segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Historietas Sem Pé Nem Cabeça




Saltitando livre num mundo sem pé nem cabeça, se apaixonou o sapato pelo chapéu, que voava enfim livre pelo céu.

Para o marido, contou sobre o amante. Para o amante, contou que nunca deixara de amar o marido. Como explicar que finalmente se apaixonara por suas próprias mãos?

Chorava noite e dia. Depois dia e noite. Foi levada por uma enxurrada de lágrimas.

Depois de chorar cem dias e cem noites, transformou-se em sereia e foi viver no meio do oceano de suas próprias lágrimas.

Tinha medo de tudo. Medo de estar só. Medo de multidões. Medo de lugares fechados. Medo de lugares abertos. Um belo dia se jogou do décimo andar, pois só não tinha medo de cair.

Brigava com a mãe. Brigava com o filho. Odiava os vizinhos. Detestava a conjuntura nacional. Furiosa adentrou as portas do inferno. O grande anjo decaído lhe apaziguou a alma servindo-lhe um cálice de fogo.

Por ter medo de morrer, inventou a vida após a morte. Por ter medo de viver, acreditou na sua fantasia.

Só cuido do que é meu. Não cuido do que é seu. Quanto mais coisas tenho, mais perco o sentido da vida.

Lembrete do dia: aprender com os cães a amar sem mágoas. E com as borboletas, a voar de flor em flor.

Passou onze meses sonhando com as férias. Durante as férias, dirigia para lá para cá, ia daqui para acolá e não havia paisagem que não merecesse uma fotografia. No fim das férias estava exausto.


Adorava todo o tipo de pontes. Ia a todos os lugares do mundo e estudava cada uma com imenso carinho. Numa de suas viagens, o carro enguiçou sobre uma que se encontrava sobre um rio, que naquele exato local, formava uma imensa cachoeira. Atônito descobriu que as cachoeiras eram as pontes de água que ligavam o rio ao seu próprio salto. Viaja agora mundo afora em busca de cachoeiras.

O que é o que é, dorme se acorda, acorda quando dorme e nunca está livre de sua ansiedade? O que é o que é, é mais louco quando se pensa normal e muito mais normal quando se pensa louco ? Se a vida é uma grande charada, o que vale mais: uma boa pergunta ou uma boa resposta?

O menino adorava vídeo game e achava muito chato ler. A menina de quem ele gostava também adorava vídeo game e achava chato ler. Os dois se gostavam muito, mas nunca desconfiavam que o afeto fosse recíproco. Quando se viam, faltavam palavras.

O menino e a menina começaram a se encontrar. Substituiram palavras por beijos. Ficaram juntos até terminarem os beijos. Os beijos duraram toda uma vida.

Duas mulheres começaram a discutir a propósito de um trabalho. Começaram a brigar todos os dias. Nenhuma das duas lembrava mais por que havia começado a briga. Mas jamais se esqueciam de permanecer em atrito.

O marido todos os dias traía sua esposa. Cada vez com uma mulher diferente. Um dia chegou a casa e sua esposa estava de malas prontas, amava outro homem e ia embora. O marido furioso com a atitude da antiga companheira, todos os dias traçava ardis e planos diabólicos para desgraçá-la. Já não saía com nenhuma mulher e passava dias e noites em completa solidão. Viveu assim o restante de seus dias, sem jamais alcançar seus perversos objetivos. Seu ódio era muito mais fiel que seu amor.

Um furacão passou por uma cidade. Morreram muitos homens, mulheres, crianças e velhos. As criações ficaram arrasadas e muitas colheitas foram perdidas. Na igreja, os habitantes da próxima cidade no caminho do furacão rezavam implorando a Deus que este tornado desviasse seu caminho e lhes poupasse às vidas. Mal sabiam que o seu Deus era o mesmo Deus dos furacões, era o criador tanto dos homens e dos bichos quanto dos ventos e das tempestades. As preces dos furacões eram feitas em súplicas serenas de brisas. Deus ouvia ao palavrório humano e sentia o frescor das brisas.


Deu preferência às preces do furacão. A vontade do furacão era girar numa velocidade estonteante, sem limites, sobre o chão. Assim o fez, sob as bençãos de Deus. Que cuidava de homens, bichos, mas também de pedras, rios, ventos e constelações. Não seria justo cuidar de uns e abandonar os outros. Era o Deus de todos, era muitos e era um só. Quando os homens e bichos morreram pela dança do furacão, era inclusive o mesmo Deus dos vermes, que comiam os corpos de homens e bichos.

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