Que dia esquisito... Não precisou que o céu estivesse verde. Não estava. Estava nublado. O passarinho que mora no meu ar-condicionado, chatinho ele, me acordou como sempre fazendo aquilo que ele sabe fazer muito direitinho: cantar.
Acordei. Ainda doendo o ombro, dei um jeito anteontem. Tomei banho. Passei a limpo umas coisas. Saí atrasada, como sempre, talvez um pouco mais atrasada que o habitual, para minha psicoterapia.
Pedi pra ir pela Belizário, pegar a Mundo Novo, só pra ter aquele gostinho de Pão de Açúcar, nossa belezura. Trânsito fluindo, mesmo em Botafogo. Cheguei, roubei um cream-cracker, pensei em pegar um cafezinho, achei abuso, fui logo subindo a escada. Tirei os sapatos. Entrei. Sentei entre as almofadas.
Nunca penso antes de chegar à sessão sobre o que irei falar. Deixo que a coisa role bem no estilo associação livre. Coisa que sempre fiz, muito antes de ler Freud. Repassei a semana na cabeça.
Caraca aconteceram coisas, passaram e eis que simplesmente não tinha um único problema pra contar pra minha psicanalista.
Que direito tenho eu de estar aqui, confortável entre as almofadas, tomando a hora da minha terapeuta, sem um único probleminha besta pra contar?
Apelei. Falei da recuperação no 3º trimestre do meu filho. Mas foi apelação, reconheço. Pra ele não está sendo um problema. Então, eu inventei um problema pra me sentir menos mal de estar ocupando o lugar dos infelizes, desesperados, angustiados que bate naquele sagrado recinto todo instante. Falei da recuperação e fiquei tentando me lembrar de alguma coisa bem cabeluda pra contar pra psi. Nada. Vasta e inenarrável falta de problemática.
Logicamente, com a minha infinita capacidade de encher espaços com lingüiças metafísicas, acabei arrumando assunto pra aqueles 50 minutos. Mas se tivesse ficado calada, teria dado mais ou menos no mesmo. O único e derradeiro fato sobre este dia, esta semana, quiçá este mês, é que estou inapelavelmente feliz.
Todas as coisas que sempre sonhei, fiz. Parece estranho, mas é verdade. Só me dei conta hoje. Queria fazer discos, fiz CDs. 3. Queria escrever livros, escrevi, 3 também, partindo pro 4. Queria ser famosa, fiquei, tá lá no Google, quem não acredita, experimente digitar Cynthia Dorneles pra ver se não aparece. Aparece. Montes de páginas. Queria ter filho, tive. Um. Queria ter cachorro, tive. Um. Queria morar na General Glicério, moro. Fiz tudo.
E agora faço o quê? To jovem demais pra bater as botas. Tenho de inventar algum novo sonho? Reclamar de defeitos minimalistas que a vida não me trouxe estilo jamais fui à Jamaica? Preparar-me pra desencarnar? Tentar alcançar o Nirvana em sete semanas? Emagrecer 10 quilos até dezembro? Qual meta será suficientemente impossível pra me garantir ao menos uns três anos de psicanálise?
Ah, como é gostoso andar pelas ruas poluídas do Rio de Janeiro quando se sabe que há dinheiro na carteira pra tomar um taxi, se tiver vontade. Ah, como é gostoso dormir sozinha quando se sabe que arrumar companhia é só uma questão de telefonar. Ah, como é gostoso comer só um mamãozinho quando se sabe que a geladeira está cheia. Até a dorzinha no ombro não é lá grandes coisas. Dá um sabor à quinta feira.
Hoje vou ouvir samba na Urca. Aos pés do nosso cartão postal, em excelente companhia. Sinceramente, se reclamar? É porque sou uma chata. Chata redonda, a pior espécie de chatos. Abaixo às calcinhas e viva o beijo na boca. A vida é mais que bela. A vida é surpreendente. Reclamar só quando houver motivos. Este é meu lema. Sou louca? De pedra. Vontade das pedras de cair.
