A Borboleta Azul, a Tartaruga e o Sanhaço
Tem umas histórias que conto umas mil vezes porque adoro lembrar delas.
A primeira se passou quando eu era criança. Estava no Parque da Cidade. Já tinha dúvidas existenciais nos meus sete gorduchos anos. Me perguntava sobre a existência de Deus e principalmente sobre a minha. Estava muito impressionada com a foto da menina nua vietnamita correndo. Pensava que não era possível existir Deus se aquilo acontecia com uma menina que devia ter a minha idade. Aí eu vi uma borboleta azul. Saí correndo atrás dela. Nada de pegar. Aí sentei e pensei: se Deus achar que eu tenho uma missão no mundo a borboleta virá sozinha pousar na minha mão. E fiquei lá bem paradinha. Depois de um tempo a borboleta azul veio por si só e pousou de fato na minha mão. Desde então eu sei que tenho uma missão importante.
A segunda história que gosto de contar era uma em que eu tinha acabado de correr no Aterro e vi ao longe um homem na beira do mar com alguma coisa redonda e grande. Fui até a areia, tirei o tênis e era um cara com uma imensa tartaruga marinha. Ele era um pescador e a tartaruga havia ficado à noite toda presa na rede se debatendo. Estava muito cansada e se ele não ficasse ali com ela a bichinha afundaria e morreria. Aí ele estava muito nervoso porque temia que algum fiscal do IBAMA o visse e o multasse por pesca ilegal a uma espécie em extinção. Então me ofereci pra ficar com ela. Ele me ensinou o que eu deveria fazer e eu fiz. Retirava a cabeça dela pra fora da água e a deixava respirar.
Não sei por quanto tempo fiz isso. As crianças vieram brincar conosco muito impressionadas. Todas queriam ajudar a mim e a tartaruga. Tiramos ela da água, deixamos na areia tomando sol, pusemos de volta. Ficamos ali na função respiração de tartaruga um tempão. Até que finalmente ela começou a mexer as patas com mais força. Quando vi que ela estava mesmo bem forte soltei. E ela nadou lindamente pro fundo. Eu e as crianças ficamos felicíssimas e imaginamos tudo o que a tartaruga faria agora que estava livre. Que teria filhotes. Que um dia nadaria conosco. Acho que já nadei com ela em Fernando de Noronha. E ela tinha filhotes.
A outra história era do meu ar condicionado do meu antigo apartamento na General Glicerio.
Um belo dia começou a rolar um alvoroço de passarinho. Uns fiapos. Uns trecos. Sons de asas. Um tempo depois, piados. Meu ar condicionado era um ninho de uns passarinhos meio verdes que depois descobri serem sanhaços perguntando pros ornitólogos de plantão. Haviam alguns filhotes. Eram 3 criaturas. Olhei pelo buraquinho. Eles piavam muito. Não me deixavam dormir às vezes. Aí peguei o hábito de falar com eles. Não é que eles prestavam atenção em mim? Acalmavam. Aí finalmente apareciam os pais (onde estavam? Na balada? Por que não vinham dar comida pros carinhas? Falta de inseto? Falta do que?) e eles comiam e dormiam todos.
Isto durava semanas. Aí um dia o ar ficava silencioso e eu sentia falta dos meus bichos fazendo algazarra. Não por muito tempo. Fizeram 3 vezes ninho no meu ar. Era um caos. Eu curtia.
Quando mudei pro Flamengo fiquei muito preocupada com meus parentes sanhaços. Aonde fariam seus ninhos da próxima vez?
Até hoje olho os sanhaços e me pergunto se vem lá das Laranjeiras. Mando lembranças.
domingo, 5 de novembro de 2017
Bordadinhos da Vida
Bordo e as violetas florescem
O gato vem brincar
Com os novelos de lã
E eu faço nó nos meus pensamentos
Uma fada boa de mãos dadas com uma ruim
Ambas rindo de mim
Dedos furados na agulha
Versão contemporânea dos velhos contos
Em vez de dormir
Vou ao cinema
No lugar do príncipe
Aguardo ansiosa a nova geladeira
A antiga pifou e só serve pro gato brincar de esconder
O gato vem brincar
Com os novelos de lã
E eu faço nó nos meus pensamentos
Uma fada boa de mãos dadas com uma ruim
Ambas rindo de mim
Dedos furados na agulha
Versão contemporânea dos velhos contos
Em vez de dormir
Vou ao cinema
No lugar do príncipe
Aguardo ansiosa a nova geladeira
A antiga pifou e só serve pro gato brincar de esconder
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