Neste prédio onde moro, tem estas duas irmãs, bem velhinhas e extremamente lúcidas. Uma mora num andar, outra no outro. Visitam-se sempre e de vez em quando a gente vê um jornal subindo, uma panela de alguma coisa descendo. São elas se comunicando. Uma delas foi a primeira vizinha que me acolheu. Uma fofa. Ela puxou assunto comigo e falou que na minha casa só iam rapazes lindos e que se ela fosse uns 50 anos mais jovem, já teria se enturmado. Quando acontecia de eu encontrar com ela e estar com meu filho, ela revirava os olhinhos e eu podia ver que jovem danada ela deve ter sido um dia.
Já se vão anos que nós nos adoramos. Aí houve este dia, próximo da eleição, onde sei lá porque, tivemos a péssima ideia de falar de política.
Minha senhorinha querida é coxinha. Bem assim, pelo Impeachment, aquela coisa toda que eu ouço e sinto tédio. Quando ela começou a falar pensei eu com meus botões: o que vale mais, a opinião ou o carinho dela? Resposta sem nem precisar pensar: o carinho.
Confesso que já desfiz umas três amizades daqui, mas no fim das contas, só uma me impressionou. Bloquear? Perdi conta. Mas uma coisa é gente que você nunca vê, que não conhece ou conhece pouco. Outra é um caso feito o desta senhora, a quem vejo todos os dias no meu prédio e que sempre que vejo um sorriso bobo sobe ao rosto porque me faz bem ver esta senhora e seus dramas de idosa, que ela conta com tanta graça que em vez de chorar, a gente dá gargalhadas- juntas.
Vou fazer cara feia pra ela porque ela acha aquelas coisas todas que diária e sistematicamente a mídia joga na cabeça dos leitores?
Pois se até a Carta Capital virou Coxinha! Está tão na moda achar que o PT é o demônio que até uma publicação chapa branca petista virou oposição ao PT. Se eu for brigar com todos os coxinhas que encontro, vou ter um treco, vou voltar pra análise e de lá jamais sair novamente.
Claro está que estou falando dos Coxinhas, não dos barra pesadas pela volta da Ditadura Militar. Obviamente se a minha senhorinha começasse a esbugalhar os olhos e falar que era lindo o tempo dos militares eu ia sair correndo e gritando pela rua e nunca mais iria falar com ela, mesmo ela sendo fofa. Coxinhas ok, sociopatas não.
Ela fez uma cirurgia, ficou dias sem aparecer. Hoje quando a vi, fiquei super contente e brinquei "Dona Leda que bom que está aqui". Ela rápida "Não foi desta que eu fui não". E começou a falar daquele jeito engraçado dela que não tem graça ser velho porque todos os seus amigos já morreram e até os novos amigos que ela fez já começam a falar que estão com problemas de saúde aqui e ali, que ela não tem mais paciência pra estes assuntos. Neste momento eu cogitei: "será que ela quer falar de política?". Melhor não, melhor não. Não sou candidata a nada, salve salve. Aí falei da minha dor no tornozelo
segunda-feira, 20 de abril de 2015
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