quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tudo Azul


No meio da noite, o caminhão de lixo uivava. Na rua, mendigos se embrulhavam nos jornais para espantar a friagem da noite. O caminhão ficou por muito tempo fazendo barulhos estranhos e uivando. Dormi antes de ele ir atormentar outros mortais. Na noite, meus sonhos se misturavam como comida no prato do almoço. Tudo acaba dentro. Dentro sonhos, dentro comida, dentro caminhão de lixo, dentro o lixo, afundo eu sobre eu mesma. E tudo acaba dia.

Correr no Aterro do Flamengo, olhar a maré. Hoje o mar estava extraordinariamente limpo e lindo. Fim da ressaca, só no cantinho ondas e contra-ondas ainda espocavam o aeroporto. Cada dia é diferente um do outro e os azuis não se misturam. Cada azul mais azul que o outro, vale a pena ver. Quantos tipos de azuis maio tem? As maritacas verdes têm sob as asas um outro azul, o azul maritaca. O azul céu de maio dia 6, azul asa de maritaca, azul dos olhos do professor de psicanálise judeu, azul do carro azul que não quis parar no sinal e atropelou lá na frente um ciclista. São muitos os azuis e são muitos os fatos.

A poesia fica no azul além. Porque o azul além me faz cantar makes me Wonder com Jimmy Page. Você ouve quando o azul te conta um segredo? Comentários sobre os segredos ou sobre os azuis na redação. Quero me lançar sobre um desses azuis.

O resumo de todos os sonhos e destes dias de maio se faz em vários azuis. Sou parte deles como faz parte de mim à comida que como e os sonhos que me sonham. E você que me lê está agora se dando conta que não tinha pensado ainda: não é que há mesmo um tanto disso tudo à minha volta? A função do poeta às vezes se resume a isso: fazer o outro se dar conta. Do uivo do caminhão de lixo, dos jornais que embrulham os mendigos que sempre são as notícias de ontem e os melhores dos milhares de azuis de maio.

Em todo o mundo, o azul comemora. Não há coisa mais linda que estas comemorações mundiais de azul sobre o ocre da terra, todos os tons da terra para cada tom de azul...