sábado, 14 de março de 2009

TODO HOMEM É CORNO


Sim, todo homem é corno. Os que ainda não foram, serão um dia. E tanto mais corno quanto mais revoltado contra esta condição tão natural ao homem contemporâneo. Os homens feios serão traídos por serem feios. Os bonitos, por serem bonitos. Os inteligentes por serem inteligentes, os burros por serem burros. A cornualha é democrática. Atinge aos pobres, aos ricos e aos remediados. Para não ser corno só há um jeito: a solidão total e absoluta. Solidão sem pausa, sem cura, sem entretenimento. Pois se o solitário num belo dia apelar para uma velha amiga carente, neste momento, já estará sendo corno. A cornice é tão fatídica que basta que o homem tenha contatos com mulheres do sexo feminino que a coisa já começa a se desenvolver...

Pois não é de puta que uma mulher é xingada sempre que faz qualquer coisa que irrite a alguém? Então, toda mulher é puta. Até as virgens e as freiras. Todas estão equipadas para a putaria- ao menos é o que se atesta pelo uso coloquial sem restrições da palavra puta. Dirigiu mal? É puta. O juiz marcou errada a falta? A senhora mãe do juiz é puta. Bobeou, respirou? Se for mulher, é puta. Puta por dar e puta até por não dar- aliás, principalmente por não dar. A mulher que não dá para um homem, não é de puta que ele a xinga em sua raiva de homem rejeitado?

Se toda mulher é puta, todo homem, por conseqüência, é corno. Ser homem e ser corno é uma redundância. Não há porque ficar aborrecido porque este adjetivo cai como uma luva aos Robertos, aos Henriques, aos Sergios, aos Franciscos- o corno é uma unanimidade.Enganam-se os que pensam que se for fabuloso no sexo se interrompe este fluxo. É uma lenda acreditar que ser bom de cama impede de se lhe crescerem chifres. O bom de cama pode incomodar da mesma forma que o ruim de cama e ambos serão traídos igualmente por razões opostas. Não há riqueza no mundo que desfaça esta realidade. Aqui se trata de aprender a lidar com o fato com toda a consciência e humildade que este requer. Os que chamam seus coleguinhas de cornos, estes serão os mais cornos. Afinal, quem torna chacota um assunto tão comum e ao mesmo tempo tão delicado, típico da condição masculina, o que poderá ser este se não um baita corno revoltado? Felizes os que se descobrem cornos percebem o quão comum é a situação e aceitam com galhardia e bom humor aquilo que para se ter basta um pênis. Sim, porque não há a palavra “corna”. A mulher traída é simplesmente a mulher traída. Desde os tempos imemoriais mulheres são traídas. São traídas e bem ou mal aprenderam a lidar com isso sob condições históricas e econômicas superiores às suas vontades.

Chega finalmente à vez do homem realmente encarar de frente este fantasma da traição, do abandono, da humilhação suprema de saber que definitivamente sempre haverá alguém melhor que você- ao menos para passar um par de horas. E este alguém não necessariamente será melhor. Pode até ser pior. Contanto que seja diferente. Isso é o que basta. Não foi sempre assim? Não justificam de tantas formas, até apelando para a Biologia e Evolução das Espécies o fato de que todo homem um belo dia sai com outra mulher?

O ciclo ideológico que gera o controle sexual da mulher, o conseqüente peso da palavra “trair” significando ter relações sexuais com outras pessoas que não seus parceiros usuais e a visão da sexualidade como algo obsceno termina exatamente na putaria e cornaria generalizada, democrática e inconteste.

Aliás, para ser corno basta ler este texto. Leu todinho? É corno, sem sombra de dúvida ou sequer pausa para meditação.

domingo, 8 de março de 2009

Contradições Mundanas- II


Se observarmos bem, a cada dia, a vida nos floriu como um buquê. Um buquê de sorrisos, de imprecações, de lágrimas, de sustos. E este buquê não é constituído por grandes eventos, grandes afetos, grandes coisa alguma. São pequenas conquistas, um passo a mais, um dia a mais. Bom dia, o primeiro bom dia que recebemos logo ao sair de casa.

Não há como mensurar as coisas. Mas quando um homem me dá uma informação de como chegar a algum lugar e me diz algo gentil e sorri, isto é uma pequena vitória do que há de mais simpático em todos nós e que nos constitui como humanidade. Afinal, um sorriso não custa nada, mas uma agressão também não.

Quando a atendente da loja de Xerox comenta algo engraçado com uma cliente a quem ela jamais viu na vida, eis aí outra pequena graça. E se o garçom fizer questão de me dar à garrafa mais gelada do meu refrigerante predileto meio a uma onda de calor, o que será isso se não mais uma benção do acaso e confirmação de nossa civilidade?

Sem dúvida, a felicidade é a soma de pequenas felicidades. Da mesma forma como a infelicidade é o agrupamento de pequenos desastres.

Ao longo dos nossos dias, temos amostras de cada um desses fatos que nos fazem sorrir ou xingar ou chorar. Cada um de nós se movimenta para o centro onde acontecerão estes eventos. Cada um de nós experimentará de forma diferente ao que o circunda. De acordo com isso, diremos que estamos bem ou mal.

Meu filho, torcedor fanático do seu time de futebol, rumou para São Januário à uma hora da tarde de hoje para comprar ingressos para o jogo e cozinhar até a hora em que começaria a partida. Debaixo do sol a pino, num verão senegalês, ele e um amigo tomaram ônibus e cantaram os hinos das torcidas que lotam as conduções até o bairro onde se localiza o estádio. No mesmo ônibus, outras pessoas, talvez até indo ao mesmo jogo, encaravam com mau humor ao sol, ao barulho, a tudo em volta, inclusive a estes jovens bem humorados. Quando não estamos bem, a felicidade dos outros incomoda quando deveria nos exaltar à mudança.

Não temos como escolher o que nos acontecerá, determinar a ordem dos fatos futuros. Ao mesmo tempo, pretensão seria acreditar que podemos controlar os humores que nos impelem dentro das situações. Por mais controladores que sejamos as emoções acabam por nos tomar. Então, deixamos de ser os cocheiros para sermos os cavalos atrelados numa carruagem a toda velocidade.

Entretanto, é opção nossa retribuir à vida os sorrisos que as gentes nos oferecem. Também é opção nossa valorizar aos sabores ou aos dissabores que carreiam as marolas nas marés de nossas existências.

Viver o hoje, pois a vida é agora, estar aqui porque aqui é o único lugar onde se está. Perceber que para o ser humano não existe tal coisa como a eternidade, esta é apenas um conceito, pois temos vida curta. Entender que não há nada absoluto, a absoluta felicidade, o absoluto amor, a absoluta abnegação- pois cada fato é precedido por motivos conflitantes e nossas reações são recheadas destes enfrentamentos.

Ou esperar para ser feliz quando o aumento for dado, quando os filhos saírem de casa, quando a galinha criar dentes, quando tiver emagrecido dez quilos. Ter tais posturas, isto sim, é escolha de cada um.

Pessoalmente, não preciso do futuro para autorizar a existência do meu presente e vejo o presente literalmente como um presente, uma graça ou uma conquista por ser boa. Afinal, a palavra bom vem de bonus que significa guerreiro e eu sou uma guerreira. Ou melhor, sou uma guerrilheira do prazer, uma hedonista kamikaze, uma contradição ambulante que se permite poesia, loucura, humor, profundidade, estudo- tudo num mesmo pacote.

Mas não são assim todas as pessoas? Ronaldo o Fenômeno, hoje fez o gol que fez a reviravolta do jogo para o seu time. Isto depois de anos contundido, fora de forma, gordo mesmo. Envolvido com travestis, chamando a si todos os preconceitos da sociedade. Simultaneamente, batalhando para seu retorno ao futebol, mesmo já tendo acumulado uma fortuna que durará até a sua próxima geração.