Acordei. Ainda doendo o ombro, dei um jeito anteontem. Tomei banho. Passei a limpo umas coisas. Saí atrasada, como sempre, talvez um pouco mais atrasada que o habitual, para minha psicoterapia.
Pedi pra ir pela Belizário, pegar a Mundo Novo, só pra ter aquele gostinho de Pão de Açúcar, nossa belezura. Trânsito fluindo, mesmo em Botafogo. Cheguei, roubei um cream-cracker, pensei em pegar um cafezinho, achei abuso, fui logo subindo a escada. Tirei os sapatos. Entrei. Sentei entre as almofadas.
Nunca penso antes de chegar à sessão sobre o que irei falar. Deixo que a coisa role bem no estilo associação livre. Coisa que sempre fiz, muito antes de ler Freud. Repassei a semana na cabeça.
Caraca aconteceram coisas, passaram e eis que simplesmente não tinha um único problema pra contar pra minha psicanalista.
Que direito tenho eu de estar aqui, confortável entre as almofadas, tomando a hora da minha terapeuta, sem um único probleminha besta pra contar?
Apelei. Falei da recuperação no 3º trimestre do meu filho. Mas foi apelação, reconheço. Pra ele não está sendo um problema. Então, eu inventei um problema pra me sentir menos mal de estar ocupando o lugar dos infelizes, desesperados, angustiados que bate naquele sagrado recinto todo instante. Falei da recuperação e fiquei tentando me lembrar de alguma coisa bem cabeluda pra contar pra psi. Nada. Vasta e inenarrável falta de problemática.
Logicamente, com a minha infinita capacidade de encher espaços com lingüiças metafísicas, acabei arrumando assunto pra aqueles 50 minutos. Mas se tivesse ficado calada, teria dado mais ou menos no mesmo. O único e derradeiro fato sobre este dia, esta semana, quiçá este mês, é que estou inapelavelmente feliz.
Todas as coisas que sempre sonhei, fiz. Parece estranho, mas é verdade. Só me dei conta hoje. Queria fazer discos, fiz CDs. 3. Queria escrever livros, escrevi, 3 também, partindo pro 4. Queria ser famosa, fiquei, tá lá no Google, quem não acredita, experimente digitar Cynthia Dorneles pra ver se não aparece. Aparece. Montes de páginas. Queria ter filho, tive. Um. Queria ter cachorro, tive. Um. Queria morar na General Glicério, moro. Fiz tudo.
E agora faço o quê? To jovem demais pra bater as botas. Tenho de inventar algum novo sonho? Reclamar de defeitos minimalistas que a vida não me trouxe estilo jamais fui à Jamaica? Preparar-me pra desencarnar? Tentar alcançar o Nirvana em sete semanas? Emagrecer 10 quilos até dezembro? Qual meta será suficientemente impossível pra me garantir ao menos uns três anos de psicanálise?
Ah, como é gostoso andar pelas ruas poluídas do Rio de Janeiro quando se sabe que há dinheiro na carteira pra tomar um taxi, se tiver vontade. Ah, como é gostoso dormir sozinha quando se sabe que arrumar companhia é só uma questão de telefonar. Ah, como é gostoso comer só um mamãozinho quando se sabe que a geladeira está cheia. Até a dorzinha no ombro não é lá grandes coisas. Dá um sabor à quinta feira.
Hoje vou ouvir samba na Urca. Aos pés do nosso cartão postal, em excelente companhia. Sinceramente, se reclamar? É porque sou uma chata. Chata redonda, a pior espécie de chatos. Abaixo às calcinhas e viva o beijo na boca. A vida é mais que bela. A vida é surpreendente. Reclamar só quando houver motivos. Este é meu lema. Sou louca? De pedra. Vontade das pedras de cair.
Nenhum comentário:
Postar um comentário