terça-feira, 10 de abril de 2012

Deus Segundo Spinoza


Deus segundo Spinoza



“Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que Eu
quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu
quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu
fiz para ti.

Pára de ir a certos templos lúgubres, obscuros e frios
que tu mesmo ergueste e que acreditas serem a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios,
nos lagos, nas praias e no coração das pessoas. Alí é onde eu, de
fato,
vivo e ali expresso meu amor por ti e por todos.

Pára de me culpar da severidade contigo: Eu nunca te
disse que há algo mau em ti ou que és um pecador, ou que tua
sexualidade é algo mau. O sexo é um presente que eu te dei para
expressares teu amor, teu êxtase, tua alegria.

Pára de ficar lendo somente supostas escrituras que mais
têm a ver com ignorância e miséria humanas do que com minha grandeza e
bondade. Há de ler-me num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, no teu filhinho...
Sim, me encontrarás em um bom livro, numa poesia, numa
obra de arte e, quem sabe, em um mendigo,num enfermo, num injustiçado,
numa folha seca.
Confia em mim, pede a ti mesmo. Ter medo de mim? Eu não
te julgo, nem te critico, não me irrito, nem te incomodo nem castigo.
Amor eu sou, puro amor.

Pára de me pedir perdão. Se Eu te fiz... eu te enchi de
paixões, de limitações e prazeres, de sentimentos, de necessidades, de
incoerências e fragilidades. Como posso te culpar se respondes a algo
que eu pus em ti? Como posso te castigar por ser como és,
se eu sou quem te fez? Meu nome é Compaixão.

Crês que eu seria capaz de criar um lugar para punir
filhos meus, pelo resto da eternidade, só porque não deram conta de se
comportarembem? Que tipo de Deus poderia fazer isso?

Esquece qualquer tipo de lei com artimanhas, a fim de
manipular-te para te controlar com castigos. Respeita teu próximo e
não faças a ele o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é
que prestes atenção à tua vida, que teu estado de alerta seja teu
guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo
no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é
o único tesouro que há, aqui e agora; isto é o único de que precisas
para crer em mim e receber da vida.

Eu te fiz livre, isto é, relativamente responsável. Não
há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém preenche
um placar. Ninguém leva um registro.Tu és condicionalmente livre para
fazer de tua vida uma dádiva ou uma ameaça, um céu ou um inferno.

Eu não te posso dizer se há algo depois desta vida, mas
posso te dar um conselho. Viva como se não houvesse... Como se esta
fosse tua única oportunidade de existir, de aproveitar, de amar.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei,
sendo correto e vivendo feliz.

E se houver, tem certeza de que eu não vou te perguntar
se foste comportado ou não. Só vou te perguntar se tu gostaste: se te
divertiste e do que mais gostaste? O que aprendeste? O bem que
fizeste?

Pára de apelar para mim - isto é supor, adivinhar,
imaginar. Eu não quero que, assim, acredites em mim. Quero que me
sintas em ti.

Sim, quero que me sintas em ti quando beijas tua amada,
quando agasalha tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando
tomas banho no mar.

Pára de me louvar! Que tipo de Deus ególatra tu
acreditas que eu seja? Aborreço-me quando me pedem desculpa. Canso-me
quando me agradecem. Tu te sentes grato? Basta isto.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o
que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que
estás vivo e que este mundo está cheio de maravilhas.

Demonstra-o, cuidando de ti, de tua saúde, de tuas
relações, do mundo. Te sentes olhando, surpreendido, admirado?
Expressa tua alegria! Este é o jeito, o único, de me louvar.
Entendeste?

Para que precisas de mais milagres? Para que tantas
explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro
de ti, nos outros, nas coisas e, sobretudo, nas relações que vives. Aí
é que estou, sempre estarei, abraçado contigo.

Baruch Spinoza.
Filósofo
1732 - 1777

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