domingo, 7 de março de 2010

Caravelas


Elas chegavam solene e lentamente. Portais no mar, as caravelas, caras de velhas caravanas marítimas abriam um novo horizonte em sua trilha. Onde chegassem, trariam o sonho ou o pesadelo. Imagine um elefante. Imagine um milhão de elefantes. Eis que assim surgiam novas soluções e novos problemas, frutos justamente das soluções.

Toda solução de um antigo problema está grávida de um novo problema.

Num livro que li, a história de um homem que procurava um seixo que transformaria metal em ouro. Cada seixo que ele encontrava, batia na fivela do cinto de metal que usava para ver se este havia se transformado. Ele saiu nesta busca por toda Índia e África quando ainda tinha vinte anos. Subiu todos os rios, correu todos os riscos e deu lá seus tantos risos diante das histórias que ouvia de outros viajantes como ele, em busca de sei lá quantos sonhos. Jogava fora todos os seixos que não eram O Seixo Transformador de Metal Em Ouro Puro.

Um dia, seus cabelos brancos lhe chegando pela cintura, já cansado, sentou-se para descansar sob uma frondosa árvore- a primeira que encontrara após muitos quilômetros. Reparou que apesar de toda fadiga a que submetia diariamente seu corpo, sua barriga crescera um pouco. Talvez mais por cansaço do que por desilusão, decidiu retirar o velho cinto, que ouro puro, reluziu sob a luz do sol. Quando foi que acontecera isto? Que seixo teria sido aquele? Decidiu então refazer todo o caminho.

Assim talvez este mesmo homem estivesse agora numa destas caravelas. Mas de nada isso importa agora neste silencioso caminho feito de marés, ondas e correntes que levariam os homens para onde quer que elas, forças ancestrais decidissem. Elas, as caravelas, junto ao mar que as acolhia, eram soberanas e nunca se deve olhar um rei diretamente nos olhos. É preciso a humildade de se reconhecer meramente um súdito. Súdito de destinos que a nós nunca cabe decidir.

Nenhum comentário: