segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Biografia Autorizada de Coxinha Dois A Missão




Coxinha Dois tocava violão muito bem. E obviamente nem teria seguido na vida sendo Coxinha se tivesse feito sucesso. Afinal, a condição do Coxinha tem a natural implicação de o indivíduo viver e morrer em ostracismo e ser uma ostra tão completa que desconhece sua condição de ostra.


A questão do Coxinha Dois começava por seu rosto. Nem suficientemente bonito para ser considerado lindo e nem suficientemente feio para ser horrível. No Rock and Roll dos anos 70 e 80 podia tudo, exceto ser comum. Nos 90 a coisa muda no Brasil porque entram em cena os filhos dos grandes compositores da MPB, vários bastante comuns, diferentes de seus pais. Mas filho de alguém, fidalgo, sempre consegue apoio nas rádios e tvs tupiniquins e faz sucesso de um jeito ou de outro. Coxinha Dois que até que tinha alguma consciência de onde estava costumava dizer que “O Brasil nunca perdeu sua verdadeira vocação para monarquia, basta ver que ainda somos capitanias hereditárias em todas as áreas importantes”.

O outro problema do Coxinha Dois é que apesar de tirar notas que soavam tão bem aos ouvidos e ao coração, ele não transparecia isto em cena. No palco, ele fazia o som de um deus com a cara que se espera encontrar num contador, não num músico. Na época que ele acompanhou @##$%$% e sua produtora o aconselhou a fazer um curso de teatro na #$#$#% para melhorar sua performance ele teve esperanças de melhorar. Coxinha Dois foi ao tal curso de teatro, mas parou depois do dia que o professor deu aos alunos a ordem de “ser um com as árvores, ser uma árvore”, achou muito chato ficar ali na sala paradão. Nem uma amendoeira autêntica suportaria esta aula, pensou Coxinha Dois. Não se passaram nem duas semanas e ele foi substituído por #@$#W um guitarrista que certamente havia conseguido fazer o curso inteiro. A banda bombou e o guitarrista imitava todos os solos que Coxinha é quem havia criado.


As agruras e desagruras de Coxinha Dois na música seguiram até que sua mãe morreu e com o dinheiro da herança- que não era pequeno nem grande, bastante de acordo com uma Mãe Coxinha- ele comprou um espaço no Centro da cidade. Foi aos poucos construindo um estúdio, comprou sua mesa de som e sua aparelhagem com o genial Claudio Cesar e era por lá que passavam as bandas coxinhas que não tinham dinheiro nem prestígio para gravar nos grandes estúdios cariocas.


Acompanhando pessoalmente todas as produções, não foram poucas que tiveram seu som em muito melhorado pela sua participação sensível e criativa. Mas o tempo dos estúdios estava acabando, acabando, acabou. Poucos gravavam em estúdios porque ficou fácil ter seu próprio homestudio. Some-se isto ao fato de que cada vez menos gente fazia cds porque era mais jogo colocar a música em sites do que ficar com caixas e mais caixas de cds independentes em casa.

Como negócio, a coisa ia mal. Quando começaram as manifestações no Rio, Coxinha Dois que já não andava lá muito feliz com seus botões foi para as ruas gritar junto às multidões sua revolta e achou “muito maneiro” que os Black Block queimassem tudo. Tinha mais é que queimar tudo mesmo. “Fora Dilma” virou o mantra de Coxinha Dois. Só não tentava se juntar aos Black Block porque seu problema no joelho jamais permitiria que ele tivesse uma boa performance na hora de correr da polícia. Mas bem que queria. Foi com um certo assombro e delícia que ele viu um garoto mascarado botar fogo num carro da polícia.


No dia #%$%$#%, um dia depois da manifestação dos professores, ele foi para o centro para terminar o trabalho de pós-produção de dois amigos queridos que estavam gravando em seu estúdio. Quando lá chegou, não existia mais estúdio. Vários aparelhos tinham sido levados, muitas coisas quebradas e do trabalho dos amigos, nem sombra. O pessoal da rua lhe contou que haviam sido “Os baderneiros”.


Coxinha Dois pegou seus pequenos últimos recursos e foi para a casa de uma namorada que cria abelhas em Mauá. Não quer mais nem ouvir falar em política novamente.

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