a primavera chegou mas as flores não sorriram
agosto não terminou
homens tristes arreganham os dentes
vorazes
e vazios
o dia de hoje trata-se de escolher
qual miséria lhe interessa mais
calar todos os gritos
sufocar todas as lágrimas
seguir em frente
quando o caminho teima em ir para trás
vivemos num labirinto
sem leste nem oeste
estibordo nem bombordo
não há nascer do sol
e as sombras tomam conta de tudo
nascem os pássaros
não se ouve um pio
só aprendemos a circular
nosso único norte
parece ser nosso próprio umbigo
o Brasil foi feito para ser brasa
mas é de cinzas coberto
não me falem em destino
quando um dia houve em que tanto poder
foi jogado no ralo
a mim parece um desatino
serem os juízes os maiores ladrões
e os réus não santos
mas muito mais probos
de que valem as leis?
de que vale a honestidade?
de que vale um voto?
aqui só sabem dar socos
chutes e pontapés
sabemos tantos palavrões
e nenhuma palavra
lavra teu buraco
verme que nunca viu a luz
lavra mais
voltas pro pó aonde viestes
criatura sem viço nem cor
volta pra tua cova
e que esta seja rasa
como tua vida
aonde jamais veio luz
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
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