terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Primeiro Dia


Estar apaixonada é estar alguns centímetros mais alta do que o restante do mundo. Como tudo é incrível visto deste lado. É a margem do rio por onde nunca se caminhou. É o momento onde se percebe que de todas as dez coisas que existem, tudo é mágico. O tédio, a mediocridade, achar que tudo é igual faz parte do mundo sem paixão. Não é Cristo que nos salva. Quem nos salva é o corpo da pessoa amada, nos envolvendo. Quem nos salva é o beijo na boca, o desejo no sexo, a história das cavidades e das protuberâncias. É isto que nos salva.

Estar apaixonada é enriquecer de um dia para o outro e poder andar livre e solto sem o peso das moedas. Ou os riscos do cartão. Jamais se perde a senha para se entrar no coração do outro. Mas sim, antes disso somos tolos. Antes disso temos medo: da calcinha rasgada, da meia com chulé, de não ter lido a notícia no jornal, de não saber de cor as capitais dos países do mundo, da barriga grande ou da bunda pequena, da panturrilha magra, da raiz do cabelo de outra cor, da cutícula com mais de uma semana, dos inúmeros percalços da bolsa de valores.

Apaixonar-se é descobrir, assim, de espanto, todas as moléculas do universo cabendo dentro de si. No mais, batatinha quando nasce e eu me esparramo no chão para encontrar lá no fundo de nós dois, alguma raiz que me pregue ao céu.

Um comentário:

Américo do Sul disse...

Há qtos metros andas voando acima do mundo? Ou seriam quilômetros???
Um belo olhar sobre a paixão vc tem menina...