sexta-feira, 1 de maio de 2009

Solução Solúvel




A solução para a questão da razão e do coração não é de natureza teórica, mas prática.

Quem duvida?

O coração é a des-razão.
Ou será o coração uma razão emocionada?

E a razão é o não-coração.
Ou será a razão um coração razoável?

Seja como for, procuramos caminhar unidos: a cabeça e o pé, o pé e a cabeça; o coração e a razão, a razão e o coração. Somos parte de um todo. E damos nomes a cada parte. Nossa parte, nós mesmos.

Somos o que somos. E somos inteiros- não partes. Porque do que é vivo, não basta somar as partes para acontecer um todo.

Pegue-se um fígado, um coração, par de pés, mãos, braços, pernas, some-se isso tudo: não resulta numa pessoa.

Uma pessoa é bem mais que a soma de suas partes, por mais exatas que sejam todas estas partes.

Foi bom ter te conhecido. Ou te re-conhecido. Acho que já te vi num dos meus sonhos. Aquele em que você era francês, recém fugido da Alemanha nazista. Mas não sei não me recordo bem. Acho que está na hora de botar seu nome na boca do sapo ou preferencialmente na do mosquito do dengue.

Meus seios em tuas mãos se espalham. Suas mãos vasculham cada intimidade do meu corpo- mas não encontram o que procuram. Surpreendem-se com minhas nádegas, mais firmes do que a fotografia. Descobrem meus beijos, espantosamente molhados. Mas não adivinham o principal: escrevo poesias no banheiro.

É entre os azulejos brancos que vejo meus cabelos, meus pelos. É ali que vou me aproximando da morte como da vida. O banho morno, o sabonete cheiroso, cada resíduo fétido, cada pingo mais molhado que o anterior. Sim, no banheiro todos temos nossos antecedentes e não há balança que nos perdoe. A cada dia, somos pura verdade em todos os nossos quilos. Em toda a nossa plenitude.

Afundo em trivialidades dentifrício. Fundamento cada instante no indizível ato de fazer xixi. Horror, beleza, sabe-se Deus, quantas taras. Quantos vícios. Todos nós somos isso.

Mais nossos sonhos.

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