Sou uma sobrevivente. Vivo sem pé, sem cabeça, sem eira, nem beira. Vivo sem trabalho, sem namorado, sem terra, sem flor, sem chão. Sonho é coisa que acontece lá num lugar aonde vivem as baratas. Tenho muito de barata, inclusive antenas. Passei tanto tempo sem palavras que minha língua virou trapo. Com as redes sociais comecei a xingar todo mundo que parecia ter tudo o que me falta, não parei mais. Não tenho história, não tenho cultura, não tenho educação. Vivo num estado intenso de falta de tudo. Inclusive devaneios. Nada leio, só bobagens, que levo muito a sério. Sobrevivo. Sem mim. Não sei quem sou nem quero saber. Sou meu selfie pregado na página que não tem papel nem nada do meu perfil do feicebuko. Vim encontrando muitos como eu. Depois de tudo, depois deste tempo de frufrus, de gente metida a sebo, seremos nós com nossas armas. Não teremos o que comer, comeremos a nós mesmos. Baratas jamais são unidas. Baratas são. Nós aprendemos com as baratas o valor do lixo. Não precisamos da civilização, até pelo contrário. Civilização nos atrapalha. Mas até a isso venceremos porque já aprendemos a digerir o baygon. Se um de nós cai, já vem mais mil. Chega de palavra. Chega de história. Chega de saber. Não sei porra nenhuma, só sei continuar. Moto contínuo, avanço incansável. Até que tropeço. Tropeço em mim. E começo a roer o pouco que de mim sobra. Eis minha obra:
terça-feira, 15 de setembro de 2015
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