Eis que quando odiamos ou amamos alguém, estamos sempre odiando ou amando aquilo que sabemos existir lá no fundo de nós mesmos. Uma sorte que a nós também pode caber. Então resta saber de quê lado estamos.

Neste momento de glória para este homem, Ronaldo, atentar para esta trajetória cheia de tombos e tão humanas do atleta. Mas também, lembremo-nos de Cínara, a travesti que foi encontrada morta no Piauí, nua e cheia de facadas por todo o corpo, além de sinais de violência sexual.

Qual é o tamanho da frustração pessoal que faz alguém destruir algo de belo de forma tão violenta? Qual o tamanho do engodo que rege alguém a denegrir o outro até o aniquilamento?

Ah, são tantas coisas...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Contradições Mundanas I


Estranha a sociedade que vivemos onde impera o individualismo, mas ao mesmo tempo, uma das principais metas traçadas é a da conquista/sedução do outro.

Movimentam-se milhões de euros e dólares em busca do remédio perfeito para emagrecer, o xampu que deixe seu cabelo mais macio, a tintura que cubra seus cabelos brancos. Aliás, envelhecer? Jamais!

Botox, cirurgia plástica, drenagem linfática, liftings e quantas outras mais técnicas que são destinadas única e exclusivamente a evitar não a velhice em si, mas a aparência de velhice.

Por que tamanha preocupação com a aparência, se na hora de pensarmos as metas de vida somos encorajados a pensar apenas em nós mesmos? Família, namoradas, tudo que impeça a carreira é descartado como inoportuno. Casamentos e relações são descartados como roupas são trocadas. Em nome do indivíduo.

A palavra “privacidade”jamais foi tão usada. Tudo o que remete ao isolamento é visto como valor positivo. Depender do outro é coisa feia. Quem assume que depende do outro é visto como uma espécie de aleijão social. Bom é ser independente bom é ser autônomo.

Sim, muito bom ser autônomo. Mas que estranha autonomia é esta que procura de todas as maneiras espantar a velhice? Por que o momento de ter uma pele enrugada, seios murchos, pintos flácidos, são vistos como obscenidades? Ora, é natural envelhecer. Tal como depois da vida, sempre se seguirá a morte, democraticamente.

Por que não buscar a dignidade da velhice em vez de tantos meios, todos tão ilusórios, de rejuvenescer?

Neurônios não rejuvenescem. Fígados, baços, pâncreas, intestinos, ovários, gônadas, nada disso rejuvenesce. A coluna cria osteófitos. O corpo verga. Com botox apenas vergará de forma mais patética. Pois é patético o velho que quer ser jovem a todo custo.

A jovialidade, uma característica de humor e pensamento, esta nada tem a ver com peles esticadas a força e cabelos pintados e repintados. E a morte, esta convidada sempre tão circunspecta chegará para todos, sendo ou não esperada.

Pessimismo? Não. Definitivamente não.

Quem encara com naturalidade a morte procura fazer da sua vida, a cada dia, algo mais rico e pleno.

Dá prioridade ao que realmente importa.

Sabe que é melhor investir numa boa viagem do que numa cirurgia plástica. Deixa para só entrar na faca quando realmente precisar. E, se cair nesta tentação, de parecer jovem sem mais o ser, saberá reconhecer, com lucidez, a total falta de bom senso de atitudes inúteis como a de tampar o sol com a peneirinha do botox.

Sou pela vida, por saber que é sagrado o instante, cada um deles.

Godot nunca chegará. Então, vamos à vida!


terça-feira, 3 de março de 2009

Por Que Falamos Mal do Outro


Fulana é loura, linda e burra.

Falo mal dela porque é burra.

Mentira deslavada ou lavadinha, não importa. Fato é que falo mal dela porque é loura e linda. Ela pode até ser burra, mas ser burro não é o pior dos defeitos que alguém possa ter. Eu sei disso, todo mundo sabe disso, mas na hora de maldizer, vale a burrice porque quem relativiza os defeitos do outro acaba perdoando tudo e todos.

