sábado, 19 de outubro de 2013

Biografia Autorizada de Um Coxinha na Contramão da História



Coxinhas sempre autorizam suas biografias. Afinal, eles não ganham nada autorizando nem deixando de autorizar. A biógrafa aqui presente também não. Então vamos a elas que o tempo urge.


Coxinha Um tem hoje 61 anos. Velho demais para o rock and roll, jovem demais para morrer. Ficou super empolgado com as primeiras manifestações contra o Cabral, a quem acha um pulha que só conseguiu se safar porque tem uma esposa advogada que encobre todas as suas maracutaias. Foi na primeira e tirou fotos com sua mulher vestidos de papagaios. Olhava maravilhado para aqueles jovens, tão jovens e tão combativos. Se sua filha ainda estivesse viva, talvez ali estivesse, junto a eles. Ela também era uma menina enérgica, crítica. Infelizmente, depois de muitos anos em coma devido a um acidente de automóvel, sua pequena Rosa morrera. Coxinha Um achou um absurdo a violência policial usada contra os manifestantes e isto só aumentou sua raiva ao Cabral.


Coxinha Um tem adoração por aves e todos os fins de semana percorria as serras em volta do Rio com sua companheira para fotografar toda a fauna e flora da região. Infelizmente terá que vender todo o seu equipamento devido à tragédia que entrou pela porta da frente da sua vida usando roupa preta e máscara. Sua pequena vida. Onde não cabe uma grande tragédia porque tudo na pequena vida de um Coxinha só alcança o tamanho médio. Classe Média, Média Prosperidade, Média Pobreza, Média Consciência, Médio Engajamento, Médio Talento, Médio Tudo. Exceto Impostos. Grandes Impostos.


Começou a trabalhar na empresa !%%##$ de engenharia aos 20 anos como estagiário. Conseguiu se manter por lá por mais de trinta anos consecutivos e há cinco anos atrás foi demitido. Com o FGTS que ganhou somados às suas poucas economias comprou uma pequena loja no Centro da Cidade onde vendia livros raros, fazia xerox na sua única máquina e três computadores com internet.


Vivia modestamente. Ora, claro. Coxinha não vive de outro jeito que não modestamente porque nunca se tornam grandes empresários geniais que ganham fortunas. Então, ele vivia com dignidade e seu único luxo era mesmo seu equipamento fotográfico- comprado ao longo de anos em zilhares de prestações e com a ajuda de sua mulher.



Há duas semanas atrás, numa das manifestações, sua loja foi invadida por pessoas vestidas de preto e máscaras, seus livros queimados, seus computadores levados e sua máquina de xerox destruída. O seguro não cobriu porque não cobre eventos políticos.



Sua companheira de toda a vida adoeceu, pouco depois de junho e precisou operar de urgência numa modalidade que o plano de saúde não cobria. Sem mais recurso algum, Coxinha Um terá de vender todo seu equipamento fotográfico.


Mas quem se importa com um Coxinha salvo uma Coxinha?

Um comentário:

Américo do Sul disse...

perfeito. lúcido. translúcido...