domingo, 7 de junho de 2009

Caia 7 vezes, levante 8


Tem coisas que não acabam, param. Esta frase da peça vale a peça inteira. Porque há histórias que não terminam, porém subitamente desertam. Porque a vida estanca, a vida pára, sem aviso, sem uma única dor que dê o sinal. E resta a nós assistirmos o desenrolar da vida, como se nada tivesse acontecido. Desertar: o verbo mais exato para o deserto que resta quando certo alguém se vai.

Pequenas coisas. Asas de um pernilongo. O rio que leva tudo para o mar, não leva nossas lembranças. A cidade cresce, sai do chão e os possantes automóveis passam sempre raspando pelo desatento pedestre. Se pé desse, o pedestre voava. E ele voa de vez em quando, enquanto zunem seus ouvidos com a freada brusca.

Caia sete vezes, levante oito. Assim disse um peregrino urbano, um desses quinhentos mil seres que habitam os mais diversos pontos do globo. Abandona tudo e vai, porque sabe que ir é o destino do ser e repetir a sua derrota.

A gente diz sim, como quem oferece um diamante. O outro recebe e vê uma chupeta. O outro debocha. Raramente vê no diamante o brilho, que é o que realmente interessa da dureza cintilante do minério. A gente se faz palavra porque nos construímos pontes. Queremos tocar o intocável, ver o invisível, lembrar do imemorável, conviver com o impossível. Plantar sementes e colher estrelas. Assim somos nós, aqueles que cantamos os abismos.

Com uma pequena ajuda sua, eis que vôo e me torno a estrela em rota de colisão pela qual tanto esperavas. Sem você, por aqui fico, por aqui escondo as sementes de estrelas bem no fundo do meu poço sem fundo, meus olhos escuros, meus dotes escusos. Silêncio. E música. Vago cheiro de gerânios e jasmins. A terra e a doçura do dia. A quietude da noite. O caleidoscópio de mil pequenas vidas.

A menina com diamantes olha para você pelo buraco da fechadura. A bossa nova que canta os Beatles, Rita Lee. Nossa vida sempre cabe numa canção, ou em algumas. Mas o filme é sempre um só. Cada um tem o seu, único, insubstituível.

Meu olho foca a toca da foca. Coisa sem sentido, por certo. Mas o que é fazer sentido quando tudo é simples caos e dança?

Dou meu coração. E corôo um ato falho. Confio em você.

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