Quem pode ser mais chato do que aquele que não tem nenhum desafeto pra chamar de seu? Quem pode ser mais insuportável do que aquele que não fala mal de ninguém e só tece loas em homenagem a todo mundo? Socialmente, falar mal dos outros é virtude porque a maioria fala muito mal de todo mundo.

Ao se relativizar situações e pontos de vista, chega-se a conclusão de que a maioria das coisas que se fazem usualmente é perdoável. Quem tem uma visão mais larga de si e do mundo percebe claramente que poucas são as coisas feitas com o único intuito de ferir, poucas são portanto as coisas imperdoáveis.

Imperdoável. O que é imperdoável num mundo onde todo dia se caminha por ruas onde há meninos abandonados, gente cuja única posse muitas vezes é seu próprio corpo, vivendo abaixo de qualquer condição que o identifique como humano e não um bicho?

Se fôssemos realmente não perdoar alguma coisa, deveríamos antes de mais nada não perdoar qualquer sociedade ou sistema que permita uns com tanto e outros sem absolutamente nada.

Mas nós perdoamos. Chegamos a nos acostumar com o desumano. Passamos por gente maltrapilha, fedida, dormindo nas ruas, comendo com as mãos o prato de comida que lhes caem no colo- todo santo dia.

Beltrano é um babaca. Beltrano é de fato um babaca? Não é ou até às vezes é mesmo, mas o principal defeito de Beltrano muitas vezes foi tocar num ponto de nossas vidas sensível, consciente ou inconsciente deste ato. Ou ainda mais simples: Beltrano não gosta de nós.

Ora, não existe tal coisa como a unanimidade. Mas por outro lado, quem é que não gostaria de ser amado por todos, judeus e palestinos, gregos e troianos, comunistas e capitalistas, flamenguistas e vascaínos?

Em geral, somos movidos a carências.

Carência sexual, carência material, carência afetiva, carência intelectual, carências. Em nossos melhores momentos, somos movidos por ideais e deixamos de lado o nosso mundinho para abraçarmos causas maiores que a largura de nosso umbigo. Mesmo assim, quem já não entrou para um determinado movimento político ou religioso para paquerar alguém que achou bonito? Eu já, desde logo admito.

Raramente nos importamos com os outros, considerando a própria alteridade do outro. Estamos imersos, quase que permanentemente, em nossa própria incompletude, tentando, por todos os meios, dar vazão às nossas ansiedades. Temos raiva, sem razão alguma que justifique, daquele que externou opinião diferente da nossa ou simplesmente demonstrou ter algo que nós não temos.

Ninguém falaria mal de ninguém se todos estivessem satisfeitos consigo mesmo e com o mundo. Como o mundo é cruel e em geral vivemos ansiosos e entediados, eis então que rapidinho assumimos que Sicraninha é uma grande filha de puta. E eis que Sicrania é uma pessoa generosíssima em verdade. Mas eis que hoje, tal como me sinto, fulana é uma grandecíssima cretina porque só ela, a idéia do que ela representa no mundo, dará vazão ao meu desconforto existencial.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval, a Grande Festa






















Serpentinas
Purpurinas
Violetas, douradas, prateadas, azuis, vermelhas e rosas
Não há cor que não caiba no carnaval
Não há música que não se cante
Não há história que não brilhe
Não há chuva ou sol que nos impeça
De até ao fim
Seguir nossa alegria

Até de muletas vale a pena sambar. Mas não é só em mexer o corpo que se resume o carnaval. Nem na cuíca, no surdo, no tamborim ou mesmo na cerveja, no confete, na serpentina e no carro de som.


