aí você olha aquele casal feliz, com seus filhinhos rosados e bochechudos, cercados de amigos, morando naquele lugar super bacana e pensa, diante de seus 1001 fracassos amorosos e financeiros onde foi que você errou. E eu te respondo: errou muito em muitos lugares, mas sossegue, o casal errou também.
Há certas coisas que são assim: você apresenta a fotografia de um momento e acha que aquele momento foi sempre igual e será eterno.
Nada é eterno e as coisas não foram sempre assim.
É que nem estas fotos de ex obesos que a revista apresenta o cara enorme e depois a foto dele sendo triatleta com super corpo magro.
Quantas coisas acontecem entre a pessoa imensa da foto e a pessoa atlética? Quantas mil batalhas perdidas e ganhas até chegar no momento da foto? Nenhuma das noites mal dormidas saem na foto, nenhum dos momentos de angústia saem na foto. Até porque não se fazem fotos da angústia e da insônia.
O momento da foto é apenas isso: um momento. O ex obeso pode ficar magro e depois acabar engordando de novo, ou ainda deixando de ser obeso mas adquirindo depressão ou coisa que o valha.
A ideia de felicidade permanente é apenas uma ilusão. Ou você que fez a foto sorrindo permaneceu sempre sorrindo até seus maxilares quebrarem de tanta tensão pra manter o sorriso for ever? Só na foto o sorriso é eterno.
Entenda uma coisa: não existem romances de filmes na vida real. O filme é um filme. Tudo é produzido pra dar aquela impressão de coisa grandiosa e grandiloquente. A música, a iluminação, a preparação dos atores, a maquiagem, o enredo, o ritmo, a fotografia, cada detalhe de um filme é previamente pensado para ser algo que dará inveja em todas as mocinhas e deixará todos os mocinhos com tesão.
O amor na vida real é confuso.
O amor na vida real é gago, escolhe mal as palavras, derruba coisas que não podem ser derrubadas, a mocinha tem mau hálito, o mocinho tem espinhas e chulé. A gente se apaixona por figuras patéticas e quando a paixão vai embora a gente olha nossas paixões de mau hálito e chulé com toda generosidade porque nós próprios sabemos que de vez em quando temos gases, somos sujeitos e fazer foto com a casca do feijão no dente e queremos que os outros tenham compaixão de nossas próprias limitações.
A fila anda? Pessoas podem ser substituídas por outras de verdade ou trata-se da raposa dizendo que as uvas estavam verdes?
Cada vez que a fila anda é porque algo não deu certo numa relação e nós, raposas com alguma auto-estima dizemos então que a fila andou. Mas a real-real é que não há fila.
Pessoas não substituem outras jamais. Cada um é diferente um do outro e na memória afetiva guardaremos cada pessoa por quem um dia sofremos ou tivemos prazer. A fila andar quer dizer que existem outras pessoas com quem praticaremos o sexo e com quem faremos novos erros e acertos. Mas nunca serão substituídas. Felizmente, a dor pára de doer tal como o sorriso da fotografia se desvanece. A vida continua, exceto quando se morre.
O amor não tem um sentido, uma ordem. Tal como a vida. A vida é um caos mesmo. Nós damos um sentido à nossa vida porque precisamos destes sentidos, precisamos destas coisas significativas para nortearmos nossa cabeça. Mas em si nada tem um sentido. Ou se tem, ele sempre nos escapa.
Acredite numa coisa: ninguém é tão feliz assim sempre, somos felizes por instantes e estes instantes são o que faz valer a viagem. Precisamos todos aprender a sofrer sem nos desesperar, precisamos todos adquirir flexibilidade e lidar com a dor. Sem a dor, não saberíamos o que é o prazer. É porque a fome existe que o alimento tem sabor.
Faça a si mesmo um favor: não leve as coisas tão a sério. A vida é o que nos acontece quando estamos distraídos. Mesmo.
domingo, 10 de julho de 2016
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