segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pássaros


Um pássaro desesperado na gaiola é idêntico ao coração quando diante de uma dor insuportável. Estar tão angustiado que respirar o ar seria igual a respirar água nos afoga- faz parte das metáforas que ajudam que um comunique ao outro aquilo que sente. Mas as palavras não passam nem perto do sufoco, apenas acariciam a superfície sólida e enigmática da dor.

Simplesmente não se explica. O desejo, a dor, a beleza, o milagre, a poesia. Na ponta da asa, o vôo é cego e o mergulho é um salto na imensidão.

Os que entendem, sorriem o pequeno sorriso, tão sério e tão rasgado da compreensão. Os que não entendem a maioria talvez possam falar - ou silenciar- que diferença faz? Não muda o fato de que a maioria não ousa, não arrisca, mal respira para que jamais seja confrontada com a incrível dor de viver.

Seja como for, felizmente faço parte do grupo de pessoas que não precisa de uma cama de pregos para lembrar que o corpo existe e que ele tem limites difíceis de transpor. Que todo limite que existe é feito para ser conhecido e que cada célula do nosso ser clama pelo impossível: estar tão viva que a morte não seja nada além do fim.

O fim não espera, o fim acontece. E acontece de tal forma que nunca sabemos que ele finalmente foi. Foi o quê? Foi quando? Jamais sabemos. Os outros sim, eles saberão. Mas nós? Só poderemos suspeitar. A morte é nossa vizinha suspeita, de quem controlamos os passos, mas ela sempre está onde não imaginamos. Nisso, de estar onde não se imagina a morte não é muito diferente da vida. Amigas inseparáveis as duas. Uma só existe, porque existe a outra.

Um comentário:

Alex Martins disse...

Interessante o texto, sobre a morte, talvez ela seja justamente o amigo que sempre sabemos onde está, não? Afinal todos rumamos para seus braços sempre e ela só nos acolhe quando realmente chegamos ao fim.