sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Mulher Em Si bemol


Nas palavras me refugio como o sonhador vai para a ponte olhar os peixes, as aves, as montanhas e às árvores.

As palavras são o que me liga ao outro, mas o outro a quem me ligo é um sonho, o brilho do meu anel.

Quando escrevo sou uma mulher de uma substância entre o diamante e a nuvem. A mulher para qual fui destinada, mas que por desatino e no desalinho das linhas da minha vida, não realizo.

A parede de pedras. Tento colocar as letras numa outra ordem e nem por isso cai a parede de pedras. A parede de pedras me antecede. Com adjetivos ou sem, segue até sem substantivos. Hoje, uma livraria, ontem e amanhã, quem sabe? Queria ser esta parede e seguir sendo parede de pedra, mesmo que mudassem minhas letras de ordem ou me tirassem todos os verbos e adjetivos. Sendo mulher, qualquer desvio é sempre fatal. Uma mulher desviada ainda é um perigo na estrada onde passa o boi e a boiada.

Por acaso alguém já te contou que estou separada?

Separada do quê, indagas.

Separada dele.

Que ele?


O ele que me dá passaporte para ser quem sou.

Te paga as contas?

Não. Paga a vida com a própria vida. Chama-se amor. É dele que estou apartada. Ele mora perto de mim, mas algumas ruas muitas vezes se tornam infinitos quando os passos estão descalços.

Passo a vida totalmente nua, pés descalços. Perigo pegar uma gripe. É sempre perigoso viver quando a coragem nos vem depois do feito. Eis que é sempre assim: é preciso arriscar primeiro para se medir o tanto de ousadia que nos resta. Passo a vida em festa.

2 comentários:

Anônimo disse...
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