terça-feira, 21 de abril de 2009

Inveja, Eu???


No Talk Show de Elisa Lucinda, “Parem de Falar Mal da Rotina”, a atriz pergunta num dado momento, para uma platéia de quatrocentas pessoas quem é racista e ninguém levanta a mão.

O racismo no Brasil é fortíssimo e travestido de muitas coisas. São tantos os mascaramentos do racismo que numa platéia de quatrocentas pessoas, ninguém admite que possa ser um racista.

Com a inveja sucede-se o mesmo. Sendo assim, a inveja traveste-se de sentimentos mais aceitáveis, como é o ciúme, primo feio da inveja- ou de admiração, primo bonito da inveja.

Uma pessoa pode admitir facilmente ser ciumenta, quando em verdade é invejosa. Também é mais fácil pensar-se ciumento do que homossexual. Muitas atrações homossexuais mal resolvidas também se mascaram de ciúmes- que não tem implicações de ordem social mais sérias como seria o caso de assumir-se gay ou lésbica- até hoje ainda muito discriminados.

Digamos que aquilo que as pessoas denominam de ciúme é um amálgama confuso de várias possibilidades, dentre elas a mais forte seria a da inveja.

Talvez por isso, o lugar comum da terapia do ciúme seja o reforço à auto-estima. Seja em se tratando de um ciumento como de um invejoso, o “remédio” da auto-estima tem o poder de minorar as dores deste sentimento que nem sempre se reconhece.

De fato, quem tem uma boa auto-estima não fica pegando no pé do (a) parceiro (a). Se acreditar que sou uma pessoa especial, que minha presença na vida do outro é razão de prazer e felicidade, por que pensarei que o outro irá me abandonar ou me trair?

Já estando na posição inversa, sentindo-me de menos valor, mais inseguro quanto às minhas potencialidades como homem ou mulher, todo instante é o momento certo para que me traiam e qualquer pessoa é um rival em potencial- porque não se vale nada quando se tem baixa auto-estima.

O ciúme é algo tão bizarro, que há quem tenha ciúmes do passado do (a) companheiro (a). Para o ciumento nem a morte é obstáculo para o ciúme, como era o caso de Joel que se enfurecia ao falar de um ex-namorado já falecido de sua atual esposa. Este namorado era campeão de velas, exímio instrumentista no violão, rico, levava Joana para viajar praticamente uma vez por mês a lugares os mais exóticos do globo. Aquela vida rica e movimentada que o outro proporcionava a Joana: era isso que ele sabia não ser capaz de fazer. Então, seria isso ciúme ou inveja? Difícil de saber, já que meu próprio cliente não sabia fazer esta distinção.

Para o ciumento, seu par não trabalha, não come, não dorme, não faz outra coisa salvo sair com outras pessoas e divertir-se muito. E isto pode ser inveja: inveja de uma vida movimentada e divertida que não se tem competência ou energia para realizar.

Gostar mais de si mesmo, tornar sua vida algo mais próximo e presente. Pensar que mesmo a mais insípida das rotinas pode tornar-se algo engraçado, curioso, mágico: este é o antídoto dos ciumentos, que muitas vezes, nem ciumentos de verdade o são.

Não há limite para a criatividade humana, então depende mesmo de cada um tornar sua vida, hoje mesmo, algo mais divertido e digno de ser vivido.

Agora, milagre é mais caro. Quem nada faz nada consegue. Não há uma receita de bolo pronta para incrementar sua auto-estima ou para tornar sua vida mais rica até nos seus aspectos mais repetitivos.

Se sua imaginação nada indicar, comece atravessando a rua e andando para o caminho de seu trabalho por outra calçada. Em vez de se limitar a subir e descer de elevador quando o chefe mandar suba de escadas e o faça dançando. Aliás, faça tudo dançando. Recupere os alongamentos perdidos de seu corpo, torne-o mais ágil e tonificado.

Recuse-se a fazer tudo sempre igual. Olhe para o mundo como um turista que chegou hoje ou como uma criança que vê tudo pela primeira vez- mesmo quando é a milionésima.

O segredo das pessoas interessantes é este: ser bem humorado, não por fora, como uma mera pose social, mas por dentro mesmo. Ria e dance com a vida. Logo verá que não há motivos para inveja. E que se o seu (sua) namorado (a) o (a) abandonar, quem sairá perdendo será ele (a).

Não há ninguém no mundo mais interessante do que você. Acredite.


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