O carnaval começa no sonho. Sonho de colombina, bailarina, odalisca, mulher maravilha, Zorro, Pirata, Homem das Cavernas ou Super Homem. Começa nas sombras dourada, rosa, azul, violeta, nas estrelinhas e na purpurina. E o carnaval não acaba na quarta feira de cinzas porque a purpurina e as estrelinhas ainda rolam pelos tapetes, grudam nos lençóis, nos tacos de madeira, nos azulejos do banheiro, nas coisas da casa por muitos dias. Ás vezes se encontra uma estrelinha carnavalesca que por pura teimosia grudou num sapato que nem se usaram no carnaval muitos meses depois.


Carnaval não se explica. Como não se explica a magia do cinema, do teatro, do balé ou dos desfiles de alta costura. Tudo isso se sente, se experiencia.


O carro de som atrapalha o carnaval? O calor atrapalha o carnaval? A cidade fede e fica imunda no carnaval? Sim. E a cidade canta, dança, fica colorida e vira sonho por quatro dias e noites inteiras. Estranhamente, quem sabe um dia poderá associar os cheiros desagradáveis ao carnaval e isso tudo virar parte da nostalgia da coisa num ponto do futuro objetivo e anticéptico.


Quantos meninos e meninas deram seu primeiro beijo no carnaval, graças a sabe-se Deus qual artefato de desejo e vida que se planta nos corpos? Mulheres feias encontram seu Príncipe Encantado, desesperados encontram esperanças, aleijados andam, fazem-se milagres seguidos de ressaca e até de esquecimento. Será mesmo que fiz isto, questionam-se os foliões ao fim. O que vale é no ano que vem estar de novo lá.


Seguir o bloco, bater fotografias, acompanhar o samba e não se esquecer que um dia houve corsos e marchinhas, frevos e sombrinhas. Mais uma vez, leva um ano inteiro pra sair toda a purpurina e é muito difícil se acreditar no discurso racional e moralista que tenta inutilmente espantar para o além a alegria infantil que nos caracteriza como povo brasileiro. Sonharemos, todo ano em sermos a rainha da bateria ou o mestre sala da folia, quer achem certo ou errado, bonito ou feio a força que nos arrasta aos cordões.


Este ano, quem sabe, aprendo pandeiro. Ou a andar de patins. Porque tudo combina com esta festa da carne, do suor, da alegria chamada carnaval.


No carnaval, finalmente entendemos e tiramos doutorado em democracia. Qualquer arlequim ganha um beijo da rainha de sabá.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Alô Elizabeth Maria


Veja meus cabelos pintados
Sou uma criança endiabrada
Minhas rugas cicatrizes
São caminhos pro coração
Imperatrizes fazem mapas
Dos territórios ocupados
E dos que ainda estão por conquistar
E a vida é assim

Pra saber de mim
Prefira histórias a números
Minha alma não cabe nos fatos
Sou mais do que meus documentos
E menos do que meus botões
Somados a todos os boatos
Eis que sou uma mulher

Sei fazer bolinhas de sabão
Durarem um minuto todinho
E o meu minuto nada assim tão diminuto
Cabe o sol e a terra inteiros
Rio de Janeiro de inverno a verão
Sou o bondinho do pão
Sou o trilho do trem
Areia de Copacabana
Friozinho de Terezópolis
Coisa linda é viver
Quando se sabe sonhar

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Não me Arrependo de Nada

Azar ou sorte:
A vida é sempre
nossa consorte

Vai-se o amor:
Vive a lucidez

Abandonam os amigos
Permanece a vontade

A beleza se consome
A autenticidade sobra


Nossa obra está sempre além
do que entendemos
do que esperamos

Nós vamos
os significados ficam.

Ou talvez
A cada passo
Surja um novo desafio

Desafino e é ali
Que mais canta
A minha melodia

Quando fico no meu canto
É quando a viagem começa

Aceito o paradoxo
Acato a transgressão
Recato dos que perdem
O olhar na imensidão

Os anéis se vão
A memória fica
Acaba junto conosco
O desenho do nosso rosto
Que não fez fotografia

Qual o sentido de estar
Onde não se respira?
Qual o sentido do arrependimento
quando tudo o que se fez
ficou tão bonito?