Na boa? Minha geração, aquela da moçada que vestia vestidos da avó, pregava o amor livre e fazia cara feia pro pessoal da TFP (Tradição Família e Propriedade) e chamava todos os que achavam bacana estes valores de "caretas" justamente desdenhava do consumo, das posses e do sexo monogâmico.
Quando vejo as melhores cabeças pensantes do nosso país defendendo o direito dos jovens pobres da periferia de SP ao "Rolezinho" ou "Rolezaum" eu fico com meu queixo lá embaixo e penso: deuses, na guerra contra a mediocridade que nossa geração se engajou, venceram os medíocres já que para um jovem pobre da periferia o que pode haver de mais divertido é dar um rolezinho em shopping center e para os nossos intelectuais a coisa mais bacana a fazer é simplesmente defender o direito deles de fazerem isto.
Caraca, shopping center, os templos do consumo, símbolos desta sociedade onde liberdade virou sinônimo de liberdade de consumir, são os lugares mais chatos possíveis. Bons no verão porque têm ar condicionado. Mas que outra característica bacana têm estes lugares? A meu ver, nenhuma.
As lojas que vendem no Shopping Rio Sul têm zero de originalidade, todas vendem as mesmas merdas que todos os outros shoppings do Brasil e do mundo inteiro. A globalização passou por cima da originalidade de cada cultura do mundo e tornou Paris igual a Sampa, igual a qualquer lugar. As modas estão cada vez mais feiosas e de mais mau caimento.
As coisas bonitas de verdade fabricadas por estilistas geniais da Haute Couture nunca estão nos shopping centers. Nos shopping centers estão os trecos caretas, feiosos, de mau caimento, que ninguém deveria pagar um tostão. Melhor vestir velhos vestidos lindos do que novos feios. Eu pensava isto aos 18 anos quando pegava os vestidos de seda da avó e botava com sandália havaiana e continuo achando a mesma coisa hoje em dia.
Por que o pessoal não aproveita para dialogar com o pessoal que gosta de rolezinho e diz pra eles que existem outras formas de viver, outros objetivos tão ou mais interessantes do que andar em shopping center? Será que realmente agora todo mundo acha que a coisa mais importante da vida é comprar em shopping center?
Se é isto, puxa, que tristeza infinita. Penso que encaretamos geral, que após AIDS demos muitos passos para trás em todos os campos da existência possíveis e imagináveis. Penso que se o único objetivo de todos é enriquecer, pra mim, já deu. Mesmo sem acreditar em Deus, me mudo pra alguma comunidade espiritualista porque sinceramente meu maior objetivo na vida não é encher de mais lixo o planeta. As compras de hoje são o lixo de amanhã- sobretudo. Não vou lutar pelo direito ao meu filho e ao filho de ninguém a consumir mais. Pelo contrário. Quero que todos parem e pensem antes de comprar qualquer coisa: será mesmo que preciso disto? O lixo não se desmaterializa. E Shopping Center é aquele lugar que só vale a pena entrar se você tem algo objetivo para fazer dentro dele. Nem que seja só se refrescar, mas francamente, como passeio é caído pacas.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
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