tudo demanda um desejo férreo por parte de quem decide ir embora.



Está na hora dos ricos do mundo botarem a mãozinha na consciência e pensar: meu dinheiro vale mais que o sorriso de Aylan e Galip? Ninguém deveria passar por isto que esta família passou. E há tanta riqueza! Basta ver o que se faz para se conseguir atrair os ricos.



Ontem fui no Casa Cor, um evento feito para ricos de todos os portes. Casas belíssimas feitas decoradas com as tendências mais incríveis do momento, todo um aparato só para este evento de poucos dias de duração, onde se movimentam negócios de muitos e muitos milhões de reais. Crise? Crise pra quem cara pálida? Crise fabricada para desestabilizar o governo do PT isso sim. Há muitos anos. E não me falem dos corruptos porque pelo que fica cada vez mais patente, o que não faltam são corruptos de vários outros partidos. Mas só se dá notícia do PT. Só interessa queimar o PT. Como se o PT fosse o demônio. Não é.


Se fosse era fácil: acabar o PT resolveria todas as mazelas do Brasil num toque mágico. Como bem disse Leandro Karnal, eu também trocaria Hamlet por Paulo Coelho se fosse assim tão facinho. Não é.



A corrupção está em nossa cultura, cheia de gente que quer tirar vantagem e lesar o próximo. Até nossos ciclistas são selvagens e jogam suas bicicletas em cima dos outros sem cuidado e sem pensar que a preferencia é sempre do pedestre. Os carros e ônibus atropelam os ciclistas e motociclistas que por sua vez atropelam os pedestres, que são atropelados por todos os demais, além dos ciclistas.


Não existem demônios. Nem a Veja é um demônio. A Veja, com suas capas ridículas, suas matérias para vender escândalos. Seria apenas uma revista infantil e patética se não fosse o fato de que são os que a consomem que são infantis e patéticos.


Somos analfabetos políticos. Desconhecemos a História, somos uma nação que quase não lê, quase não se informa de nada. Somos um povo que fala que Lula é analfabeto mas a maioria é muito ignorante, bem mais que o Lula que de analfabetismo político e econômico com certeza não sofre.


A Veja vende por causa disso. Os vilões não são os jornais e as revistas. Isto fica óbvio nas redes sociais onde cada um escreve o que quer e vemos tanta gente ignorante, tanta gente boçal, tanta gente violenta. Os jornais seriam melhores se nós fôssemos melhores. A Veja já teria mudado sua linha editorial se não vendesse com capa de urso panda arreganhando dentes.


Quantas crianças precisarão ser mortas para que cada um decida estudar um pouco da história do seu país e depois a história dos outros países, de forma a assim se tornar menos massa de manobra de interesses escusos?


Os demônios somos todos nós, que achamos que a desgraça alheia nada tem a ver conosco. Que diante da morte, só pensamos que nossos filhos estão bem. Será mesmo que estão? Será que é possível qualquer um estar bem com tanta coisa absurda junta?

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